Vimos "Golpe de Sorte": o regresso de Woody Allen
O acaso e o efeito libertador ou trágico que este opera na vida das pessoas é um dos temas favoritos de Woody Allen. E é também o tema do seu 50º filme, que será, talvez, o último.
Às vezes é assim. Os casamentos são bons, até que começamos a vê-los de fora, pelos olhos dos outros, ou pelos olhos que tínhamos há 20 – que são, por definição, também os olhos do outro. Daí a começarmos a pensar em tráfego existencial é um salto: "E se naquela encruzilhada eu tivesse virado à esquerda em vez de à direita?... Onde é que eu teria ido parar?..." Ou, como pergunta Fanny, a protagonista do mais recente filme de Woody Allen, Golpe de Sorte: "Como seria a minha vida hoje se ele tivesse falado comigo nos tempos de liceu?" Pergunta perigosa para uma mulher casada que calha – e muito neste filme é "obra do calhar", no melhor sentido possível – a cruzar-se com um ex-colega de liceu, Alain – o "ele" desta história –, que era apaixonadíssimo por ela, mas nunca lho disse. E depois, durante cerca de metade do filme, não lhe diz outra coisa: como ela era linda, como tinha uma presença luminosa, como ficava embasbacado cada vez que ela passava, com o calhamaço da Anna Karenina entalado debaixo do braço. (E se há coisa que Anna Karenina fez, foi entalar-se.)
Não há mais conversa nenhuma entre eles a não ser quão incrível é o seu reencontro. Como a vida é cheia de sorte, azar, acasos e coincidências. E, novamente, como ela era linda e como ele perdia o fôlego cada vez que a via deslizar pelos corredores. Não há grande mérito nesta conquista. Ele está enamorado do que podia ter sido, se a coragem não lhe tivesse faltado, ela está enamorada da rapariga que foi em tempos e da promessa que isso encerrava. Sente saudades de si própria e nem sabia, e ali aparece um fio que a liga a essa pessoa que já partiu. O "fio", evidentemente, é um escritor de boa aparência, cabelo farto e revolto, sem horários nem obrigações, espontâneo e romântico, que vive numa bonita e aconchegante mansarda parisiense, onde trabalha com afinco no seu próximo romance, que escreve à moda antiga: com papel e caneta. O que é que há para não se gostar? (Depende do ponto de vista.)
Do outro lado do ringue temos outro compósito de clichés: Jean Fournier. Um marido rico, envolvido em negócios escusos, com um cabelo muito bem penteadinho, que gosta de caçar veados bonitos e pestanudos, trata a mulher como um troféu, tem uma obsessão com o controlo e com a imagem, com amigos que só têm conversas fúteis e não são lá grandes amigos, e que afastou os amigos da mulher com snobismos e ergueres de sobrancelha. O que é que há para não se detestar?
A frescura aparece na forma da mãe de Fanny, uma espécie de Horatio que tenta manter a filha com os pés assentes na terra – tão bem-sucedida nisso quanto o outro a conter a fúria homicida de Hamlet –, mas que, qual relógio parado, só está certa duas vezes por dia. E isso é quanto basta para empurrar a trama para um desfecho inesperado.
Golpe de Sorte, um melodrama no mesmo comprimento de onda que Match Point, é o 50º filme de Woody Allen e é provável que seja o último. Numa entrevista recente ao Expresso, disse estar cansado de correr atrás de financiamento, e que, se dependesse só de arranjar histórias, não faltariam filmes: "Ideias não me faltam. Já fiz 50 filmes, talvez pudesse fazer 75."
Allen tornou-se alvo de cancelamento nos Estados Unidos quando, em 2018, pleno apogeu do movimento #MeToo, voltou a vir a lume uma acusação antiga: Dylan Farrow a sua filha adotiva com Mia Farrow, diz que ter sido sexualmente abusada por ele quando tinha sete anos, acusação que ele sempre negou e que a justiça não encontrou indícios de que tivesse pernas para andar. Daqui decorre a sua dificuldade não só em financiar os seus filmes, como em encontrar atores para trabalhar. Razão pela qual este filme, passado em Paris, é o primeiro totalmente falado em francês.
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