Um palacete transformado em loja que vende obras de arte, plantas e mobiliário
O Lx Lapa, que foi casa dos jesuítas portugueses durante vários anos, é agora uma loja de mobiliário, uma galeria, uma casa de plantas, uma carta de amor à Arte. Tudo junto em interiores lindíssimos, que evocam outros tempos e histórias.
Sérgio e Filipa Cândido Pinheiro esperam-nos no número 14 da rua Maestro António Taborda, morada de um antigo palacete na Lapa erguido nos anos 20 do século passado, que durante anos foi a casa dos jesuítas portugueses. São eles os responsáveis pela mais antiga revista portuguesa, sem interrupção, a ser editada, a Brotéria, de inspiração religiosa e científica e publicada desde 1902. Recentemente, os jesuítas sairam do palacete (mudando-se para São Roque, no Chiado). Agora, o palacete é palco da imaginação e dos sonhos de Filipa e Sérgio, uma loja a que chamaram de Lx Lapa.
Sem tocar na imponente fachada do edifício, os mentores do Lx Lapa ocuparam dois pisos com uma loja conceptual que reúne uma seleção de plantas, arte e mobiliário de meados do século XX. "Em relação à arte temos uma parceria com a galeria Filomena Soares, em que temos obras de artistas como Pedro Barateiro, João Penalva, Igor Jesus, ou Helena Almeida. Paralelamente, temos um outro projeto com jovens artistas, não necessariamente todos portugueses, mas vivem todos cá" explica Filipa, que no dia da nossa visita prepara a inauguração de uma exposição na galeria de arte de jovens artistas no andar térreo do palácio, junto aos jardins interiores do edifício. Que por sinal darão lugar a uma cafetaria que todos poderão visitar em breve.
"Inicialmente uma comunidade de escritores, o edifício foi morada dos jesuítas desde os anos 30. Mais tarde, nos anos 50, sentiram necessidade de construir um segundo edifício para albergar a biblioteca. O palacete era a redação da revista, do outro lado era onde viviam." Filipa e Sérgio conservaram alguns detalhes que pertenciam aos jesuítas, como as estantes de livros altíssimas que tinham na sua biblioteca ou até o quadro embutido na parede do refeitório onde havia um compartimento para cada um, para guardar os respetivos medicamentos. Todos os detalhes, que mesclam tendências de todas as décadas do século passado, fazem desta uma viagem encantadora pelo mobiliário - já que cada peça tem uma história, deve e pode perguntar por ela - ao mesmo tempo que o cenário repleto de plantas nos remete para um contexto exótico.
Filipa é formada em Engenharia do Ambiente e Sérgio em Gestão. Durante vários anos dedicaram-se às respetivas áreas, até que arriscaram na hotelaria ao arrendar o antigo apartamento para alojamento local. Quando ficaram com a concessão do Lx Lapa queriam transformá-lo num hotel de cinco estrelas, mas o projeto ainda está em aprovação. "Com a pandemia, pensámos que tudo se acelerasse. Assim, fizemos um pequeno teste e vimos que apesar do contexto havia potencial para ter o que temos. É uma paixão dos dois, sempre compramos mobiliário por hobby, e a mesma coisa com a arte," conta Filipa, sobre como nasceu a loja.
"Sempre gostámos de arquitetura, decoração, design, e na hotelaria tínhamos a necessidade de decorar " explica, por sua vez, Sérgio. "No fundo, não é só a decoração que faz a loja, mas também o lugar onde esta está inserida. É o último sítio onde se esperaria abrir uma loja, e está fora das ruas mais populares da cidade. Quisemos transformar isso em algo inesperado, especial." Por entre corredores e salas, vamos encontrando essa imprevisibilidade em objetos como trampolins, cadeiras nórdicas, chaises longue, tabuleiros indianos de amassar o pão, candeeiros, tripés antigos que fazem de suporte de vasos, placards, armários - a variedade, no que toca às peças de decoração, é incontável, tal como os seus usos variados: um tabuleiro pode ser uma fruteira, um banco pode ser uma mesa. Basta imaginação.
Quanto ao mobiliário, encontramos peças dos quatros cantos do mundo, tendo as últimas sido compradas na Holanda, Bélgica, França e Alemanha, com origem noutros locais como Roménia, da antiga Checoslováquia, Escandinávia ou Japão. "Começámos por investigar como restaurar peças. Somos nós que fazemos e aprendemos com uma pequena equipa a fazê-lo" diz Sérgio. Há inclusive uma sala no palácio onde são feitas limpezas e tratamentos mais profundos a determinadas peças, e outra com um estúdio de fotografia. Entre escadarias, salas várias e recantos, há espaço para tudo, a começar peças ideias insaciáveis de Filipa e Sérgio.
A nova exposição insere-se no ciclo Reflection Upon Space, Parts I & II, que por sua vez se divide em duas exposições que apresentam o trabalho de 16 artistas emergentes, a primeira teve início a 13 de maio e a segunda acontece a partir de 8 de julho.
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