Leonard Cohen, o mulherengo compulsivo
Segundo um novo livro, o charme e o talento magnéticos do cantor atraíram Joni Mitchell, entre muitas outras mulheres – e foram elas que inspiraram as melhores canções de Cohen. por james hall
Leonard Cohen era o mestre das letras sombriamente românticas. O cantor canadiano, que morreu em 2016 com 82 anos, impregnou de intensa paixão canções como Chelsea Hotel #2, Sisters of Mercy e So Long, Marianne, que eram, alternadamente, lindíssimas, melancólicas, tristes e sexualmente explícitas. Os seus desejos também ardiam fortemente: "se queres um amante / farei tudo o que me pedires", dizia ele na sua canção I’m Your Man, de 1988, com a sua famosa voz arrastada de barítono.
Mas um novo livro sobre Cohen põe a nu o quão enevoada, frenética e ocasionalmente destrutiva foi realmente a sua vida amorosa. Leonard Cohen, Untold Stories: The Early Years, do jornalista e escritor Michael Posner, traça a sua ascensão, desde os tempos de poeta e romancista em dificuldades, em finais de 1950, até ao início da sua primeira tournée internacional enquanto cantor, em 1970. Apresentado sob a forma de entrevistas, é o primeiro de três volumes baseados em mais de 500 conversas com pessoas que conheceram Cohen.
O que surge é a imagem de um talento extraordinário que era também um mulherengo compulsivo, que tinha fobia a compromissos e que traía as suas companheiras. O livro é um relato vertiginoso sobre a interação entre ardor e arte. Uma sucessão de mulheres, desde a sua intermitente companheira Marianne Ihlen até à dançarina Suzanne Verdal, passando pela cantora Janis Joplin, elas foram musas para Cohen – e isto sempre soubemos. Mas a extensão dos seus inúmeros relacionamentos poderá surpreender até o mais fervoroso dos "Cohen-ologistas".
Ele era "um mestre da sedução" que "saltitava por entre mulheres" , segundo relatos do livro. "Mulheres bonitas e extravagantes (...) pululavam em redor do Leonard", recorda Aviva Layton, que foi amiga do cantor durante 50 anos. Quando Posner escreve que o cantor "ia atrás de todas as mulheres bonitas que via", sente-se nessas palavras que não se trata de um grande exagero.
Leonard Cohen teve casos com mulheres como Joni Mitchell e Judy Greenblatt, sua conterrânea de Montreal. "Não é possível dar conta de todas as mulheres que Cohen teve", disse a Posner um produtor televisivo chamado Bernie Rothman, que era amigo do cantor.
Posner apresenta a imagem de um homem que foi o produto do seu tempo mas que, ainda assim, também estava um pouco à frente do seu tempo. Nascido em 1934 no seio de uma abastada família judaica em Westmount, arredores de Montreal, Cohen resistiu a entrar no negócio têxtil da família e construiu um percurso como poeta, enveredando por território desconhecido no lento emergir dos tempos de boémia de finais da década de 1950, inícios dos anos 1960.
Cohen enfeitiçava as mulheres. A atracão que sentiam por Cohen estava naquilo que ele representava, já que era simultaneamente um outsider e um prodígio. O seu primeiro livro de poesia, intitulado Let Us Compare Mythologies, foi publicado em maio de 1956 e trazia 44 poemas escritos entre os seus 15.º e 21.º aniversários.
Mas o seu magnetismo também derivava de um carisma imenso. O seu charme tranquilo, o seu intelecto e intensidade encantavam as pessoas. "Eram como borboletas nocturnas atraídas pela luz", diz uma ex-namorada, Michele Hendlisz Cohen. A sua necessidade de ser amado poderia, em parte, dever-se às inseguranças que tinha em relação à sua aparência física; era baixo e "não tinha um ar fantasticamente bem parecido nem um grande corpo", como o descreveu uma pessoa no livro de Posner. Mas essas carências poderão ter precisamente pesado na sua compulsão para espalhar charme.
Se fosse analisada com as lentes de hoje, a atarefada vida romântica de Cohen seria interpretada de maneira diferente. Enquanto escritor, Posner não faz quaisquer juízos de valor (e nisso é ajudado pelo formato do livro, que assenta em citações diretas, um mecanismo distanciador que deixa aos leitores essa decisão).
Mas um episódio que ocorreu dois anos antes do Summer of Love [Verão do Amor; fenómeno social com manifestações em várias partes do mundo – a ideia era mudar o mundo com amor] de 1967 parece encapsular a atitude dominante daquela época. Anne Coleman, escritora canadiana e amiga de Cohen dos tempos da universidade, recorda-se de ele se aproximar dela, numa festa em 1965, e de ter acariciado intencionalmente a sua barriga antes de começar a falar. "Foi um daqueles momentos à anos 60 – muito típico nas festas daquela altura. Hoje em dia poderia ser visto como assédio sexual. Mas decididamente não era".
"Não havia nada no Leonard que nos fizesse pensar que ele faria algo que não seria bem recebido. Era um reconhecimento sensual", acrescenta Anne Coleman.
A longa relação intermitente de Cohen com Marianne Ihlen é um dos principais focos do livro. Foi ela que inspirou o tema So Long, Marianne, uma das canções mais conhecidas de Cohen, e mais umas quantas. Vivida em grande parte na ilha grega de Hidra, um idílio do movimento Beatnik [movimento sociocultural dos anos 50 e princípios dos anos 60 que defendia um estilo de vida antimaterialista], a relação de ambos foi intensa e apaixonada.
A primeira vez que Cohen ouviu falar de Hidra foi em Londres, através do banqueiro Jacob Rothschild, cuja mãe lá vivia naquela época. Cohen visitou a ilha em 1960 e apaixonou-se pelo local. "Era como se todos fossem jovens, bonitos e cheios de talento – cobertos por uma espécie de ouro em pó", disse ele. Foi também ali que conheceu e se apaixonou pela norueguesa Ihlen, que tinha um filho pequeno, Axel. A relação de Cohen e Ihlen foi por vezes tão tóxica quanto a troca de parceiros e a maledicência que escorriam sob o cintilante sol do mar Egeu.
A modelo Madeleine Lerch recorda-se de ter visitado Hidra em 1961. "Não sei se o Cohen e a Marianne tinham rompido, mas havia toneladas de mulheres na vida dele", conta Lerch. "Todos iam para a cama com todos. Os casamentos eram relações abertas. Foi verdadeiramente uma época dolorosa e emocionalmente perigosa", comenta, por seu lado, Aviva Layton.
O livro de Posner suscita duas questões que lançam uma luz potencialmente repulsiva sobre aquela relação. Mas ressalve-se, uma vez mais, que o livro foi escrito no formato de conversa, pelo que não há nada que ateste a veracidade do que foi dito pelos entrevistados.
A primeira questão está no facto de alguns amigos dizerem que Cohen deu LSD a Axel, o filho de Ihlen. Posner considera ser "extremamente improvável" que isso tenha acontecido, mas é algo que nos dá uma perspetiva do descontraído hedonismo daquela época.
A segunda questão diz respeito ao aborto. Cinco conhecidos de Cohen afirmam no livro que Ihlen, que também morreu em 2016 [uns meses antes de Cohen], fez inúmeros abortos porque Cohen não queria filhos. O que vai ao encontro de informações que apontam nessa direção, no documentário Marianne & Leonard: Words of Love, feito em 2019 pelo cineasta Nick Broomfield, com quem Ihlen teve uma relação. "Ela sabia que o Leonard não queria ter filhos e não quis tornar-se um fardo para ele", diz Aviva Layton.
Enquanto estava com Ihlen, Cohen teve muitos casos. Cohen tinha dois pesos e duas medidas no que toca à fidelidade: ele podia trair à vontade, mas as suas companheiras não. Uma das namoradas que teve enquanto mantinha um relacionamento com Ihlen foi Wendy Patten Keys. Wendy conta que Cohen ficou "furioso" com ela por não lhe ter sido fiel quando ele esteve fora da Grécia. Ele escreveu um poema chamado Why I Happen To Be Free que Wendy Patten Keys acredita ser sobre ela. "Renunciar àquela adorável rapariga / não era a minha intenção / mas ela deixou-se dormir na cama de outra pessoa" ["Forsaking the lovely girl / Was not my idea / But she fell asleep in somebody’s bed"], escreveu Cohen. A vida era emocionalmente traumática para as suas amantes. "Sentia a todo o momento que estava a partilhá-lo", salienta Patten Keys.
De qualquer modo, a relação entre Cohen e Ihlen foi-se desvanecendo à medida que a década de 1960 se aproximava do fim. "O amor cultivado na ilha de Hidra é, por definição, um amor condenado", explica Barrie Wexler, amigo de Cohen. Em julho de 1967, Cohen conheceu Joni Mitchell no Festival Folk de Newport, onde ambos atuaram, e acabaram por ter uma relação que durou quase um ano.
Mais tarde, Mitchell falou sobre Cohen num tom depreciativo. "Gostei do Leonard Cohen por breves momentos, mas assim que li Camus e Lorca comecei a perceber que ele tinha retirado muitas ideias desses livros, o que me dececionou imenso", declarou.
Foi também em 1967 – se bem que alguns relatos situem esta história em 1968 – que Cohen conheceu Janis Joplin, no elevador do Chelsea Hotel, em Nova Iorque. Ela disse estar à procura de Kris Kristofferson. Cohen respondeu: "Minha querida, estás com sorte. Eu sou o Kris Kristofferson". Passaram a noite juntos, tendo Cohen escrito sobre esse encontro na canção Chelsea Hotel #2. "Recordo-me bem de ti no Chelsea Hotel / falavas de uma forma tão admirável e doce / fazendo-me sexo oral na cama desfeita / enquanto as limusinas esperavam na rua" ["I remember you well in the Chelsea Hotel / You were talking so brave and so sweet / Giving me head on the unmade bed / While the limousines wait in the street"], cantou ele. Também Joplin foi posteriormente pouco elogiosa na forma como se referiu ao encontro de ambos.
Também houve alguns desencontros amorosos. Cohen ficou obcecado com a cantora alemã Nico, uma discípula de Andy Warhol e membro ocasional da banda Velvet Underground. Mas ela rejeitou-o [e ficaram amigos]. Cohen alcunhou-a de "Marlene Dietrich do rock niilista", ao passo que Andy Warhol chamou ao primeiro álbum de Cohen "Nico com bigodes" [devido à influência que a sua música e amizade teve nele]. Ela é tida como a inspiradora de pelo menos duas canções de Cohen, Take This Longing e Joan of Arc.
Há também uma longa passagem no livro, resultante da conversa com uma artista chamada Barbara Dodge, que diz que Cohen tentou seduzi-la, demoradamente, no andar de cima da casa da mãe dele, quando ela tinha 17 ou 18 anos (e ainda era virgem). O encontro foi mais tarde mencionado num poema de Cohen, The Energy of Slaves.
O Cohen que vemos no livro de Posner é como que um mago de outro mundo que viveu, parafraseando-o, "à base de algas e anfetaminas". O seu encanto foi (quase) total. Viveu em perpétuo movimento; e viveu uma vida de busca constante. Foi essa sua procura que o fez saltar do judaísmo para a cientologia e para o budismo zen; foi essa sua procura que o fez saltar da poesia para os romances e para a música; e foi essa sua procura que o fez saltar de cama em cama.
Tudo o que tem a ver com a aura e a era de Cohen está habilmente resumido numa curta história no livro. Jacquie Bellon, amiga do cantor e primeira mulher do escritor norte-americano Steve Sanfield, conta a Posner que Cohen ficou em casa dela e de Sanfield em Santa Barbara, em 1967 ou 1968, quando eles ainda eram apenas namorados. Nada aconteceu entre Cohen e Bellon, embora ela diga a Posner que "havia, decididamente, uma atração mútua".
Bellon faz depois um comentário quase como que de passagem. Mas há um detalhe nessa afirmação despreocupada que diz muito sobre o impacto que este mulherengo improvável provocava no sexo oposto. "Quando [Cohen] foi embora, deixou ficar uma camisola preta, de gola alta, de design italiano. Ainda hoje a tenho. É muito pequena".
Créditos: James Hall/ The Telegraph
Tradução: Carla Pedro
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