Exposição. Rodney Smith e a alquimia do otimismo
Até 25 de maio, está patente no Centro Cultural de Cascais uma retrospectiva inédita que reúne mais de 100 imagens deste fotógrafo norte-americano. Com um pé no surrealismo e outro na busca pela beleza divina, Smith foi, acima de tudo, um otimista. E isso nota-se.

O Centro Cultural de Cascais continua a consolidar a sua posição como importante pólo de divulgação fotográfica. Depois de exposições que apresentaram o trabalho de Stanley Kubrick, Vivianne Maier e Nicholas Nixon, entre outros, é agora tempo e ficarmos a conhecer a vida e obra de Rodney Smith, fotógrafo norte-americano nascido em 1947 e que morreu em 2016, aos 68 anos. Ao longo de mais de 45 anos de carreira, Smith, longe das convenções modernas da fotografia documental ou do realismo, foi capaz de criar uma linguagem única para refletir a sua visão bela e otimista do mundo. "Rodney Smith – A Alquimia da Luz" é uma exposição inédita em Portugal e pode ser visitada até dia 25 de Maio.

Rodney Smith é famoso pelas suas imagens que equilibram surrealismo, estilo e inteligência, transportando o observador para cenários suspensos entre a realidade e a fantasia. Smith oferece cenas meticulosamente construídas, histórias e narrativas fantásticas, curiosas, paradoxais e românticas, que fazem o mundo parecer mais claro e nítido, encontrando a ordem no caos.

Tessa Demichel, que esteve presente na inauguração da exposição em representação da curadora Anne Morin, com quem trabalha, explicou à Must que as fotografias de Smith não são documentais: "Ele não captura imagens espontâneas. Cria cenas que cruzam o surreal com a vida quotidiana. Na verdade, o seu trabalho é frequentemente comparado com o do [pintor surrealista] René Magritte. Porque, de facto, há um ponto de vista surrealista nas suas fotografias. [...] Há muitas imagens que nos remetem para o universo de Alice no País das Maravilhas. E há fotografias muito engraçadas, divertidas. Smith procurava despertar emoções e sentimentos. Há muita melancolia e introspeção, no seu trabalho, mas também muito humor. Às vezes consegue ser mesmo cómico."

Nascido em Nova Iorque, Rodney Smith encontrou a sua vocação artística ao visitar a coleção de fotografia do MoMA durante a juventude. Na Universidade de Yale, tirou um mestrado em Teologia e uma especialização em fotografia lecionada pelo aclamado fotógrafo e fotojornalista Walker Evans. O interesse pela teologia, porém, parece ter contribuído para a sua forma muito especial de ver o mundo. Tessa Demichel acredita que isso está ligado ao facto Smith estar sempre "à procura de um tipo de beleza divino". E acrescenta: "Rodney Smith é um fotógrafo extremamente optimista que está à procura da beleza na vida quotidiana. A determinada altura disse mesmo que o seu objetivo era, através da fotografia, criar um mundo como o nosso, mas melhor. Que o mundo poderia ser perfeito, se as pessoas dessem o seu melhor. E era isso que ele procurava. Tanto na sua vida, como na sua arte."

Sobre o que inspirava o fotógrafo, Demichel explica que "no seu trabalho, encontramos muitos pontos de contacto com a filosofia e a literatura, mas há também uma inspiração e um ponto de vista cinematográfico nas suas fotografias. A composição das imagens, as linhas, o jogo de sombras, as personagens, é tudo muito cinemático. E, às vezes, há imagens que nos chegam mesmo a remeter para personagens ou cenas de filmes que todos temos no nosso imaginário."
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Rodney Smith, ficamos a saber lendo a informação que acompanha a exposição, capturava as suas imagens em filme, iluminadas com luz natural, e nunca retocava as fotografias". Algo que Tessa Demichel confirma dando um exemplo concreto: "De facto, nas suas fotografias não há retoques, não há pós-produção. Por exemplo, aquela fotografia que abre a exposição, com um homem a saltar por cima de um enorme rolo de feno, parece que o homem foi ali posto com Photoshop. Mas não. Rodney pediu-lhe simplesmente que subisse para cima do rolo, se pusesse em pé e depois saltasse. É assim que ele cria histórias dentro das fotografias. É, ao mesmo tempo, mais criativo e mais espontâneo."

Smith começou a sua carreira como foto-ensaísta. No entanto, em meados da década de 1980, após a publicação do seu primeiro livro, In the Land of Light, o seu trabalho começou a chamar a atenção de diretores de arte e editores de revistas. Nas décadas seguintes, fotografou para o The New York Times, a W Magazine, a Vanity Fair, a Departures e a New York Magazine, e criou campanhas de moda para clientes como Neiman Marcus, Bergdorf Goodman, Ralph Lauren e Paul Stuart, entre outros. Uma dessas campanhas de moda resultou numa das suas fotografias icónicas, com os modelos de costas viradas para a câmara, segurando guarda-chuvas, junto ao porto de Nova Iorque – uma produção que esteve para ser cancelada precisamente por causa da chuva. Só que o fotógrafo tinha outros planos.

"Rodney Smith – A Alquimia da Luz" conta com mais de 100 fotografias e pode ser visitada até ao último domingo de maio, no Centro Cultural de Cascais.
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