Barbeiro, esteta, artista. Variações faria hoje 77 anos
Recordamos o artigo da MUST sobre uma das mais recentes homenagens feitas ao artista de É P’ra Amanhã ou Estou Além.
Como manter o legado de António Variações vivo? A sonoridade que o artista português nos deixou fala por si, mas têm sido inúmeras, dentro da música e da literatura, as iniciativas que o imortalizam. O novo livro-álbum que Teresa Couto Pinto lança, com texto e prefácio de Manuela Gonzaga, não é apenas mais um. É o seu.
Fotógrafa, agente e sobretudo amiga confidente de Variações, Teresa Couto Pinto decidiu revelar ao mundo 150 fotografias que homenageiam o seu amigo, que nos deixou cedo, com 39 anos. "Queria que esta obra falasse sobretudo do verdadeiro António, o meu amigo, poeta, cantor e compositor talentoso e não o resumisse ao que durante anos foi motivo de conversa sobre ele. O seu desaparecimento e a doença que o vitimou" conta, acrescentando que "estas fotografias viajaram comigo a vida inteira desde os anos oitenta. Durante estes 36 anos revi-as centenas de vezes em várias situações. Na cedência de muitas delas para ilustrar artigos sobre o António, mas também na ilegal e abusiva utilização das mesmas tanto na imprensa como na internet, sem os devidos créditos ou autorização para publicação. Olhá-las traz-me com certeza lembranças daquela época. De um tempo feliz e despreocupado, em que a vida era empolgante e promissora."
Teresa e António conheceram-se na loja Parafernália na Rua Castilho, onde Teresa trabalhava, em finais de 1978, e quando António era ainda cabeleireiro. Tornaram-se amigos. "Não sou uma pessoa saudosista, mas os anos 80 foram uma época muito importante para quem os viveu. Foram os anos do despertar de uma democracia há muito desejada após anos de repressão e cinzentismo. Naquela altura acreditávamos que tudo ia mudar, que havia espaço para a criatividade e para a liberdade de expressão, que tudo era possível e que a vida não tinha limites" evoca, sobre o fascínio que parece ser coerente sempre que falamos da geração que viveu em pleno esta década.
Porquê um LP? Explica que a ideia surgiu assim que pensou no livro. "O António faleceu na altura em que saiu o seu último trabalho "Dar & Receber". Não teve oportunidade de promover o disco. Naquela época essas promoções faziam-se através da rádio e da televisão e nos múltiplos concertos inseridos em festas populares que se realizavam por todo o país. Os telediscos eram feitos em película, movimentavam equipes inteiras de filmagens. Não havia os recursos que há agora. A internet não existia ainda e por isso chegar ao público em geral era mais demorado."
No fundo, com esta homenagem, Teresa quer recordar Variações como este genuinamente era, e o que o tornava diferente de qualquer outra pessoa ou artista. "O seu carisma, único e inimitável. A criatividade e a estética que o tornaram tão especial. A plasticidade do seu ser. A honestidade e generosidade que o caracterizaram" evoca, acrescentando que "a mensagem que deixou ao mundo nas letras das suas canções e sobretudo na verdade do lema com que regeu a sua vida: "Dar & Receber". Um legado precioso que precisamos de cuidar, acarinhar e ajudar a perpetuar para inspiração e conhecimento das gerações vindouras, e que o António já provou não ter prazo de validade."
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