Conversas

Samuel Úria: "O bem comum só acontecerá quando tivermos a consciência tranquila e os telhados de vidro reforçados"

O músico lançou recentemente 2000 A.D., um álbum de originais que é um convite a uma reflexão demorada sobre o presente, olhando para o sítio onde chegámos e para as possibilidades que não se concretizaram. E agora, para onde vamos?

Foto: Joana Linda
07:00 | Diego Armés

Reza a lenda que Samuel Úria é um tipo grande. Que é beirão, de Tondela, que é talentoso, com génio afiado para a música, para a palavra e para o desenho. E que é carismático - quando sobe ao palco, o público celebra com ele num ritual musical intenso e genuíno. Úria já compõe o chamado panorama musical português desde há muito. Começou a dar nas vistas no meio underground suburbano lisboeta em inícios dos 2000. A meados da década, já toda a cidade o conhecia. Depois, foi crescendo. O respeito dos pares surgiu com naturalidade inevitável. O carinho do público propagou-se como consequência lógica. Em setembro de 2024, meteu-se no estúdio para gravar um álbum novo. Menos de um mês mais tarde, o disco estava pronto. Chama-se 2000 A.D. e acabou de ser lançado. 

Numa esplanada do centro de Lisboa, Samuel Úria, plácido e distraído, parece estar à espera de alguém. Sentado não parece tão alto como reza lenda. Mas quando o músico dá pela nossa chegada logo se levanta. Caramba, afinal tem mesmo um metro e noventa. Sorriso aberto, abraço largo, braços compridos, assim é o cumprimento caloroso do bom-gigante, que deixa adivinhar uma conversa demorada, fértil e franca.

"A minha relação com a fé não está muito alterada desde a adolescência. Não condiciona a independência do meu pensamento, de forma alguma." Foto: Arlindo Camacho

Entre as palavras cordiais de circunstância - "então, o que tens feito?", "olha, fiz um disco novo" -, surge, surpreendente, o motivo para o primeiro debate: que talvez a disciplina na música seja "overrated". A expressão, dita exatamente assim, "overrated", é do próprio Úria, artista também da língua portuguesa, da qual é não só exímio praticante como veemente defensor. Revelará no decorrer do encontro que já foi mais intransigente nessa defesa. As pessoas crescem, amadurecem, ganham mundo. O mundo acrescenta perspetiva e, agora, três décadas depois de ter pegado na primeira guitarra, Samuel Úria apresenta um disco que é, à sua maneira, o fruto desse processo - quando não literalmente, pelo menos é-o enquanto possibilidade ou caminho. 2000 A.D., o novo álbum que nos junta aqui, é feito de Samuel a olhar para o seu tempo, o de agora e o do passado, para o rumo que as coisas levaram, para o que aconteceu e ficou por acontecer. Mas não divaguemos.  

Samuel, dizias tu que a disciplina na música talvez seja overrated. Importas-te de explicar? 

Eu acredito que, para muita gente, exija disciplina. Por outro lado, por uma questão de uma preguiça que é inconsciente, mas que se revela de formas conscientes e com propósitos conscientes, eu simulo, porque me convém, este lado displicente da maneira como eu abordo a escrita, os ensaios... que me favorece de alguma maneira. Aquilo que eu me recuso a fazer é algo que eu já quase esteticamente subtraio às canções. E também o excesso de rotinas em torno da música - é o que salvaguarda alguma frescura quando decido escrever. 

Isso significa o quê? Menos ensaio, menos trabalho no arranjo, menos o quê? 

Significa muito trabalho nos arranjos, muito detalhe na escrita, muito sacrifício em algumas coisas, mas tudo concentrado em pouco tempo. Os interregnos que eu tenho entre discos não são sempre a pensar em canções. São a pensar de alguma forma, são a recolher informação que eu sei que vai brotar em canções.

"Os interregnos que eu tenho entre discos não são sempre a pensar em canções. São a pensar de alguma forma, são a recolher informação que eu sei que vai brotar em canções." Foto: Arlindo Camacho

Tu chegaste a ter um emprego convencional. A certa altura, decidiste ser músico a 100%. O que é que te levou a tomar essa decisão e a dar esse passo?  

Para já, há um motivo que eu raramente refiro, mas que pesou muito nessa decisão, que foi o facto de, no penúltimo ano em que eu dei aulas, eu ter feito um trabalho enquanto músico para uma publicidade que me deu bastante dinheiro. E deu-me o conforto financeiro para pensar "se eu este ano quiser experimentar não dar aulas, consigo subsistir financeiramente com aquele dinheiro que fiz na publicidade". 

E na condição de, correndo mal, voltares atrás, era isso?  

Sim, podia ser isso. Nesse ano, o que aconteceu foi que eu arrisquei, só concorri para duas escolas e fiquei numa delas. Eu achava que era impossível. Acabei por dar aulas mais esse ano e aconteceu estar, então, a colaborar com um teatro em Guimarães, a fazer música. O que durante a semana me exigia estar às oito da manhã na escola em Lisboa e depois sair, por volta das duas e meia, ir para Guimarães, estar lá até à uma, duas da manhã. Depois, voltar para Lisboa. Eu acho que houve pelo menos uma semana em que foram todos os dias. Nos cinco dias úteis da semana eu fiz isso. E eu pensei "vou ter de optar por uma coisa". Decidi arriscar. 

Quais têm sido os maiores desafios para ti, enquanto profissional da música em Portugal? O que é que tem sido mais complicado? 

Não diria complicado, mas de alguma forma tirou alguma visão romântica da necessidade de ter coisas novas - que durante muitos anos era assim, depois veio uma altura em que era uma necessidade de expressão, o que quer que fosse. E, agora, a necessidade de ter coisas novas vem sempre acoplada a uma coisa conservadora - que é querer continuar a fazer discos, álbuns, e os álbuns tendem a aparecer com alguma periodicidade. Além disso, a profissão depende da repercussão financeira. E não desaparecer numa espécie de mercado implica que eu esteja a lançar coisas novas.  Continuo com essa preguiça de pensar em fazer um single aqui, outro ali. O álbum continua a ser o objeto. Mesmo as canções, individualmente, para mim fazem muito mais sentido quando, de uma forma mais ou menos perceptível, consigo uni-las.

"A necessidade de ter coisas novas vem sempre acoplada a uma coisa conservadora que é querer continuar a fazer discos, álbuns, e os álbuns tendem a aparecer com alguma periodicidade." Foto: Arlindo Camacho

DESENCANTO E ESPERANÇA 

Isso é uma coisa muito geracional, o álbum como conceito. A geração X está muito presente neste 2000 A.D. e é um tema que já surgiu noutras canções tuas, em Teimoso, por exemplo. Como é que um rapaz da tua idade, da geração X, contempla os tempos de agora? 

Sempre que alguém faz essa pergunta, a resposta nunca é positiva, independentemente da geração a que pertence quem responde.  A sério, acho que é muito difícil. Eu não sei, se calhar ali no fim da Guerra Fria... Não, mas nem aí. 

O 1991 é um bom ano.  

O 91 é um ótimo ano... Mas, lá está, o 91 é um ótimo ano, mas que abre a porta a uma soturnidade nova e estética, que de repente se instala, de repente tinhas de estar triste quase como uma obrigatoriedade. 

Mas é porque as pessoas ainda não sabiam lidar com a felicidade e com a leveza das coisas.  

É verdade. Eu acho isso. Até já escrevi uma canção sobre isso, chamada Tema Triste, que é uma faixa escondida num disco, mas é exatamente isso. Tivemos de arranjar uma espécie de veículo para uma tristeza, nem que ela fosse forjada, porque é impensável nós querermos ser cronistas do quotidiano sem querermos falar mal, porque cronismo do bem não existe. Cronismo da felicidade não existe. Penso que todas as gerações se podem arrogar dizer isto, mas acredito que o digo com propriedade: eu acho que estamos mal, estamos pior do que as gerações passadas, que achavam que estavam muito mal. Algumas - não estou a comparar-me com as pessoas que viveram durante as grandes guerras. Por outro lado, há uma desesperança social, política, climática, um desligamento. Aquela coisa que de repente parece que nos aproximou a todos virtualmente, está de alguma forma também a criar as fraturas maiores. Aquilo que poderia ser o maior promotor da verificação de factos, de repente está-se a tornar também a coisa mais democratizável para a adulteração de factos. Isso é uma coisa que me deixa muito preocupado. A ascensão da máquina está a tornar o homem pior, o problema não é afinal a substituição do homem pela máquina. É mesmo o coração do homem que está pior. 

Em setembro de 2024, meteu-se no estúdio para gravar um álbum novo. Menos de um mês mais tarde, o disco estava pronto. Chama-se 2000 A.D. e acabou de ser lançado. 
Em setembro de 2024, meteu-se no estúdio para gravar um álbum novo. Menos de um mês mais tarde, o disco estava pronto. Chama-se 2000 A.D. e acabou de ser lançado.  Foto: Joana Linda

Consegues ter algum palpite acerca da razão para o coração do homem estar pior? 

Eu acho mesmo que teve a ver com a facilidade com que há um discurso globalizável que se torna cartilha para várias fações. É muito mais fácil aquilo que de repente podia favorecer um pensamento comum, favorecer também os pensamentos mais díspares e as fraturas. E favoreceu muito. Acho que há uma individualidade que é mais maquilhável, é mais disfarçável e, por poder ser manipulável, tornou-se também mais aguerrida. Ou seja, as pessoas quando perceberam que podiam mostrar uma coisa que não é real sem que isso fosse comprovado, tornaram-se mais dedicadas a fazê-lo. 

Tu vens do meio da Flor Caveira [editora underground fundada no virar do século por jovens elementos da Igreja Batista, entre os quais se encontrava Samul Úria], onde o lema é punk-rock e Jesus Cristo. Como é, hoje, a tua relação com a fé?  

A minha relação com a fé não está muito alterada desde a adolescência. Não condiciona a independência do meu pensamento, de forma alguma. Até porque há uma separação muito grande, para mim, entre aquilo que é a fé e aquilo que é uma espécie de ideia de religião instituída. Embora tenha a vantagem e a desvantagem de ter crescido numa religião [Batista] de alguma forma desviante e minoritária, o que nos pode tornar mais aguerridos em torno das ideias. Mas, por outro lado, também é uma religião protestante muito independente de qualquer outra dominação. Até a minha igreja é independente das outras igrejas. Ou seja, há uma percepção de individualidade nas comunidades, e eu já passei por várias dentro do mesmo seio das comunidades batistas, que não me afetam, é uma espécie de um pensamento livre. Não estou condicionado. Há uma questão doutrinária, pela qual eu tento pautar-me, mas depois há todo um ramificar e uma aplicação dessa doutrina que não me amordaça o pensamento e seguramente não me amordaça a expressão. E nesse sentido tenho convivido muito bem. Tenho uma convivência muito saudável. 

Portanto, ainda és um punk cristão. 

Sim, completamente. Ainda por cima, hoje em dia, quando só a ideia de ser cristão é marginalizável, considerando a necessidade de uma laicização total daquilo que é uma manifestação pública, até artística. Às vezes, o simples facto de seres uma coisa que há uns anos era considerada como muito tradicional - [a religião] por muito que explorasse ideias absolutamente revolucionárias, mas por referir-se a uma coisa que era tida como conservadora -, acaba por ser punk rock. Se quiseres posicionar-te contra as obrigações, contra as diretrizes estatais... Por exemplo, recusares-te a usar o novo acordo ortográfico. De repente, quando procuras acentuar coisas que já não são acentuadas, estás a ser um rebelde. 

És um rebelde por não ser progressista.  

Não. Mas o que é que é o progresso? Há coisas em que nós não andámos para a frente, acho eu. O progresso se calhar não nos levou assim tão para a frente como estávamos à espera. Em alguns aspetos sim, mas... E lá está, houve coisas em que se calhar, se pensares bem, há aquele chavão clássico, demos um passo rumo ao abismo. Andámos para a frente, mas devíamos ter andado para o lado, devíamos ter deslizado.  

Assusta-te um bocadinho o que aí vem? 

A minha ideia dos conflitos futuros, embora seja uma ideia tumultuosa, por outro lado, tem a pacificação de eu perceber que isso é a normalidade. De alguma maneira, não me assusta, mas responsabiliza-me. Se eu tenho uma profissão, uma atividade que de repente me dá um altifalante para falar para pessoas, se eu percebo que há pessoas que têm ouvidos para me ouvir, há uma responsabilidade de comunicar que não me conformo com esta normalidade. Isso não é tanto o susto, não é um recolhimento, pelo contrário.

"O álbum continua a ser o objeto. Mesmo as canções, individualmente, para mim fazem muito mais sentido quando eu, de uma forma mais ou menos perceptível, consigo uni-las." Foto: Arlindo Camacho

O que é que uma pessoa com voz pública poderia fazer para tentar apaziguar os espíritos? 

O esclarecimento que eu tenho é um compromisso total com a verdade, porque se tem visto muitas vezes  as derivas dessa fabricação de novas verdades. Já se fala da pós-verdade há tanto tempo, mas agora estamos a levar com ela mesmo materializada e virtualizada de uma forma muito credível. É um compromisso com a verdade, porque o que acontece muitas vezes é, não só nós sermos muito rápidos a querer identificar as mentiras dos outros, mas também - às vezes por convicções, por acreditarmos que estamos ao serviço de valores mais altos, por acreditarmos que estamos ao serviço do bem - muitas vezes conseguirmos distorcer um bocadinho a verdade porque isso favorece o nosso lado. Ou somos um bocadinho menos criteriosos quando alguém do nosso lado faz um uso dúbio daquilo também deveria ser a verdade. E eu acho que o bem comum só acontecerá quando tivermos a consciência tranquila e os telhados de vidro reforçados, nem que seja com um amianto que nos faça morrer por dentro, mas que pelo menos nos reforce e que nos torne inatacáveis. E só quando formos inatacáveis é que poderemos construir pontes. Estou a usar demasiadas analogias de engenharia.

COMPOR E ESCREVER 

Fizeste algum tipo de trabalho de pesquisa, estudo ou treino para depurar a tua maneira de escrever? 

É um trabalho que ainda está em curso. O critério não me trouxe só coisas boas. Às vezes trouxe-me mais engasgo, trouxe-me mais dúvida. Mas isso em tudo, também na construção das canções. Às vezes, quando a gente está a dominar em demasia uma linguagem, desfavorece alguma da frescura e da simplificação de alguns processos.  

Quem é que te inspira? Que referências é que tu tens, ao nível da linguagem, tanto na música como fora da música? 

Muitas vezes, as referências que eu tenho fora da música são as que mais me inspiram. A música inspira-me muitas vezes de maneira indireta. Por exemplo, se ouço um disco de que gosto muito, não tenho a tendência de querer fazer um disco igual, mas quero participar, quero ser alguém que também está a fazer música, porque aquilo é tão fixe. (...) O consumo de artes, de uma forma geral, vai sempre dar-nos ferramentas para outras artes. Aprender a ler uma pintura ou a ler um filme de cinema de autor vai sempre ajudar quer seja a escrever um livro ou a fazer uma música. Vai-nos ajudar a desemperrar muita coisa que está cá dentro. A palavra poética, as figuras de estilo que eu aprendo na poesia, ajudam-me, se calhar, muitas vezes, a escrever coisas que não parecem nada poesia. (...) Há uma influência direta do cinema nas coisas que eu estou a fazer. Por exemplo, neste disco tenho uma canção em que eu quis mesmo, de alguma forma, ir buscar as fórmulas do Western Spaghetti.

"Eu acho que estamos mal, estamos pior do que as gerações passadas que achavam que estavam muito mal." Foto: Joana Linda

Estamos a falar agora de palavra escrita ou de estética sonora?  

Das duas coisas. Mas isto é o processo inverso. Uma canção que eu estava a escrever, que é semi-episódica, conta uma história real, embora não revele tudo o que se passou. Aquilo podia ser uma mensagem simples da canção. Mas, à medida que eu estava a escrever, ia parecendo que ia acabar em duelo. Começa de uma forma mais ou menos pacificada. Vai acabar em duelo, vai acabar num esgrimir de argumentos, num desentendimento. E logo aí eu pensei na semelhança com o Western Spaghetti, que às vezes tem baladas que depois começam a tornar-se mais épicas, começam na calmaria e acabam nos grandes planos, nos olhos do Clint Eastwood ou do Lee Van Cleef. Aqueles grandes planos exageradíssimos, porque eles têm de ver quem é que vai sacar primeiro. Planos demoradíssimos. E eu pensei "é exatamente isso que eu quero nesta canção". E então, quando eu estava a escrever, fui levando a canção até ao seu apogeu. E o inverso também. Quis usar essas ferramentas do Western Spaghetti, mas também quis muito desconstruí-las, fazer coisas que não têm mesmo nada a ver com a mensagem do Western Spaghetti. Meter-lhe sintetizadores, meter-lhe um Omnichord, fazer referências a títulos das canções dos Blind Zero, que tocaram no meu baile de finalistas. Não há nada menos Western Spaghetti do que referências a canções dos Blind Zero.  

Já que falamos de canções do novo disco, há duas para as quais eu gostava de pedir uma explicação. Vamos começar pela mais ligeira, acho eu. Kushisabishii. Porquê uma canção sobre isto?  

Tomei conhecimento através da Internet, já não sei como, talvez num meme que tinha simplesmente a explicação de uma palavra que era nova para os ocidentais, que é kushisabishii. Os japoneses têm palavras muito engraçadas que descrevem sentimentos que nós conseguimos reconhecer com alguma facilidade, mas para os quais ainda não inventámos nenhuma palavra. Eu às vezes defendo muito a língua portuguesa, mas também sou defensor de que reconheçamos as suas lacunas. E que temos de homenagear os povos que chegam primeiro a sentimentos que não estão descritos [em português]. Então este kushisabishii fala sobre fome, mas que não é uma fome tradicional, não é subnutrição, não é um mero apetite, não é uma mera vontade de comer. Descreve nós querermos ocupar a boca porque a boca tem saudades de ter alguma coisa que a consagre. É a solidão da boca. E eu achei que, se tu pensares na solidão da boca, podes falar sobre mil e uma coisas consagradas a esta expressão. E foi por isso que eu fiz esta canção.

"Há uma desesperança social, política, climática, um desligamento, aquela coisa que de repente parece que nos aproximou a todos virtualmente, está de alguma forma também a criar as fraturas maiores." Foto: Arlindo Camacho

A outra é uma homenagem que tu já tinhas feito há algum tempo, uma canção chamada Xico da Ladra. Porquê e porquê neste disco?  

Eu andava com esta canção na cabeça desde que o Xico nos deixou [João Ricardo Machado Matos, "Xico da Ladra", morreu em 2020].Tinha os versos a formarem-se na cabeça. Também sabia que, quando a cantasse, ficaria com a voz embargada. Curiosamente, quase consegui cantar a canção sem me engasgar. Porque fiz uma versão rock and roll e toquei no [festival NOS] Primavera [Sound], num concerto quase à chuva. É uma coisa mais rocker, deu para ler alguma da emotividade natural da canção. Portanto, andava com estes versos a tilintar na cabeça, em homenagem ao dócil e amigável Xico. E gravei uma maqueta de uma assentada, na altura em que eu estava em retiro para escrever algumas canções deste disco. E, quando chegou a altura de compilar ou de pensar que canções é que poderiam fazer parte, a canção do Xico surgiu-me como óbvia para encerramento. Porque, de alguma forma, se há um retrato desabonado da sociedade, do presente, do futuro, do passado, qualquer que seja, um retrato globalizado, porque não individualizar a esperança? E aí a canção sobre o Xico apareceu-me como a solução ideal para dar uma nota positiva e de esperança. Devemos agarrar-nos a essa felicidade, a de termos pessoas que nos tornam melhores.  

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