Moullinex: “Vivemos duas crises, uma pandémica e outra de saúde mental. A arte pode ajudar na segunda”
O artista, que é uma das referências mais promissoras na música electrónica portuguesa, antecipa um novo disco com o single Running in The Dark, que vem acompanhado de um videoclipe de Bruno Ferreira e a participação de Joana Ribeiro e Olga Roriz.
Um artista versátil e criativo, Moullinex (o alter ego de Luis Clara Gomes) veio, há alguns anos, provar aos portugueses que a eletrónica pode ter um lugar tão cativo nas nossas playlists como a pop ou o rock. Moullinex reinventou o conceito de música eletrónica, sobretudo no contexto português, levando os seus sets de DJ que ouvimos na pista de dança do Lux para outros contextos. Aliás, a sua biografia resume isso mesmo numa frase, ao explicar que cria "música que pode viver perfeitamente dentro dos limites da pista de dança e ainda permitir a introspecção nos auscultadores."
Produtor, multi-instrumentista e DJ, Moullinex fala à MUST sobre Running in The Dark, o avanço ao seu novo disco, que chega em 2021, mas que já revela uma nova maturidade do artista.
Li que este disco foi escrito «durante um período de perda pessoal e incerteza». Explorar a catarse de emoções através da música é essencial para um artista?
Para mim é essencial, vejo-a como a minha psicanálise. Faço-o porque preciso, mas também porque espero que aquilo que ela me diz ressoe com outros. Este é um disco que precisei de fazer, em que havia um contraste evidente entre ele e o que tinha feito até aí, mas decidi aceitar esse facto.
Sentiu que se expôs mais com este disco? No sentido em que é mais a sua essência pessoal que se atravessa pela música?
À primeira vista não, porque não canto nele. Mas sinto que as temáticas são mais pessoais, mais alinhadas com o que sinto e com a forma como vejo o mundo no momento. Noto que colectivamente estamos a perder um dos nossos maiores capitais, a empatia, e esta ideia está presente em todo o disco. É uma elegia à empatia. Um requiem, se quisermos.
Running in the Dark é um bom exemplo. Pode dizer-se que é sobre o outro lado, mais sombrio, que todos nós temos?
Sim, como Carl Jung disse, temos de fazer sombra, além de luz, para nos sentirmos inteiros. A nossa natureza é definida por esse conflito, a luz (ou consciente) e a sombra (ou subconsciente). Na Running in the Dark explorei com o Guilherme (GPU Panic) a ideia de muitas vezes nos vermos melhor através dos olhos de uma outra pessoa. Essa pessoa consegue ver-nos para lá da fachada. E, como tal, tem-nos sob controlo.
Quer explicar o início desse videoclip? Uma conversa inocente entre crianças… é um contrabalanço com a ideia da música?
Desafiei o Kalaf Epalanga a escrever esta introdução: a conversa é aparentemente inocente porque acontece entre crianças, mas a fábula que referência diz-nos que somos incapazes de contrariar a nossa natureza, mesmo quando se trata da nossa própria sobrevivência. A Rã ajuda o Escorpião a atravessar o rio, mas este, incapaz que é de fugir à sua natureza, ataca-a na mesma a meio da travessia.
Este novo disco chega numa altura em tudo atípica para o setor. Vê o também como uma esperança para o futuro?
Mantenho-me positivo (excepto nos testes à covid-19). Atravessamos uma época difícil para todos, mas excepcionalmente difícil no já frágil ecossistema da música e da cultura em Portugal, em que a sobrevivência de muitas pessoas no sector está posta em causa. Fomos os primeiros a fechar e seremos os últimos a abrir. Mas já tinha este disco há demasiado tempo na gaveta, desde março, altura em que fechei as misturas com o David Wrench. Estou farto de o adiar. Quero muito tocá-lo ao vivo, em segurança, seja de que forma for.
Para si, enquanto artista, o que é que este ano simboliza?
Sinto falta de muitas coisas, temo pelo meu futuro e pelo futuro de todos. Quero deixar isso claro. Mas fui obrigado a parar, coisa que já não fazia há anos. Aproveitei para aprender coisas novas, como 3D, machine learning, Inteligência Artificial aplicada à arte. Este foi o ano em que menos procurei, e mais encontrei. E o ano em que menos viajei, e mais me expandi.
Em última instância, acredita que é a música, como a arte no geral, que nos "salva"?
Sou prova viva do "last night a DJ saved my life". Neste período em que a realidade se tornou tão hostil, acho que só a música, os livros, o cinema e as outras artes nos podem fazer sonhar com um mundo melhor. Vivemos duas crises, uma pandémica e outra de saúde mental. A arte, pelo menos, pode ajudar na segunda.
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