Da antiguidade à modernidade. A história da Antarte contada por Mário Rocha
A marca portuguesa, com 25 anos, destaca-se pela capacidade de criar peças que refletem um estilo de vida, marcando presença em mercados internacionais e deixando um legado cultural com o Antarte Museum.
Mário Rocha, cofundador e CEO da Antarte, é um nome marcante na revolução do design de mobiliário em Portugal. Nascido numa família ligada ao setor, o seu contacto precoce com a marcenaria contribuiu para a sua visão: unir o respeito pela tradição artesanal à inovação tecnológica e estética. Foi essa paixão que, em 1998, deu origem à Antarte, fundada juntamente com Zita Rocha, no coração do cluster do mobiliário em Rebordosa, em Paredes. Inicialmente dedicada a peças de antiguidade e arte, a marca rapidamente evoluiu para se tornar sinónimo de design intemporal, entrando num mercado que começava a afastar-se do estilo clássico dominante da época.
Segundo o Mário, a Antarte nasceu da fusão entre "antiguidade" e "arte". Como surgiu a ideia inicial de criar a marca e que desafios enfrentou nos primeiros anos?
A energia fundadora da Antarte chama-se "paixão". Foi a paixão por antiguidades e arte que fez nascer uma empresa inicialmente focada nesses negócios. Tenho origens numa família ligada ao setor do mobiliário e cedo percebi que deveria focar a Antarte no fabrico de mobiliário de design intemporal. O desafio dos primeiros anos foi criar uma marca portuguesa numa altura em que o setor do mobiliário made in Portugal produzia para marcas internacionais. Optei pelo caminho mais difícil. Foi uma aposta que o tempo veio a revelar ser acertada.
Ao longo de 25 anos, a Antarte consolidou-se como uma marca de design intemporal. Como se mantém fiel a essa visão enquanto acompanha as tendências do mercado?
O design intemporal tem a capacidade de definir a alma de um espaço, tal como diz uma frase minha que está no Antarte Museum. É um design funcional, de conforto e elegância. Uma curiosidade: quando, há quatro anos, começámos a comunicar que a Antarte era a marca do design intemporal, passou pouco tempo até que marcas de dimensão mundial começassem a usar a expressão "intemporal" na sua comunicação. Significa que, afinal, as marcas que definem tendências nunca se podem distanciar dos vetores que a Antarte adotou desde a sua fundação há mais de 25 anos.
A Antarte surgiu num meio muito ligado ao mobiliário. Como é que essa ligação à tradição portuguesa de marcenaria influencia o vosso design?
Influencia muito mais em termos do respeito pelo saber da manufatura portuguesa que convive em equilíbrio com a (óbvia) necessidade de automação de vários processos. Uma peça Antarte não é feita em série. Cada móvel tem uma ampla componente de manufatura e quase se pode dizer que é um móvel único.
Como vê o equilíbrio entre funcionalidade e estética no design de móveis? Até que ponto o conforto é essencial na criação das vossas peças?
Uma marca que tem como assinatura "design for life" jamais poderia fazer peças de mobiliário que não pudessem ser vividas, em termos de funcionalidade e conforto. O mercado já reconhece essas caraterísticas no nosso mobiliário e tem essa expectativa.
A presença em mercados tão distintos requer adaptações ao nível do design ou da estratégia comercial? Como se ajustam às preferências culturais de cada país?
Os mercados estão muito globalizados em termos de preferências dos clientes. Há uma necessidade de ajustes em pormenores como é o caso dos apontamentos dourados para mercados como o Médio Oriente ou Ásia; ou do design minimalista puro para os mercados do norte da Europa. Mas como indiquei, são ajustes de pormenor.
A Antarte começou com um foco em peças antigas e arte. O que motivou essa transição para o mobiliário de design contemporâneo? Que desafios enfrentou nesse processo?
No início do século XXI as marcas internacionais de referência começaram a cativar o mercado com designs de mobiliário que se afastavam dos estilos clássicos habituais no mercado nacional. Esta oferta de produto provocou uma mudança nos gostos dos consumidores. A Antarte optou por transformar uma ameaça numa oportunidade: reconfiguramos o nosso negócio, criamos uma marca de mobiliário com oferta de produto centrada em designs intemporais e criamos uma rede de lojas próprias que conseguisse auscultar tendências junto do mercado.
A marca criou cadeirões para personalidades como Papa Francisco, José Mourinho e Cavaco Silva. Como é o processo de criação dessas peças sob encomenda?
São processos que envolvem a criação de equipas multifuncionais, que são desenvolvidos ao longo de dezenas ou centenas de horas, com vários protótipos até se chegar à peça final, mas que implicam o respeito por um conjunto de diretrizes que as personalidades envolvidas indicam. Mas o ponto essencial é o design final destas peças ter a capacidade de ser uma extensão do perfil da personalidade para a qual foi criado.
Em 2024, a madeira e tons naturais estão em destaque. Que materiais é que a Antarte prefere utilizar, e como é que decide as paletas de cores para as suas coleções?
A sustentabilidade está na agenda da Antarte desde sempre e por isso optamos cada vez mais por materiais sustentáveis nas nossas coleções. Carvalho natural, carvalho decapé, nogueira, palissandro, freixo, criptoméria, estão entre o leque de opções para este ano. Mas a decisão final é do cliente e o que o cliente atual mais valoriza é poder personalizar cada peça de mobiliário de forma a ter um móvel que reflita o seu lifestyle.
Existem algumas tendências que marcaram 2024? Quais e porquê?
O minimalismo é uma das tendências em home decor que está a impor-se. A par do japandi, com um design de linhas essenciais que transmitem sensações de harmonia. São designs contemporâneos que se enquadram bem tanto em casas com áreas amplas e luminosas como em espaços menos amplos. O estilo de vida mais acelerado a par do teletrabalho, que veio para ficar, impõe espaços com menor número de peças de mobiliário e mais funcionais.
Existem tendências que já mostram ser as de 2025?
A maior tendência, como referi anteriormente, é a personalização. Os clientes optam cada vez mais por marcas que oferecem a possibilidade de personalizarem (materiais, acabamentos e tonalidades) uma peça de mobiliário que seja uma extensão do seu estilo de vida. Outro ponto que está a impor-se é a sensibilidade ao uso de matérias primas sustentáveis.
Que mudanças é que notou nas preferências dos consumidores nos últimos anos?
Os consumidores estão a fazer da casa uma zona de conforto e um espaço que seja fashion. Significa que as peças de mobiliário principais são atualizadas a cada três ou quatro anos e as peças secundárias, assim como os objetos decorativos, são renovados com maior frequência. Por outro lado, as marcas com maior proximidade com os clientes em termos de pré-venda e após venda, conseguem fidelizar clientes. Eu diria que o cliente já não quer um ato isolado de compra e entrega dos móveis em casa. Quer uma relação ampla com a marca.
De onde é que surge a inspiração para novas coleções? Como é que equilibra a criação de peças intemporais com as tendências do momento?
A principal inspiração é auscultar permanentemente o mercado. O facto de termos uma rede de 13 lojas permite-nos ouvir clientes todos os dias e perceber o que procuram em termos de produtos. Como disse anteriormente, a intemporalidade está na moda. Acredito que é praticamente impossível uma marca afirmar-se hoje no mercado se criar coleções de mobiliário com um design de tal forma frugal que fique datado com facilidade.
O que é o Antarte Museum, qual o seu propósito?
O Antarte Museum é um encontro entre a história da Marcenaria e a da marca Antarte. É um tributo a um ofício ancestral ligado ao progresso de civilizações e povos, mas ainda pouco documentado. Nasceu da minha paixão pela marcenaria e da minha ligação de sempre a esta área. É um espaço único na Europa e conta com um espólio de mais de mil peças de ferramentas e máquinas, algumas delas com três séculos.
A criação do Antarte Museum é ambiciosa. O que espera alcançar com este espaço e que papel é que ele desempenha na educação e valorização do mobiliário português?
Este museu é uma iniciativa de responsabilidade cultural, uma área em que as empresas privadas nem sempre apostam. É um equipamento cultural que valoriza um dos ofícios mais representativos – em termos económicos – da área geográfica em que se insere, mas também dá a conhecer a história de uma atividade relevante do made in Portugal.
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