Viver

O dia em que a rainha pediu um Mateus Rosé no Savoy

O Mateus Rosé celebra 80 anos com uma enorme quantidade de fãs, entre políticos, astronautas, estrelas de rock e a própria Isabel II, que subiu ao trono uma década depois do nosso Mateus ter sido lançado, em 1942.

Foto: Getty Images
16 de setembro de 2022 | Bruno Lobo

A Coroa Inglesa tem uma garrafeira impressionante nas caves do Buckingham, mas isso não significa que a rainha tivesse um gosto especialmente requintado no que toca a vinhos. Com exceção do nosso Porto, que nunca faltava nas receções oficiais (levando Taylor’s e Graham’s a afirmar que era a melhor amiga do vinho do Porto), no geral a Rainha bebia vinhos relativamente modestos, preferencialmente dos países da Commonwealth. A exceção eram alguns nomes franceses e o nosso Mateus. Conta-se, inclusivamente, uma história curiosa em que a Isabel II, aparentemente insatisfeita com o vinho servido numa festa no luxuoso Savoy, pediu um Mateus Rosé. O hotel não tinha o vinho, mas encontraram-no rapidamente e, desde então, nunca mais faltou Mateus Rosé no Savoy, em Londres.

Não se sabe exatamente quando começou esse entusiasmo, mas em 1961 Fernando Van Zeller Guedes, o pai do Mateus, patrocinou as corridas de cavalos de Ascot, tendo inclusivamente entregado o prémio a um dos vencedores. Ora a rainha nunca faltou a um dia de corridas em Ascot, e como criadora de cavalos alcançou quase oitenta vitórias na prova. Quem sabe se não terá sido aí…

Isabel II e o duque de Norfolk no Royal Ascot em 1970
Isabel II e o duque de Norfolk no Royal Ascot em 1970 Foto: Getty Images

O alcance, e a fama, de Mateus ao longo destes 80 anos consegue ser surpreendente, e temos inúmeros episódios que o provam. Frank Borman, o primeiro astronauta a circum-navegar a lua lamentava, ainda a bordo da Apollo 8, não ter uma garrafa de Mateus para celebrar. Elton John canta-o em Social Disease: "I get juiced on Mateus and just hang loose" e há uma célebre foto de Jimi Hendrix evidentemente satisfeito bebendo Mateus pela garrafa. Mais comedida, mas igualmente alegre, a nossa rainha do fado, Amália, oferece o copo para que o encham de Mateus noutra conhecida imagem.

Jimi Hendrix a beber Mateus Rosé
Jimi Hendrix a beber Mateus Rosé Foto: D.R

Quando Amílcar Cabral, Agostinho Neto e Samora Machel brindaram ao derrube do colonialismo, fizeram-no com Mateus Rosé. E quando os norte-americanos começaram a ficar inquietos com o evoluir da situação em Portugal, no pós-25 de Abril, acharam por bem açambarcar todas as garrafas de Mateus que encontraram. Vinte milhões delas. Entretanto alguma terá chegado a Steve Jobs, porque também há uma foto sua, antes do lançamento da Apple, com uma garrafa de Mateus ao fundo.

Steve Jobs com uma garrafa de Mateus na estante
Steve Jobs com uma garrafa de Mateus na estante Foto: D.R

"Mateus é passado, presente e futuro", conta o atual Presidente da Sogrape, Fernando da Cunha Guedes. "Estando na base de tudo, foi a marca que nos trouxe até aqui e que promete levar-nos ainda mais longe". A Sogrape é, hoje, a maior empresa nacional do setor, presente em mais de 120 países e fazendo vinhos também na Argentina, Chile, Nova Zelândia e Espanha. Em Portugal detém marcas como a Casa Ferreirinha, que produz desde o Planalto ao Barca Velha, Sandeman, Offley, Grão Vasco, Quinta dos Carvalhais, Herdade do Peso ou Quinta da Romeira. Mas continua a ser uma empresa familiar, e o atual presidente não se cansa de elogiar o avô pela sua "coragem e ousadia ao lançar um vinho assente num conceito tão diferenciador em pleno contexto de Segunda Guerra Mundial".

Fernando van Zeller Guedes, criador do Mateus
Fernando van Zeller Guedes, criador do Mateus Foto: D.R

Foi, de facto, uma ideia peregrina lançar em 1942, a partir de Portugal, um vinho leve e fresco para ser consumido em todo o mundo. Umas das primeiras medidas de Fernando Van Zeller Guedes foi enviar duas garrafas de Mateus a todos os embaixadores de Portugal, acompanhadas por um bilhete onde lhes pedia que provassem o vinho e, caso gostassem, o favor de entregarem a segunda garrafa a uma personalidade local que pudesse ajudar a implantar o Mateus. Abriu assim uma rede de contactos enorme, e visitou-os a todos. "O meu avô dizia sempre ‘Primeiro fazemos amigos, depois fazemos negócios, e assim foi construindo o sucesso de Mateus", recorda o neto.

Lançamento do Mateus Magnum no Zoo de Londres, 1978
Lançamento do Mateus Magnum no Zoo de Londres, 1978 Foto: D.R

Num país com um problema crónico em criar marcas, e dar-lhes dimensão internacional, o sucesso de Mateus é um case study até porque ao longo de 80 anos soube reinventar-se e manter-se atual e continua a bater recordes de vendas, tendo 2021 sido o seu melhor ano de sempre. Mesmo em Portugal, onde foi desdenhado durante muitos anos, esse crescimento é evidente e ocupa já cerca de 17% do Portfolio de Mateus. Sensivelmente o mesmo que em Inglaterra, mas vamos ver se o rei Carlos III terá uma palavra a dizer sobre este assunto...

Saiba mais Isabel II, Mateus Rosé, Vinho
Relacionadas

Isabel II, a Rainha dos Mundiais

"Morreu a rainha que viu todos os Mundiais. Se calhar, já adoentada, alguém lhe poderá ter dito – 'Vai perder o próximo Mundial, sua Alteza. Vai ser o primeiro sem si'. "Este não conta" – poderia responder ela."

Mais Lidas
Viver Viva o luxo!

O mercado do luxo é fascinante. Põe a maioria das pessoas a sonhar com algo que, na realidade, desconhece ou a que não pode aceder. Mas este setor está a aprender a conhecer-se. Depois de ter sido intocável durante tanto tempo, não ficou indiferente ao novo milénio e reinventa-se.