Duches de água fria. Benéficos para a saúde ou mito urbano?
É um dos temas tendência na comunidade científica, dado a sua ligação profunda com a saúde, tanto física como mental. E agora que está mais calor, questionamo-nos sobre ele.
Com as temperaturas a aumentar, não é de estranhar que prefiramos tomar banho com a água mais fria, para não mencionar os benefícios de saúde que são associados à prática em questão. Mas será que conseguimos dar um passo extra, ultrapassar o choque térmico, e começar a tomar duches de água gelada regularmente? Matt Fuchs, jornalista no Washington Post, decidiu aceitar o desafio e, inclusive, comentar a sua experiência, isto porque começou a sentir-se deprimido e sem energia. Afinal, não perdia nada em tentar.
Primeiro que tudo, Fuchs falou com vários especialistas. Segundo David Sinclair, biólogo na Universidade de Harvard, a "imersão fria", ou crioterapia, faz bem à saúde a longo prazo. Os nossos antepassados viveram durante milhares de anos ao ar livre, em climas frios, e por isso o seu metabolismo conseguia adaptar-se a temperaturas desconfortáveis, altas ou baixas. No entanto, o ser humano do século XXI vive com outros luxos, nomeadamente ar condicionado, não recorrendo, assim, à dita capacidade de adaptação.
A hipótese de Sinclair parte de um princípio denominado Hormese, ou seja, a ação estimulante de uma substância que, quando em maior concentração, tem uma ação inibitória ou o efeito benéfico decorrente da exposição a uma quantidade pequena de uma substância tóxica. Simplificando, é colocar em prática o termo "o que não mata, torna-nos mais fortes".
De seguida, Fuchs recorreu aos conhecimentos de Anna Lembke, professora e psiquiatra em Standford, que em vez de prescrever medicamentos aos doentes que sofrem de vícios, recomenda estes duches, pois ajudam a tolerar a abstinência. "O corpo responde à água fria através da regulação de moléculas que nos fazem sentir bem como dopamina, serotonina e norepinefrina". Por fim, falou com o fisiologista Heather Massey, que lhe explicou que embora não existam muitos estudos, trata-se de um tema emergente.Investigações concluíram que, de facto, há uma ligação entre a exposição ao frio e o aumento de "neurotransmissores do bem-estar". A noradrenalina, por exemplo, ajuda a combater a ansiedade e depressão, sendo ainda responsável pelo aumento do nível de glóbulos brancos no organismo, fulcrais para um bom sistema imunitário. Já a dopamina é essencial para nos sentirmos motivados. O choque que sentimos ao entrar na água é a resposta natural do corpo ao súbito arrefecimento da pele, o que faz com que o ritmo da nossa respiração e batimentos cardíacos aumente. Mas à medida que nos expomos mais, estes mecanismos de defesa começam a relaxar", afirma Massey.
Redução do stress, melhoria no descanso à noite, diminuição de dores, recuperação muscular, limpeza de artérias bloqueadas, estimulação da circulação sanguínea, diminuição da pressão arterial e diminuição de tecido adiposo (aquele que estimula o corpo a gerar mais energia para o manter quente e, daí, queima mais calorias) fazem também parte do "pacote" de vantagens.
Com a teoria estudada, será que Fuchs passou a ser fã desta prática? As primeiras vezes não foram fáceis, muito menos agradáveis, mas habituou-se gradualmente à temperatura. "À medida que me vestia, senti uma profunda sensação de alívio a espalhar-se pelo meu corpo." Conclusão: se dá jeito, vamos em frente.
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