Como dizer não e ser mais feliz
O novo livro de Alba Cardalda, psicóloga, "Como Mandar À Merda (de forma educada)", não ensina a mandar à merda – ensina antes como evitar chegar a esse ponto. A MUST publica um excerto, editado pela Pergaminho, que reúne estratégias para dizer "não".
Capítulo 12: ESTRATÉGIAS PARA DIZER «NÃO»
A coisa mais importante que aprendi a fazer depois dos quarenta anos foi dizer não quando é não (Gabriel García Márquez)
Quando temos dificuldade em dizer «não», acabamos por investir tempo, esforço, dinheiro ou energia em demasiadas coisas e ficamos sobrecarregados e stressados. Tentar chegar a todo o lado é o mesmo que não se dedicar a nada: não é nem eficaz nem prático, mas muito cansativo e frustrante. Quando sentimos que «o nosso dia não tem horas que cheguem» ou percebemos que há tantas coisas que gostaríamos de começar a fazer, mas o tempo voa e nunca temos disponibilidade para elas, está na altura de questionar se estamos a empregar o nosso tempo naquilo que realmente queremos e é importante para nós.
Segundo José Luis Sampedro, que foi um grande escritor, economista e pensador humanista espanhol, «Tempo não é dinheiro; o dinheiro não vale nada. Tempo é vida». Quando gastamos o nosso tempo em coisas que não são prioritárias para nós, estamos a dedicar as nossas vidas a questões que não são importantes; quando ocupamos o nosso tempo com algo que não é importante, estamos a desperdiçar a nossa vida, e quando desperdiçamos a nossa vida, estamos a menosprezar a única oportunidade que temos de ser felizes.
O tempo só se gasta, não se recupera, nunca volta atrás e é finito. Um dia tudo se acaba, mas devemos assumir o compromisso connosco próprios de fazer todos os possíveis para que, quando estivermos prestes a dar o último suspiro, sentirmos que valeu a pena. Por isso é tão importante decidir a que coisas dizemos que sim e a que coisas dizemos que não.
Antes de conhecer as estratégias para dizer que não com elegância e assertividade, seria bom refletir sobre as suas prioridades na vida e perceber se está a viver de acordo com elas.
Que pessoas e atividades o ajudam a sentir-se bem consigo mesmo?
O que lhe faz bem à alma e ao espírito?
Quais são os seus objetivos? O que o aproxima e o que o afasta deles?
Que coisas gostaria de fazer, mas nunca tem tempo para elas?
Quanto tempo rouba ao que é importante para si para dedicar ao que não importa?
Que impacto tem a forma como organiza o seu tempo nas relações com as pessoas que ama?
Refletir sobre os efeitos daquilo a que dizemos «sim» e daquilo a que dizemos «não» ajuda-nos a ter mais consciência da relevância das pequenas decisões diárias. Quando pensamos nisso, imediatamente compreendemos a gravidade de tomar essas decisões baseadas «no que as pessoas vão dizer», pois «não quero ficar mal» e porque «vão achar-me rude». Agir segundo essas razões nunca nos trará bem-estar se, no fundo, o que fazemos é dedicar a nossa vida ao que nos afasta daquilo que é essencial para nós.
Embora estas reflexões nos ajudem a tomar consciência da importância de saber dizer «não», conseguir dizê-lo sem culpa é um processo lento, que nos obriga a sair continuamente da nossa zona de conforto.
Devemos ter em consideração que quanto mais complacentes formos, mais difícil será habituarmo-nos a dizer não: por um lado, teremos uma maior tendência para desenvolver sentimentos de culpa mais intensos, por outro, como as pessoas estão habituadas a receber sempre um «sim» da nossa parte, oferecerão uma resistência maior. Esta é uma luta difícil, mas as estratégias que apresentamos a seguir serão boas aliadas.
Dizer «não» sem dar explicações
Uma das coisas mais difíceis de fazer é dizer «não» sem grandes explicações. Acreditamos que se não explicarmos porque não podemos ou não queremos fazer algo, estamos a ser rudes ou mal-educados com a outra pessoa. Como já foi aqui dito, trata-se de um erro duplo, porque, por um lado, partimos do princípio de que o facto de não querermos ou não podermos fazer algo não é motivo suficiente para recusá-lo, e com isto estamos a invalidar completamente as nossas necessidades ou emoções, e, por outro, quando damos explicações, abrimos a porta para que os outros nos questionem e tentem encontrar argumentos ou alternativas para continuarem a insistir. Nunca é de mais lembrar que quando não fornecemos explicações não há nada a questionar porque nos baseamos simplesmente na nossa vontade de aceitar ou não algo, e isso não pode ser posto em causa.
É importante ressignificar o ato de dar ou receber um «não» como resposta: quando dizemos honestamente «não», estamos a comunicar que sentimos suficiente confiança no outro para podermos expressar com sinceridade a nossa vontade sem precisarmos de ornamentar isso com justificações extra. Da mesma forma, quando nos dizem «não», devemos apreciar a sinceridade do outro, não interpretando a sua resposta como algo negativo, mas como um sinal positivo de franqueza.
Importa não esquecer que se passámos toda a nossa vida a agradar aos outros e a dizer «sim» quando na verdade queríamos dizer «não», devemos ser muito pacientes connosco próprios e ir procurando, por tentativa e erro, expressar com calma a nossa vontade. Para fazer isso, precisamos de ser tolerantes e praticar, praticar, praticar. Aos poucos, vamo-nos familiarizando com a sensação (a princípio um pouco incómoda, mas depois completamente libertadora) de dizer «não», até chegar ao dia em que o fazemos com total normalidade.
Para isso, além das estratégias explicadas neste capítulo, existem algumas frases que pode ter sempre na manga para utilizar naquelas situações em que é apanhado completamente desprevenido. Estas são algumas das fórmulas para dizer «não» sem dar demasiadas explicações:
• Não estou com vontade, mas muito obrigado.
• Infelizmente, não vai ser possível.
• Sinto muito, mas não posso.
• Hoje não me apetece, mas muito obrigado pelo convite.
• Com toda a sinceridade, é mesmo impossível para mim.
• Para ser honesto, não me sentiria à vontade.
• Hoje não, obrigado. Talvez para a próxima!
• Muito obrigado, mas hoje não estou mesmo com vontade.
Agradecimento + não (+ desculpe) + cortesia
Esta é a estratégia assertiva mais básica para dizer «não»: primeiro, agradecer o convite ou a confiança depositada em si, depois dizer que não, educadamente, acrescentando um «sinto muito», «infelizmente» ou «tenho pena» (opcional, dependendo se realmente o sente ou não) e, por fim, concluir com um comentário educado. Esta última parte cumpre duas funções: a de acrescentar uma nota de gentileza à sua recusa, desejando algo de bom ao outro, e a de lhe dar a entender de forma subtil e elegante que «não insista».
Comunicação não-verbal: fale com um tom de voz firme e calmo, mantendo o contacto visual. Se, para além disso, sorrir (desde que seja sincero) ou fizer um gesto franco de agradecimento, a sua resposta, apesar de ser negativa, será agradável e bem recebida pelo destinatário.
Agradecimento + não + alternativa
Esta fórmula é uma variante das anteriores e sugere uma alternativa. Esta estratégia é especialmente indicada nos casos em que a recusa pode ser facilmente interpretada como falta de interesse ou uma forma de arrastar a situação. Por exemplo, se conheceu alguém e tem interesse em desenvolver mais a relação. Neste caso, se recusar o seu convite, mas propuser fazerem algo diferente noutra ocasião, transmitirá o seguinte: «Agora não estou com disposição/não posso, mas quero continuar a combinar coisas contigo.»
Numa situação em que estamos a tentar conhecer melhor uma pessoa, além de nos ajudar a demonstrar interesse por ela quando precisamos de recusar uma das suas propostas, esta estratégia também nos permite perceber se ela está interessada em nós ou não. Se na altura em que lhe propomos um plano alternativo, ela o recusa e não nos propõe mais nada, é provável que esteja a dizer-nos de forma subentendida que não está interessada em continuar a interagir connosco. Se nos apercebermos de que isso possa estar a acontecer, talvez seja melhor dar-lhe espaço e esperar que dê o próximo passo.
Pedir um tempo para responder
Muitas vezes sentimos urgência em dar uma resposta quando ainda não temos a certeza da nossa decisão. Não faz mal pedirmos um tempo para pensar. Na verdade, deveríamos fazê-lo com mais frequência para evitarmos arrepender-nos de algo ou ter de dizer à outra pessoa que mudámos de ideias, o que normalmente é mais incómodo do que dizer «não» desde o início.
Por isso, deve considerar a opção de pedir um tempo para responder. De igual modo, respeite o tempo de que as outras pessoas precisam para tomar as suas decisões.
Se utilizar esta técnica e, mesmo assim, a pessoa continuar a insistir, pode empregar a estratégia do disco riscado e, inclusive, fechar um pouco a postura, cruzando os braços ou as pernas. Em vez de manter os pés e o corpo voltados para o seu interlocutor, posicione-os ligeiramente para fora. Deste modo, consegue transmitir a ideia de que, para si, a conversa chegou ao fim.
A técnica do disco riscado
Esta técnica é muito eficaz para dizer «não», sobretudo quando a outra pessoa é insistente, nos pressiona ou tenta fazer chantagem emocional connosco. A estratégia consiste em repetir quantas vezes forem necessárias que não queremos ou não podemos fazer o que nos é pedido, sem alterar a nossa mensagem ou dar qualquer outro tipo de explicação. O mais interessante desta abordagem é que podemos aumentar ainda mais a sua eficácia combinando-a com outras técnicas.
É importante não levantar a voz nem falar num tom agressivo (mesmo que esteja a fazer um esforço gigantesco para manter a paciência, é importante permanecer sereno e inflexível); simplesmente responda com a mesma frase, as vezes que forem necessárias, num tom calmo, mas firme.
Felizmente, a maior parte dos adultos não são tão insistentes como uma criança ou um adolescente, de modo que os mais novos podem proporcionar-nos um bom treino para mais tarde conseguirmos aplicar esta técnica com outras pessoas. Lembre-se: se tiver resultado com um adolescente, daí para a frente será canja.
Quanto à linguagem corporal, direcione o corpo e os pés ligeiramente para fora. Pode, inclusive, deixar de manter o contacto visual, comunicando assim que está a encerrar a conversa. Mas se a pessoa for um osso duro de roer e continuar a insistir, seja muito mais contundente e direto, pedindo-lhe firmemente que pare com a insistência.
A comunicação não-verbal que acompanha o «Não insistas» pode ser adaptada ao contexto e à pessoa com quem estiver a falar. No exemplo anterior, uma conversa com um colega um pouco manipulador, demasiado insistente e sem respeito pela sua decisão, será adequado pôr uma cara séria e utilizar um tom de voz firme para transmitir contundência. Mas se estiver num contexto diferente, onde não existe uma intenção manipuladora da outra parte, como por exemplo quando a avó de uma amiga insiste consigo para que fique para o almoço e, sem querer manipulá-lo, continua a insistir porque julga que a sua recusa se deve a «cerimónia», «receio de incomodar» ou «vergonha» (o tipo de interpretação que as pessoas por vezes fazem por respeitarem certos códigos culturais de cortesia), talvez seja mais adequado recorrer a uma linguagem corporal que amenize a expressão «Não insista»: o gesto de levar as mão ao peito e uma pequena inclinação da cabeça, enquanto fecha os olhos por alguns segundos.
Com este gesto, apesar de fazer uma declaração verbal muito clara, transmite com o corpo um «peço-lhe que compreenda, por favor, obrigado», suavizando assim a mensagem sem deixar de ser explícito. Esta ferramenta de comunicação não-verbal é útil para todas as situações em que precise de ser claro, mas não muito ríspido devido às características do contexto ou da pessoa em questão.
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