Prazeres / Sabores

Vicentino, a herdade de vinhos do Alentejo suave, onde também podemos pernoitar

No final dos anos 80, o norueguês Ole Martin Siem tomou-se de amores pela paisagem do sudoeste alentejano, onde fixou os seus projetos de agricultura. Hoje, desenvolve uma marca de vinhos muito particular (Vicentino) e ainda um turismo de habitação que convida à tranquilidade.

Foto: DR
13 de março de 2025 | Maria João Martins

Aos olhos de quem desce a costa vicentina, da Comporta em direção ao Algarve, mar e céu chegam a confundir-se numa imensidão de azul. Esta é terra de lendas de mouras encantadas e navegantes extraviados. A mais famosa de todas é a que evoca a expedição marítima ali enviada por Afonso Henriques, para recuperar as relíquias de São Vicente, que se acreditava estarem submersas naquela costa. Durante a viagem, o navio ter-se-á perdido, até que apareceu um bando de corvos, que orientou a tripulação até o local do sepulcro. Duas dessas aves, consideradas fiéis guardiãs de São Vicente, acompanharam o barco com as relíquias na viagem de regresso a Lisboa, onde chegaram sãs e salvas.

Algarve
Algarve Foto: DR

Foi por este Alentejo de temperaturas amenas e histórias imemoriais que o norueguês Ole Martin Siem se tomou de amores no final da década de 1980, depois de ter visitado o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e considerar que tinha ali as melhores condições para desenvolver os seus projetos de agricultura. Décadas depois desse primeiro deslumbramento, associa, na sua vasta propriedade, a produção de culturas várias, muito voltadas para exportação, como as cenouras, as couves chinesas, as plantas ornamentais e, finalmente, a vinha, a que Ole Martin começou a dedicar-se a partir de 2007, em parceria com o casal francês Antoinette e Olivier Lemens.

Vinha 'Vicentino'
Vinha 'Vicentino' Foto: DR

Assim surgiu a marca Vicentino, que associa à tradição vinícola do Alentejo as particularidades climatéricas deste local. Invernos frescos e húmidos, verões suaves e a constante presença dos ventos do mar. Graças a isso, as uvas amadurecem lentamente e de forma uniforme, criando vinhos onde a elegância se sobrepõe à robustez. A Vicentino possui hoje cerca de 60 hectares de vinhas próprias, com variedades autóctones e internacionais, que beneficiam da experiência e conhecimento do enólogo Bernardo Cabral. Nos brancos, produz Alvarinho, Arinto, Viosinho, Sauvignon Blanc e Chardonnay e nos tintos, Touriga Nacional, Aragonez, Pinot Noir, Syrah, Merlot. Atualmente, tem 16 referências no portfolio, distribuídas por cinco gamas: Poente, Nascente, Neblina, Luar e Naked.

Vinha 'Vicentino'
Vinha 'Vicentino' Foto: DR

Em 2024, a marca passou a beneficiar de uma sofisticada adega, cheia dos mais modernos mecanismos para trabalhar o vinho, nas diversas fases de produção, desenhada pelo arquiteto Francisco Adão da Fonseca. Aqui, num espaço com uma vista privilegiada sobre o campo, é ainda possível adquirir vinhos da marca e fazer várias provas temáticas, com diferentes castas nacionais e internacionais acompanhadas por produtos regionais, como enchidos, queijos ou azeites da região de Odemira.

Adega 'Vicentino'
Adega 'Vicentino' Foto: DR

De difícil cultivo, as uvas Pinot Noir encontram nas vinhas Vicentino as condições perfeitas para ostentar os seus melhores atributos. Plantadas em solo argilo-xistoso tão perto do mar, amadurecem de forma lenta e equilibrada, beneficiando da constante presença da neblina e dos ventos marítimos, originando este vinho que representa a máxima expressão deste terroir.

Do portfolio do Vicentino fazem ainda parte os vinhos brancos Sémillon, Arinto e Alvarinho, os rosé Touriga Nacional, aragonês, os tintos Syrah, aragonez e Touriga Nacional. As novidades são o Moonlight Pinot Noir 2022, Reserva Tinto 2017, Moonlight Chardonnay 2021, Reserva Branco 2022, Sunrise Alvarinho 2021 e o espumante La Mer 2019.

Adega 'Vicentino'
Adega 'Vicentino' Foto: DR

O enoturismo faz ainda parte do conceito desenvolvido por Ole Martin. Nestas terras, a dois passos da Praia do Carvalhal e da Zambujeira do Mar, é possível fazer uma estadia nas casas de campo da propriedade: a Casa da Vinha, o cerro da vinha e os quartos da Casa da Palmeira. Todos munidos com uma biblioteca cuidadosamente selecionada, estes alojamentos são um convite ao sossego e à tranquilidade. Aqui, acorda-se com o canto dos pássaros e adormece-se a contemplar uma visão do céu impossível de captar numa grande cidade. Os antigos, como a minha avó materna, natural de Vila Nova de Milfontes, chamavam-lhe estradinha de Santiago. A razão é simples: em noites muito límpidas, frequentes nesta região, o céu era um guia seguro para os peregrinos que se dirigiam a Santiago de Compostela.

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