Visita guiada ao modernismo algarvio
The Modernist Weekend é um fim de semana temático dedicado à arquitetura modernista algarvia. Talvez surpreenda, mas Faro, onde decorre a iniciativa, tem centenas de edifícios modernistas. Alguns amados, muitos mal estimados.
Embora isso horrorize os cidadãos da Escandinávia, a maior parte de nós, do sul, gosta de espreitar para a casa das outras pessoas. Não necessariamente para ver o que é que lá fazem – isso seria falta de educação –, mas para ver o que é que lá têm. Ou, melhor dizendo, para ver como decoraram a casa. Paredes pintadas ou brancas? Cheias de livros ou cheias de fotografias? Divisões de inspiração minimalista ou a parecerem museus? Luminosidade acolhedora ou luzeiro bom para dissecar? Perguntas a que tentamos dar resposta nos poucos segundos que um transeunte tem para olhar para dentro de uma casa sem que isso se torne esquisito. Se esta é uma atividade que aprecia, vai ter, em breve, uma oportunidade de ouro de a pôr em prática. E nem sequer terá de se esconder atrás de um arbusto. De 9 a 12 de novembro vai decorrer, em Faro, a segunda edição do The Modernist Weekend, um fim de semana dedicado à arquitetura modernista, com passeios temáticos, casas abertas a visita, uma exposição, uma conferência, uma palestra e uma festa temática dos anos 70.
Talvez não saiba, mas o Algarve – e Faro, em particular – é pródigo em arquitetura modernista, com centenas de edifícios desenhados de acordo com o estilo, muito por conta do trabalho de Manuel Gomes da Costa. Este arquiteto algarvio estudou na Escola Superior de Belas Artes do Porto e, entre 1953 e 2002, assinou mais de 300 projetos na zona de Faro.
As visitas guiadas deste The Modernist Weekend vão dar a conhecer muitos dos edifícios desenhados por Manuel Gomes da Costa e outros com influência Bauhaus – a corrente artística e arquitetónica alemã que se desenvolveu entre 1919 e 1933: entre o final da Primeira Guerra e a chegada de Hitler ao poder.
Quem conhece bem Faro – ou pensa que conhece – ficará talvez surpreendido por descobrir que alguns edifícios pelos quais passa sem pestanejar são exemplos deste modernismo algarvio. Obras que merecem um olhar mais atento, uma vez que, em muitos casos, não são alvo de grande estima.
Um desses casos é o hotel The Modernist – vale a pena visitar o site nem que seja só para olhar para as fotografias –, que co-organiza esta iniciativa com o município de Faro e que, até há bem pouco tempo, a população local considerava "o prédio mais feio de Faro". Nada que um exercício de recuperação cuidadosa não resolva. Esse trabalho foi levado a cabo por Angélique e Christophe de Oliveira – ela francesa, ele lusodescendente – que tinham unidades de alojamento local em Paris, e que, depois do atentado no Bataclan, em 2016, decidiram criar os filhos num sítio mais tranquilo. Faro, onde passavam férias com frequência, foi a opção natural. Apaixonados pela arquitetura modernista, uniram-se ao município de Faro para a divulgar, lançando o The Modernist Weekend.
Para além deste "prédio mais feio de Faro" que já deixou de o ser, há, de resto, muitos exemplos de prédios de habitação desenhados por Manuel Gomes da Costa (não é o caso de The Modernist, que foi desenhado por Joel Santana e contruído em 1977) que perderam muito da sua traça original por causa dessa "doença" urbana chamada marquise.
A famosa Casa Gago, construída em 1955 e um dos edifícios mais icónicos da cidade, é um dos projetos de Manuel Gomes da Costa que manteve o seu desenho original, e constitui uma das paragens obrigatórias das visitas open house que vão decorrer. O roteiro inclui ainda a Casa 1923 – caso único de Arte Nova com elementos decorativos de Arte Déco, recuperada em 2022 e aberta ao público como unidade de alojamento local este verão – e a Alto House – projetada por Gomes da Costa, em 1964, como hotel de 15 quartos, e que vai reabrir em breve, também como alojamento, mantendo os traços originais.
The Modernist Weekend incluirá ainda a inauguração de uma exposição com artistas internacionais, na Fábrica da Cerveja, uma conferência sobre arquitetura e uma palestra com Adam Stech, especialista e investigador em design e arquitetura modernista e curador do coletivo criativo Okolo Architecture, sediado em Praga, na República Checa. O fim de semana de conhecimento e aprendizagem termina à moda dos anos 70: com um jantar seguido de festa no hotel Aeromar – outro edifício modernista.
Visitas e passeios estão limitados a 25 participantes e é necessária inscrição prévia. As visitas open house, com a duração de 30 a 45 minutos, custam 10 euros; já os passeios temáticos demoram entre uma hora e meia a duas horas e custam 20 euros por pessoa. O 70’s Dinner & Party, no hotel Aeromar, custa 35 euros por pessoa. Para mais detalhes sobre a programação visite o site da iniciativa.
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