Prazeres / Lugares

Villa Idalina: um monumento ao amor à beira do Minho

Em Seixas, Caminha, há um hotel-museu à espera de ser vivido – e não apenas visto. Esta majestosa mansão em estilo arte nova, um dos mais magníficos exemplares dos “Palacetes Brasileiros” construídos em Portugal no princípio do século XX, é hoje muito mais que mero símbolo de um glorioso passado.

Foto: DR
23 de setembro de 2024 | Miguel Judas

Mal se entra em Seixas, é impossível não dar por aquela casa apalaçada em estilo arte nova, com uma enorme torre virada para o rio Minho. Sendo uma tendência arquitetónica muito em voga nas grandes metrópoles mundiais no início do século XX, tal terá parecido, quando foi construída, em 1911, nesta pequena freguesia rural do concelho de Caminha, como algo vindo de outro mundo – e na verdade era. O mandante foi Joaquim Anjos da Costa, um filho da terra emigrado no Brasil durante cerca de duas décadas, onde fez fortuna no ramo da construção. Como era hábito na época, regressou às origens para mostrar quão bem-sucedido tinha sido e não fez a coisa por menos, construindo um dos mais magníficos exemplares dos "Palacetes Brasileiros" erguidos em Portugal no princípio do século XX.

A Villa Idalina era então uma casa à frente do seu tempo, já equipada com energia elétrica ou água canalizada aquecida, bem como outros pequenos luxos.
A Villa Idalina era então uma casa à frente do seu tempo, já equipada com energia elétrica ou água canalizada aquecida, bem como outros pequenos luxos. Foto: DR

A Villa Idalina era então uma casa à frente do seu tempo, já equipada com energia elétrica ou água canalizada aquecida, bem como outros pequenos luxos e detalhes que Joaquim Anjos da Costa foi conhecendo nas suas viagens pelo mundo e ali quis replicar, naquele palacete com vista panorâmica para o rio Minho. O nome da casa é especial, pois é uma homenagem a Idalina, uma mulher mais jovem que Joaquim conhecera no Brasil e com quem regressou a Portugal, depois de um casamento em segundas núpcias, para viver uma intensa história de amor, literalmente materializada nesta casa. A morte prematura de Idalina acabou com o sonho, com Joaquim a regressar destroçado para o Brasil e a casa a permanecer, fechada mas nunca esquecida, como um monumento ao amor.

Uma casa viva 

Esta história é contada aos hóspedes em jeito de romance, mal entram na Villa Idalina e enquanto são guiados pelos diversos (e por vezes labirínticos) espaços da casa, agora na posse de Andrés e Susana, "um casal galego com coração português" que a transformou, há quase dez anos, num verdadeiro hotel-museu, "onde todos os espaços podem ser vividos e não apenas vistos, tal como estivessem em casa", esclarece Susana.

 O nome da casa é especial, pois é uma homenagem a Idalina, uma mulher mais jovem que Joaquim conhecera no Brasil e com quem regressou a Portugal.
O nome da casa é especial, pois é uma homenagem a Idalina, uma mulher mais jovem que Joaquim conhecera no Brasil e com quem regressou a Portugal. Foto: DR

A casa chegou-lhes por herança familiar, depois de em 1968 um outro jovem casal galego, neste caso Lolita e Adolfo (os avós de Andrés), a terem comprado ao filho de Joaquim Anjos da Costa. E mais uma vez aqui se viveu "outra grande história de amor", de um pelo outro, mas também de ambos por esta casa "onde foram tão felizes" e que fizeram questão de manter tal e qual como sempre foi. 

A casa dispõe de inúmeros terraços, de onde se podem admirar maravilhosas vistas sobre a foz do Rio Minho. Toda a fachada está repleta de cantarias, azulejos pintados à mão e ferro forjado, que transportam os hóspedes para a época gloriosa dos seus proprietários originais. 

O interior da moradia encontra-se também num fantástico estado de conservação, com o chão em madeira de pinho amarelo e marchetaria, enquanto as paredes e os tetos são ornamentados em estuque. Todos os espaços são um verdadeiro deleite para os sentidos, destacando-se locais como a adega original (onde funciona um honesty bar) ou a torre, de cujo topo se obtém uma vista panorâmica sobre a Foz do Minho e a Galiza. Igualmente dignos de nota são os jardins, com um total de 6 mil metros quadrados, que podem (e devem) ser explorados com tempo e vagar, descobrindo recantos mais ou menos secretos como a Estufa Velha, a gruta, os estábulos com a carruagem original de Joaquim Anjos da Costa, a horta biológica ou a mais recente - mas não menos apetecível -, piscina.

Toda a fachada está repleta de cantarias, azulejos pintados à mão e ferro forjado, que transportam os hóspedes para a época gloriosa dos seus proprietários originais. 
Toda a fachada está repleta de cantarias, azulejos pintados à mão e ferro forjado, que transportam os hóspedes para a época gloriosa dos seus proprietários originais.  Foto: DR

Quanto aos quartos, também eles decorados com mobiliário original, são apenas seis, mas "todos diferentes e muito especiais", tal como se espera quando se está numa casa – e não num museu.

Villa Idalina 

Onde? Largo de São Bento, Seixas, Caminha Reservas +34 639154901

BRUNCH 

A Villa Idalina tem também disponível, mediante reserva antecipada, um serviço de brunch, que começa com um welcome drink, seguido de um passeio pelos jardins e de uma visita guiada pelo interior da casa. O brunch é depois servido na sala, onde podem ser provadas algumas especialidades caseiras, tanto doces como salgadas. O preço, de €40, inclui bebida (limonada, sangria, café, chá, leite...).

VER E FAZER

Ecovia do Caminho do Rio Minho 

Com início no Cais de São Bento, em Seixas, esta via, tanto pedonal como ciclável, proporciona ao visitante uma ampla vista sobre o estuário do rio Minho e a margem galega do mesmo. Durante o passeio podem ainda ser observadas diversas espécies aves, existindo para esse efeito vários observatórios ao longo do percurso. Ao longo deste percurso de apenas 2 km destacam-se ainda edifícios de elevado valor arquitetónico e histórico.

O interior da moradia encontra-se também num fantástico estado de conservação, com o chão em madeira de pinho amarelo e marchetaria, enquanto as paredes e os tetos são ornamentados em estuque.
O interior da moradia encontra-se também num fantástico estado de conservação, com o chão em madeira de pinho amarelo e marchetaria, enquanto as paredes e os tetos são ornamentados em estuque. Foto: DR

Centro Histórico de Caminha 

A porta de entrada deste belo centro histórico é a Praça Conselheiro Silva Torres, conhecida localmente como Terreiro e famosa pelas várias esplanadas à volta do chafariz, que, ao fim da tarde, talvez por influência da vizinha Galiza, se enchem de gente à conversa à volta e uma copo e de um petisco. Ali à volta e merecedores de visita são também o edifício dos Paços do Concelho, o palácio de estilo neomanuelino da Casa dos Pittas ou a Torre do Relógio. Um pouco mais além, ao fundo da rua, A igreja matriz assume-se como um dos maiores símbolos desta cidade fronteiriça, onde pode ser apreciado um original sacrário rotativo com cenas da Paixão de Cristo.

Praia do Camarido 

Protegida pela da Mata do Camarido, fica na junção do rio Minho com o Atlântico e deve o seu nome à antiga abundância de camarinheiras. A vegetação chega quase até à água, terminando num suave cordão dunar, que separa o pinhal deste areal banhado por águas prateadas. Situada bem perto do parque de campismo de Caminha, dispõe de dois bares, de redes de vólei e é possível alugar barcos para passear no rio. É composta por um pequeno setor fluvial e outro marítimo. Este último, bem maior que o primeiro, é constituído por um crescente de areia fina, com cerca de dois quilómetros de extensão, que liga, a sul, à Praia de Moledo.

A vegetação chega quase até à água, terminando num suave cordão dunar, que separa o pinhal deste areal banhado por águas prateadas.
A vegetação chega quase até à água, terminando num suave cordão dunar, que separa o pinhal deste areal banhado por águas prateadas. Foto: DR

Cascata do Pincho 

A mais bonita das quedas de água do rio Âncora é um verdadeiro tesouro por descobrir. São vários os modos de lá chegar, mas quem gostar de caminhar pode percorrer do Trilho do Pincho, um percurso pedestre com cerca de 9 km de extensão, com partida e chegada em São Lourenço da Montaria, já no concelho de Viana do Castelo. Em pleno coração da Serra de Arga, esta cascata e a respetiva lagoa que aí se forma, é uma excelente alternativa às praias, por vezes tão ventosas, do litoral.

Monte de Santa Tecla 

Do outro lado da foz do Minho, já na Galiza, o santuário do Monte de Santa Tecla continua a vigiar, sereno, o eterno casamento entre o rio e o mar, que ocorre junto à pequena ilha do Forte da Ínsua, mesmo em frente à praia. Tem 341 metros de altitude e maias ou menos a meio da encosta podem as ruínas da citânia de Santa Trega, onde terão vivido entre três mil a cinco mil pessoas no século IV a.C.

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