“O escritório, tal como o conhecemos, já não funciona para os desafios que as empresas têm de enfrentar"
Uma das mais relevantes empresas de design do mundo, a Vitra, criou o Club Office um espaço de trabalho pensado para responder aos desafios de um mundo em mudança. A MUST esteve em Madrid a conversar com Tim Reusch, um dos responsáveis por este novo projeto da gigante suíça, para perceber melhor como vão ser os nossos escritórios.
Podemos continuar a ir trabalhar como se nada se tivesse passado? E será que devemos fazê-lo? Os antigos ambientes de trabalho ainda fazem sentido no mundo atual? E quais são, afinal, as mais valias de um escritório? Estas − e muitas outras dúvidas – têm estado na ordem do dia e gerado acesas discussões em diversas organizações.
Empresas, pequenas e grandes, espalhadas por todos os setores de atividade procuram adaptar-se ao abalo que a pandemia provocou nas relações laborais – porque nunca tinha havido um terramoto como este. Foi precisamente ao olhar para os escritórios vazios que Nora Fehlbaum, CEO da Vitra, decidiu criar o Club Office na sede da companhia, em Birsfelden, Suíça. Trata-se de um espaço diferente, desenhado para imaginar e dar soluções para muitas das nossas dúvidas. Para tal contou com a ajuda de Tim Reusch, responsável pelo Consulting e Planing Studio da empresa fundada por Rolf Fehlbaum em 1953. Foi com ele que nos encontramos em Madrid, para perceber melhor de que forma este Club Office pode ajudar diferentes empresas e como pode ser aplicado na prática. Para começar, lançamos-lhe a pergunta que Nora Fehlbaum tinha feito no dia da apresentação oficial do projeto: "Por que alguém irá deslocar-se para o escritório hoje em dia?"
"Quando fazemos parte de uma organização", responde-nos, "fazemos parte de algo um pouco maior do que nós. Por isso precisamos de voltar a interagir uns com os outros, pois não existe nenhum substituto para o contacto direto nas relações humanas, sobretudo para estabelecer os laços de confiança que necessitam de ser criados dentro dos grupos de trabalho. Quando me perguntam o que vamos encontrar no escritório do futuro, respondo sempre ‘em primeiro lugar, pessoas’. Digo-o a brincar, mas é verdade."
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Segundo Reusch, isso não significa que possa tudo voltar ao que existia antes da pandemia até porque, avisa, "o escritório, tal como estava desenhado também já não servia para os desafios que as empresas vão ter de enfrentar no futuro". Isto é algo que tem muito claro: "Não precisamos de uma bola de cristal para saber quais serão esses desafios porque já os estamos a viver agora– e não deverão mudar nos próximos anos." Fala sobretudo das questões ambientais e dos avanços digitais, dois fatores que "vão moldar os negócios no futuro e terão forçosamente um impacto no design dos escritórios."
Mas antes de avançar mais no tema, explica-nos ainda que cometemos demasiados erros no passado. "Os escritórios eram vistos como meros espaços de produtividade. A lógica era ‘Está aqui a trabalhar, logo está a produzir’". Os cubículos foram o expoente máximo desta ideia, "desenhados para permitir que o trabalhador tivesse tudo o que necessitava à mão, mas no final percebeu-se como trabalho não pode ser confundido com produtividade." Faz um pequeno parêntesis, para deixar claro que "no final do dia, o trabalho precisa de ser feito, isso é algo que nunca nos podemos esquecer," mas "faltava levar em conta as necessidades das pessoas."
Como reposta surgiram os chamados open spaces, "que já não prendiam as pessoas" e todas as empresas quiseram aderir, para mostrar a sua modernidade. Infelizmente, na sua maioria, "estes espaços eram criados só com essa ideia, serem abertos, mas sem ter em conta as necessidades específicas de cada empresa e dos seus funcionários". Foi então a aprender com estes erros do passado que a Vitra idealizou e desenhou o Club Office, um espaço mais fluído e versátil, com diferentes soluções para diferentes objetivos − e muito mais adaptável. "A distribuição do espaço de escritório vai ter de mudar", diz-nos Reusch, "haverá muito menos necessidade de ambientes com postos fixos para trabalho individual, enquanto as áreas de colaboração para reuniões e trocas de ideias vão tornar-se cada vez mais importantes". O objetivo, como se percebe, será sobretudo o de promover o contacto entre as pessoas, o debate e a troca de ideias, "onde os funcionários se possam sentir parte de um todo maior. Quem precisa de estar isolado, a terminar um trabalho por exemplo, até o pode fazer em casa. Não precisa de ir ao escritório."
Este novo local terá assim diferentes espaços, uns públicos, outro semi-públicos e outros mais privados e isolados. Na certeza de que nenhum trabalhador "necessita de ficar preso ao seu espaço". E são vários os exemplos de escritórios que, nos últimos anos, têm nascido com base neste ADN, como são os casos da sede da PricewaterhouseCoopers (Pwc) ou do banco Santander, ambas em Madrid.
Tim Reusch explica que qualquer empresa pode contratar os serviços do Consulting e Planing Studio da Vitra, que irá "sempre oferecer um serviço personalizado, levando em conta a cultura de empresa e as necessidades específicas do cliente". Muitas vezes trabalham em conjunto com os próprios arquitetos contratados pelas empresas para desenhar os escritórios, que assim também "podem beneficiar do nosso know how nesta matéria". O serviço tem um custo, é claro, mas "podemos até ser contratados mesmo que não comprem nenhum dos produtos Vitra".
É uma hipótese, mas não aquela que preferem, naturalmente, até porque a Vitra não esqueceu o seu ADN – que é design de produto – e, portanto, lançou várias soluções de mobiliário mais versáteis, que se adaptam perfeitamente a esta nova lógica. Produtos dinâmicos como a Alcove, desenhada pelos irmãos Ronan & Erwan Bouroullec, que permite em segundos criar novos cubículos ou salas de reunião, tornado o escritório ainda mais ágil e moldável. Ou a Dancing Wall, uma parede multifunções que pode ser movida consoante as necessidades do momento, ou soluções muito mais confortáveis e convidativas como o Soft Work, um sistema de sofá modular com funções ergonómicas, de Edward Barber e Jay Osgerby. Ou ainda a nova Locker Box, criada por Konstantin Grcic, que permite transportar de um lado para o outro (de casa para o trabalho e vice-versa) os nossos materiais de escritório.
Todas estas ideias farão do novo escritório um local muito mais convidativo. Nas palavras de Nora Fehlbaum, "O escritório de hoje precisa de fornecer valor acrescentado. Tem de ser mais do que apenas um lugar para trabalhar".
Vitra Originals & Their Stories em Lisboa
Qual o significado de um original quando falamos de design? De 22 a 26 de novembro, Lisboa vai receber um ciclo de talks que tem como tema Vitra Originals & Their Stories. Uma semana dedicada ao universo da Vitra, que conta com a participação de Joana Astolfi, Manuel Aires Mateus, Daniela Franceschini, Paulo Jervell e José Mateus. Convidados a viajar pelo universo Vitra, o seu passado, presente e futuro, os arquitetos escolheram 5 cadeiras Originals by Vitra como mote para estas conversas moderadas pela jornalista Patrícia Barnabé. São elas a Lounge Chair desenhada Charles & Ray Eames; a Cité de Jean Prouvé; a Grand Repos de Antonio Citterio; a Tip Ton de Edward Barber e Jay Osgerby; e a EVO-C de Jasper Morrison.
As conversas vão desenrolar-se em redor das histórias de cada uma destas cadeiras, elas próprias simbólicas de determinadas décadas e fases da história do fabricante suíço, abordando e debatendo questões como a sustentabilidade do design - um tema central em todas as atividades da Vitra - ao porquê de investir num original, sem esquecer a forma como o design se relaciona com a arquitetura.
O registo para assistir às Vitra talks poderá ser feito AQUI.
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