9 trilhos para percorrer em família neste início de primavera
De Paredes de Coura a Mértola, Portugal tem dos trilhos mais bonitos da península, adequados a famílias com crianças, mas também aos aventureiros mais temidos, prontos a fazer mais quilómetros para ver a beleza da natureza.
NORTE
Trilho do Sistema Solar (Vascões, Paredes de Coura)
Poucos o saberão, mas a pouco menos de oito quilómetros do centro da vila de Paredes de Coura, num planalto no topo da serra, fica um dos mais pitorescos exemplos do modernismo português tentado implementar pelo Estado Novo, algures entre as décadas de 40 e 50. A antiga colónia agrícola de Vascões nunca chegou a ser o kibutz à portuguesa que Salazar pretendia, mas ainda hoje continua a marcar a paisagem e a memória coletiva da região. Foram na altura construídas 15 casas geminadas, com dois pisos cada, terreno para cultivo e mordomias como garagens, casas de banho ou cozinhas com água canalizada, além de um sistema de combate a fogos e de rega dos campos. Todo um luxo, quando se tem em conta a realidade da região à época, a que se acrescentava uma escola primária e a casa do professor. Com a extinção definitiva da colónia, em 1998, estes equipamentos deram lugar a um moderno Centro de Educação e Interpretação Ambiental, aberto desde 2007 e de onde parte um curioso percurso pedestre, com pouco mais de oito km, que recria, à escala, o sistema solar ao longo da paisagem protegida do Corno do Bico, uma das maiores manchas de Carvalho Português, situada a mais de 800 metros de altitude. Um cenário de sonho, que mais parece saído de um conto de fadas, onde o bucólico verde dos musgos se mantém até no pino do verão, não faltando sequer uma esquiva alcateia de lobos.
Partida: Centro de Educação e Interpretação Ambiental do Corno de Bico
Chegada: Miradouro do Corno do Bico
Extensão: 8 km
Dificuldade: Baixa
Trilho Interpretativo do Mezio (Mezio, Arcos de Valdevez)
Com início junto a uma das portas oficiais do Parque Nacional da Peneda Gerês, à qual se aconselha uma visita prévia, este percurso destaca-se pelo seu rico património arqueológico, mas também pela paisagem florestal, devido à grande diversidade de espécies vegetais, fruto da intervenção humana, e ainda por alguns exemplos de arquitetura rural, nomeadamente um curral e as ruínas de uma branda de gado. Mas o maior cartão-de-visita são os diversos monumentos funerários pré-históricos existentes ao longo deste percurso de pequena rota. O mais conhecido é a Anta grande do Mezio, um dos mais notáveis monumentos da época megalítica do PNPG, constituído por uma câmara poligonal de sete esteios (lajes verticais), sobre os quais assenta uma tampa, à qual se acede por um corredor virado a nascente, formado por esteios de menores dimensões, cobertos também eles por tampas. Já o Centro Interpretativo inclui um parque escultórico com as mais emblemáticas espécies animais da região, canteiros com flora do parque, um museu com o espólio das escavações do Núcleo Megalítico do Mezio e uma zona de lazer com piscina, circuito de manutenção e ginásio ao ar livre. Conta também com um Parque Biológico com aninais selvagens que já não possam ser devolvidos à natureza, como o javali, o corço e o veado, e uma quinta pedagógica com espécies domésticas autóctones como a galinha-preta-Lusitânica, a ovelha Churra do Minho ou a vaca Cachena, ainda hoje tão comum nestas serranias.
Partida e chegada: Centro Interpretativo do Mezio
Extensão: 2 km
Dificuldade: Baixa
Trilho dos Moinhos do Pontido (Póvoa do Lanhoso)
O aprazível parque urbano do Pontido é o ponto de partida deste percurso linear, que percorre inicialmente as margens da ribeira do Pontido, numa sucessão de açudes e quedas de água, que em tempos alimentavam vários moinhos, hoje em ruínas mas visitáveis nesta primeira parte do passeio. Após uma pequena subida, o trilho afasta-se do curso de água e interseta-se a via romana XVII, importante eixo viário do tempo do império, que ligava Bracara Augusta (Braga) a Asturica Augusta (Astorga, Espanha) e atualmente integra a Grande Rota 117. Neste ponto, pode-se optar por fazer um desvio até a uma árvore monumental com mais de 500 anos, o Carvalho de Calvos, considerado o mais antigo da Península Ibérica e o segundo mais velho da Europa; Ou continuar diretamente para o Castelo de Lanhoso, atravessando um pouco mais à frente uma ponte formada por blocos graníticos.
Inicia-se então uma vigorosa subida por uma estrada florestal, por entre pinheiros e eucaliptos, até se chegar à estrada asfaltada, que terá de ser cruzada para continuar, morro acima, até ao sopé da fortaleza. Ali, espera-nos mais desafiante ascensão, antes de conquistarmos finalmente o castelo, que no século XII foi determinante para a defesa e ampliação do Condado Portucalense, sendo também um dos monumentos nacionais que melhor evoca a memória de D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal. Além disto tudo, fica situado no topo de um enorme penedo, com uma soberba vista panorâmica para as serras da Cabreira e do Gerês e para os vales do Ave e do Cávado, como José Saramago tanto enaltece no livro Viagem a Portugal, chamando-lhe "o nosso grande Evereste". Tratando-se de um percurso linear, para regressar desde aqui até ao ponto de partida, ter-se-ia de voltar tudo para trás, mas em contrapartida pode-se descer, primeiro, pela encosta do Santuário de Nossa Senhora do Pilar, visitando as capelas da Via-Sacra e o castro romanizado conhecido como Citânia de Lanhoso e descer depois pelas ruas da vial até ao ponto de partida.
Partida: Parque do Pontido
Chegada: Castelo de Lanhoso
Extensão: 5 km
CENTRO
Rota dos Fósseis (Penha Garcia, Idanha-a-Nova)
Quem avista estas escarpadas arribas desde o alto, do topo das muralhas do velho castelo de Penha Garcia, dificilmente imaginará que, em tempos há muito idos, todo este território esteve submerso por um mar pouco profundo. A prova está lá em baixo, nos fósseis deixados na rocha pelos trilobites, uma espécie de artrópodes marinhos que viveu nos mares do Paleozóico, há cerca de 400 milhões de anos. Movimentavam-se arrastando-se pelo fundo do oceano e são essas marcas, denominadas cruzianas, que tanto impressionam os visitantes desta remota aldeia, hoje tão distante da costa. O percurso percorre todo o desfiladeiro escavado pelo Rio Ponsul, que cai em pequenas cascatas, até acalmar numa convidativa piscina fluvial com deck de madeira e vista sobre o vale. O caminho continua depois ao longo das antigas casas dos moleiros e dos seus moinhos de rodízio - movimentados a água - até regressar de novo à aldeia, onde, no forno comunitário, ainda se continua a cozer o célebre pão de Penha Garcia, por entre cantilenas acompanhadas pelo toque do adufe.
Partida e chegada: Castelo de Penha Garcia
Extensão: 3 km
Dificuldade: Baixa
Percurso da Fórnea (Alcaria, Porto de Mós)
Vista desde o alto, junto à localidade de Chão das Pias, o fenómeno geológico da Fórnea apresenta-se como um imenso anfiteatro natural, criado por um aparente abatimento da crosta terrestre, que se prolonga até Alcaria, a aldeia onde o percurso tem início. Como os solos da Serra de Aire e Candeeiros são ocos e apresentam vácuos, não só dão origens a grutas, como também a depressões como esta, igualmente rodeada de cursos de água. O trilho começa por avançar pela zona da Várzea, por um vale de oliveiras, sempre junto ao ribeiro da Fórnea e em direção à nascente. Cá de baixo, o semicírculo da Fórnea, com 500 metros de diâmetro e 250 metros de altura, apresenta-se envolvido pela Serra de Ladeiras, Pena de Águia e Cabeço Raposeiro, tornando-se ainda mais impressionante, tal como o cenário no seu interior, esculpido ao longo de milénios pela erosão provocada pelas águas, tanta as da chuva como as das nascentes que aqui brotam à superfície. Um dos pontos altos do passeio é a cascata da Fórnea, mas avançando um pouco mais, até à encosta, que é necessário subir mais ou menos até meio, encontra-se a gruta da Cova da Velha, onde fica a nascente que alimenta a ribeira da Fórnea, também ela visitável.
Partida e chegada: Alcaria
Extensão: 2 km
Ecovia da Lagoa Óbidos (Bom Sucesso, Óbidos)
Desenvolvida ao longo das margens do imenso espelho de água da Lagoa de Óbidos, entre caminhos de terra batida, passadiços e antigos trilhos de pescadores, esta ecovia revela locais como o parque de merendas das Salinas, junto à foz do rio Arelho, onde foi edificada uma enorme torre de observação de aves; ou a aprazível praia fluvial do Covão dos Musaranhos, na qual ainda podem ser vistas algumas bateiras, os tradicionais barcos usados pelos pescadores na lagoa. Sempre com passagem por locais de grande beleza paisagística e de uma enorme riqueza em termos de fauna e flora. Pode ser iniciada no Parque da Cativa (mais para o interior), no Parque das Salinas, no Covão dos Musaranhos ou na aldeia dos pescadores do Bom Sucesso, já junto ao mar, onde a apanha de bivalves pelos mariscadores locais ainda é, a par da pesca, uma importante atividade económica. Outra caraterística importante desta ecovia é que permite a ligação com os outros três importantes percursos pedestres do concelho de Óbidos: a Ecovia do Arnóia, a Rota das Poças e o Trilho dos Patos Reais, que acompanha também a margem da lagoa em cerca de 3 quilómetros ao longo do Braço da Barrosa.
Partida: Bom Sucesso
Chegada: Parque de merendas das Salinas
Extensão: 11 km
Dificuldade: Baixa
SUL
Marinhas de Sal de Rio Maior (Marinhas de Sal, Rio Maior)
Este curto percurso pedestre dá a conhecer o singular fenómeno geológico das salinas de Rio Maior, um dos maiores símbolos do Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros. Situadas no sopé da Serra de Candeeiros, 100 metros acima do nível do mar e a mais de 30 quilómetros da costa, estão em funcionamento desde 1177, quando o terreno foi adquirido pela Ordem dos Templários. Únicas em Portugal, estas salinas naturais têm origem numa extensa e profunda mina de sal-gema, atravessada por uma corrente subterrânea, que alimenta um poço de onde se extrai a água, "sete vezes mais salgada que a do Oceano Atlântico", tal como é explicado aos visitantes na placa informativa onde o passeio tem início. O complexo é rodeado por um pitoresco casario, composto por pequenas cabanas em madeira – incluindo os ferrolhos – assim construídas para evitar a corrosão provocada pelo sal e que servem para armazenar o valioso tesouro. Após algumas centenas de metros a acompanhar as salinas em caminho de terra batida, o percurso continua por terrenos florestais de pinhal e eucaliptal. Ao chegar a uma vinha, vira-se para a povoação de Fonte da Bica, de onde se desce, pela vertente norte da aldeia, em direção em ponto de partida, sempre com uma soberba vista sobre o vale e as salinas.
Partida e chegada: Marinhas de Sal
Extensão: 3 km
Dificuldade: Baixa
Ao Ritmo das Águas do Vascão (Mesquita, Mértola)
A meio caminho entre Mértola e Alcoutim, a aldeia da Mesquita é uma verdadeira encruzilhada na confluência de todas as pequenas e grandes rotas que cruzam esta região – Grande Rota do Guadiana, Via Algarviana, Percursos de Andaluzia e Pequenas Rotas de Mértola e Alcoutim. A própria aldeia tem até uma rede própria de trilhos, com cerca de 35 quilómetros, marcada e mantida por um inovador projeto turístico, que devolveu à pequena e isolada localidade parte da vida de outrora, muito à conta dos caminhantes. Este percurso começa junto ao fontanário da Mesquita e é um dos mais curtos e fáceis, o que não significa, bem pelo contrário, que a paisagem seja menos bonita. Logo no início salta à vista a Igreja de Nossa Senhora das Neves, num monte sobranceiro à aldeia, que permite apreciar grande parte dos cerros à volta. A paisagem é aqui dominada por uma vasta área de vegetação rasteira, designada localmente por "matos", entremeados por algumas oliveiras dispersas. Um pouco mais adiante, a vegetação torna-se mais densa, sobressaindo a esteva e o rosmaninho. Uma das melhores épocas para caminhar por aqui é durante a primavera, quando estes campos ganham um manto de coloridas flores sobre o verde vivo da erva fresca. No caminho encontram-se várias bifurcações, tomando-se sempre o caminho da direita. Na descida para o Vascão, o curso de água que aqui marca a fronteira natural com o Algarve, o percurso torna-se mais pedregoso e os loendros anunciam a presença próxima da ribeira. Perto de uma zona de pomar é ainda possível observar as ruínas de dois moinhos (o Moinho Novo e o Moinho de Melão). Já na margem da ribeira, com tempo e paciência, avistam-se por vezes alguns texugos e lontras. E se o calor apertar impõem-se um mergulho nestas frescas e límpidas águas, apenas na companhia das diversas espécies de libélulas e libelinhas que por aqui abundam.
Partida e Chegada: Mesquita
Extensão: 2,5 km
Dificuldade: Baixa
Trilho da Ilha Barreta (Ilha Barreta, Faro)
Como o acesso só é possível de barco, há um serviço de ferry que, seis vezes ao dia, faz a ligação entre Faro e a Ilha Barreta. Mal se põem o pé na ilha há duas possibilidades: ir diretamente para o areal, à esquerda, ou seguir pela direita, pelo percurso pedonal de interpretação da ria e das dunas, que se estende desde o cais, ao longo de cerca de dois quilómetros, até ao cabo de Santa Maria, o ponto mais a sul de Portugal continental. O caminho desenvolve-se através de um passadiço de madeira sobrelevado, de modo a não danificar os frágeis ecossistemas dunares, acompanhando a zona ribeirinha junto à ria, cujas calmas e límpidas águas impõem, de vez em quando, uma paragem, para um refrescante mergulho. Além da paisagem deslumbrante, pelo caminho podem ainda ser observadas algumas das espécies que fazem do Parque Natural da Ria Formosa um verdadeiro santuário para aves aquáticas. O percurso atravessa depois a ilha, terminando mesmo em frente ao Cabo de Santa Maria, o ponto mais a sul de Portugal Continental, assinalado com uma curiosa instalação artística, a fazer lembrar uma árvore, construída com restos de madeira vindos do mar. À beira-mar, uma constelação de pequenas conchas parece agora indicar o caminho para o paraíso, aqui sob a forma de um areal quase deserto, que se estende ao longo de quase nove quilómetros.
Partida e chegada: Cais da ilha Barreta
Extensão: 3 km
Dificuldade: Baixa
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