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Mazda Colour Event. A cor segundo a Mazda

Um evento organizado por um fabricante automóvel, mas cujo ponto fulcral não foi necessariamente o automóvel: o Mazda Colour Event, que teve lugar na Provença, celebrou o primado da cor e a sua importância no processo de fabrico – do dito automóvel, lá está.

Foto: DR
01 de julho de 2024 | Luís Merca

O que é a cor? E será que existe mesmo?

Cor é a perceção visual provocada por um feixe de luz que incide sobre a nossa retina, transmitindo determinadas impressões ao sistema nervoso através do nervo ótico. Um determinado objeto tem uma determinada cor ao refletir uma onda a uma determinada frequência. As diversas cores são, assim, apercebidas consoante os comprimentos de onda do espetro eletromagnético. Se o branco é considerado a sobreposição de todas as cores primárias, o preto é a ausência de luz, logo, de frequências de onda que possam ser consideradas como cor. Já no caso de uma luz branca, esta pode ser decomposta em todas as cores se a passarmos através de um prisma.

Ocre, o ingrediente-base

A cerca de 80 km a norte de Marselha, a pequena cidade de Roussillon apresenta-se ao visitante no topo de uma colina e com as suas casas pintadas de ocre. Vermelhas, alaranjadas, amarelas, algumas delas foram pintadas há mais de 70 anos e ainda não necessitaram de nova pintura. Ocre não é apenas a cor, é também o material que é conhecido há milhares de anos e que os romanos, entre outros povos, usavam para pintar as suas casas.

A cerca de 80 km a norte de Marselha, a pequena cidade de Roussillon apresenta-se ao visitante no topo de uma colina e com as suas casas pintadas de ocre.
A cerca de 80 km a norte de Marselha, a pequena cidade de Roussillon apresenta-se ao visitante no topo de uma colina e com as suas casas pintadas de ocre. Foto: DR

E como aparece o ocre neste local, no interior da Provença? Há 300 milhões de anos, aqui era o fundo do mar. Muitas e violentas convulsões tectónicas depois, uma cordilheira de 30 km de comprimento surgiu à face da Terra, trazendo até à superfície esse mesmo fundo do mar. Em termos químicos e geológicos, a sua composição é basicamente ferro (Fe), ou antes, óxido de ferro (Fe2O3), já que no momento em que contacta com o oxigénio, o ferro transforma-se imediatamente nesse óxido.

Desde tempos imemoriais, Roussillon viu-se rodeada de várias pedreiras de extração da rocha que contém o ocre (15% dele em 100% de matéria extraída, pelo que 85% da extração é... pedra). Na segunda metade do século XIX, uma fábrica de processamento do ocre foi inaugurada ao lado das pedreiras, para melhor otimizar o processo de moagem, lavagem e secagem, que resultaria no ocre propriamente dito. Essa fábrica foi entretanto desativada e nela funciona agora um museu que preserva a informação do que foi esta atividade.

Na segunda metade do século XIX, uma fábrica de processamento do ocre foi inaugurada ao lado das pedreiras, para melhor otimizar o processo de moagem, lavagem e secagem, que resultaria no ocre propriamente dito.
Na segunda metade do século XIX, uma fábrica de processamento do ocre foi inaugurada ao lado das pedreiras, para melhor otimizar o processo de moagem, lavagem e secagem, que resultaria no ocre propriamente dito. Foto: DR

Então e o azul, cor de reis e imperadores?

Se o ocre assegura(va) as cores desde o vermelho até ao laranja e ao amarelo, qualquer destas em várias tonalidades; e o verde era obtido, principalmente, recorrendo ao cobre; o preto, não é difícil de adivinhar, resultava do carvão; e o branco, primeiramente carbonato de cálcio (giz) e mais tarde, para mal de milhões de pessoas, o venenoso e mortífero chumbo; a cor azul permaneceu desde sempre a mais difícil de obter. Privilégio de reis e de imperadores, que a usavam nas suas capas como sinal de superioridade em relação aos demais, o azul era obtido através do lápis-lazuli, uma pedra semi-preciosa, consequentemente cara. Obtido a partir das folhas de uma planta originária da Índia, entra em ação séculos mais tarde o indigo, um composto orgânico largamente utilizado no tingimento da ganga – sim, blue jeans – e o azul democratizava-se. 

Alena Gersonde, Senior Designer, usa as tradicionais técnicas artesanais como inspiração para as cores dos futuros modelos.
Alena Gersonde, Senior Designer, usa as tradicionais técnicas artesanais como inspiração para as cores dos futuros modelos. Foto: DR

Fabricar tinta

Se existisse uma bíblia das tintas, nela ler-se-ia: "No princípio, era o pigmento". Mas este por si só não produz tinta, no fim de contas ele não passa de um composto químico reduzido a pó. Há que misturá-lo com um agente de ligação, uma base líquida que lhe permita combinar-se. Se esse agente for H2O (água, esse composto tão ‘sui generis’), nas proporções certas produziremos aguarela. Se a isso adicionarmos um espessante como a goma arábica, obteremos guache (sim, aquele com que pintávamos na escola). E se, em vez disso, utilizarmos a caseína do leite, presente, por exemplo, no iogurte, o resultado é uma têmpera insolúvel em água após a secagem. Da mesma forma, o ovo proporciona diversos tipos de têmpera, quer se use inteiro, quer apenas a gema ou apenas a clara.

Os ‘robots’ que povoam as modernas fábricas executam ligeiros ‘twists’ para melhor aplicarem a névoa de tinta e darem-lhe ângulos diferentes quando esta pousa sobre a dita superfície.
Os ‘robots’ que povoam as modernas fábricas executam ligeiros ‘twists’ para melhor aplicarem a névoa de tinta e darem-lhe ângulos diferentes quando esta pousa sobre a dita superfície. Foto: DR

Os artesãos-pintores japoneses

Takumi: palavra japonesa que significa "artesão". Etimologicamente, é a junção de "taku" (fazer) com "mi" (ver). Num país orgulhoso das suas raízes como é o Japão, o artesão especializado – neste caso que nos interessa, na pintura – é um agente prestigiado e respeitado. E sendo, entre as marcas japonesas, uma das que mais apela a esses valores tradicionais nipónicos, a Mazda faz alarde das técnicas (de pintura) ancestrais e da forma como as soube transpor para o processo moderno de fabrico. De automóveis, está visto. Um pormenor delicioso que ilustra bem o conceito "takuminuri" (a arte executada pelo Takumi): da mesma forma que um pintor que manuseia um aerógrafo ou um pincel faz ligeiros movimentos com o pulso, como que "varrendo" a superfície a pintar, também os ‘robots’ que povoam as modernas fábricas executam ligeiros ‘twists’ para melhor aplicarem a névoa de tinta e darem-lhe ângulos diferentes quando esta pousa sobre a dita superfície.

Desde 1960, ano em que a marca lançou o R360 Coupé, o seu primeiro automóvel de produção em série, que o vermelho figura no catálogo de cores.
Desde 1960, ano em que a marca lançou o R360 Coupé, o seu primeiro automóvel de produção em série, que o vermelho figura no catálogo de cores. Foto: DR

Mazda Colour Event

Tendo como ‘leitmotiv’ as cores criadas para o lançamento do novo modelo CX-80, o evento que a Mazda levou a cabo na Provença serviu para celebrar o contributo dos mestres artesãos Takumi, e ao mesmo tempo chamar a atenção de jornalistas e influenciadores para a temática da cor: desde a sua criação enquanto tinta para pintura, até ao ato de pintura ele próprio, seja executado por mão humana, seja pelos referidos ‘robots’ que assumem, nas fábricas atuais, o lugar dos trabalhadores homens e mulheres.

A partir do Centro Europeu de Design da marca, na Alemanha, mas trabalhando em estreita colaboração com a sede em Hiroshima, a alemã Alena Gersonde, Senior Designer, usa as tradicionais técnicas artesanais como inspiração para as cores dos futuros modelos. Para ela, "as cores têm certos efeitos, desejados ou não. Cores mais escuras, geralmente, fazem os carros parecer menores. Tons mais claros, por outro lado, tornam o veículo visualmente maior. No caso de modelos menores, a cor também pode ser um grito [de afirmação ou de chamada de atenção], seja um amarelo berrante ou um verde berrante. Isto fica bem num carro pequeno, mas rapidamente se torna demasiado colorido em superfícies exteriores maiores".

O novo modelo CX-80.
O novo modelo CX-80. Foto: DR

Da mesma forma, a cor vermelha tem sido sempre a ‘signature colour’ da Mazda. Desde 1960, ano em que a marca lançou o R360 Coupé, o seu primeiro automóvel de produção em série, que o vermelho figura no catálogo de cores. Não admira, por isso, que das quatro atuais cores Takuminuri – ‘Machine Gray’, ‘Rhodium White’, ‘Soul Red Crystal’ e ‘Artisan Red’ – as duas últimas sejam precisamente interpretações de vermelho. São cores industriais com um acabamento de artesão.

Saiba mais Prazer, Viver, Mazda, Cor, Mazda Colour Event, Provença
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