Fórmula 1: glória ou vergonha?
Um campeonato do mundo decidido na última volta da última corrida, alguém poderia desejar melhor? Se calhar sim... talvez que a Fórmula 1 não se tivesse juntado ao futebol, à política e à religião, tornando-se um tema “tóxico”, pouco ou nada transparente e impossível de se discutir de uma forma racional e desapaixonada.
Os factos
São cinco, tal como as voltas em que tudo se resolveu: primeiro, Max Verstappen e Lewis Hamilton apresentam-se para o 22º e último Grande Prémio da temporada (circuito Yas Marina, Abu Dhabi) empatados em pontos – aliás, em décimas de ponto: 169.5 para cada um.
Segundo, a cinco voltas do fim, a saída de pista de um concorrente (Nicholas Latifi, Williams #6) forçou a entrada em pista do Safety Car – Hamilton liderava e era virtual campeão, seguido de Verstappen a cerca de 13 segundos.
Terceiro, Verstappen precipita-se de imediato para a sua box, troca os quatro pneus num ápice e regressa à pista ainda no segundo lugar, mas com vários pilotos (com voltas de atraso) entre ele e o líder Hamilton.
Quarto, a direção de corrida ordena a esses pilotos que ultrapassem o Safety Car e que este se retire – algo apressadamente e sem a pista estar sequer limpa dos detritos causados pela saída de Latifi – para que ainda se consiga disputar 1 (uma) volta de corrida.
Quinto, com Verstappen colado à traseira de Hamilton e o Safety Car a dar por concluída a sua função, as bandeiras verdes sinalizam que se corre de novo – nesta última volta, e com pneus frescos, o neerlandês ultrapassa o britânico e sagra-se Campeão do Mundo aos 24 anos.
A discórdia
A forma apressada – até mesmo atabalhoada – como o Safety Car se retira, e principalmente a ordem para os atrasados saírem dali para fora e irem à sua vida, deixando um espaço vazio entre Verstappen e Hamilton que o primeiro se apressa a galgar em poucos segundos, criam o escândalo numa corrida que, de outra forma, entraria nos livros da história da Fórmula 1 como o final mais dramático da competição; assim entra à mesma, mas também como a maior manipulação de resultados desde que alguém se lembrou de usar o recém-nascido automóvel para realizar corridas.
Quem foi o iluminado que redigiu aquele artigo dos regulamentos?
Desde que a segunda profissão mais antiga do mundo – os advogados – meteu o nariz no Desporto em geral, e no Motorizado em particular, nada viria a ser igual ao que era. Convenhamos, é verdadeiramente ridículo que, em situação de Safety Car, se "varra" dali para fora os concorrentes com volta(s) de atraso. Parece uma importação mal amanhada vinda do outro lado do Atlântico, onde tudo é submetido ao espetáculo, onde a justiça desportiva é uma miragem mais ou menos turva, consoante o dia e a pessoa que a interpreta e aplica, e onde as corridas apresentam peculiaridades, digamos... peculiares. É ridículo, sim, mas está nos regulamentos. E assim, um piloto (no caso Max Verstappen, mas poderia ter sido outro qualquer) beneficia de uma espécie de neutralização da corrida: vai à box e o tempo que perde nessa operação é-lhe devolvido; é como se não o tivesse feito. Valerá bem a pena, se calhar, fazer as corridas todas debaixo de Safety Car e, aqui e ali, disputar umas voltinhas sob bandeira verde...
Mas a equipa Mercedes não tem também culpas no cartório?
Oh se tem! E não são poucas. Logo à partida, foi derrotada em toda a linha pela estratégia da rival Red Bull: não só na eficaz gestão dos pneus mas também na rápida decisão de fazer Verstappen correr para a box logo que o Safety Car entrou em pista. E ainda – um fator muito importante – na utilização do segundo piloto: enquanto o mexicano Sergio Pérez foi fundamental ao manter Hamilton atrás do seu Red Bull #11 durante largo tempo, do outro lado da barricada Valtteri Bottas não ajudou minimamente o seu colega de equipa e fez uma última corrida ao volante do Mercedes #77 perfeitamente apagada – para o finlandês, ter estado ali em pista ou nem sequer se ter deslocado ao Abu Dhabi deu mais ou menos no mesmo.
Sejamos práticos e pragmáticos: abstraindo-nos da legal e legítima, mas não menos absurda, decisão de retirar "dali" os carros atrasados e de fazer o Safety Car sair da pista como se estivesse a fugir da autoridade, Verstappen só foi capaz de ultrapassar Hamilton porque o britânico praticamente não tinha pneus: o seu jogo de composto médio já levava largas dezenas de voltas, enquanto os "macios" de Verstappen tinham acabado de ser instalados no Red Bull #33. Isso é que decidiu a corrida e o campeonato do mundo, e não adianta – nunca adianta, nestes casos – espernear, protestar, recorrer e tentar reverter na secretaria aquilo que o alcatrão do circuito determinou.
Lá que foi mau para a imagem da Fórmula 1, lá isso foi...
A perder audiências desde há vários anos, com alterações técnicas no mínimo discutíveis e com um emaranhado de regulamentos que não lembrariam a ninguém com dois dedos de testa (o exemplo do que se passou neste GP de Abu Dhabi não podia ser mais eloquente), a Fórmula 1 dispensaria de bom grado esta celeuma. Ainda por cima, 2022 está já aí e traz consigo novas alterações técnicas, nas quais o promotor deposita as maiores esperanças. E com essa verdadeira Inquisição dos tempos modernos (a.k.a. redes sociais) a atuar como um megafone de fel e de ódio – "eu sou da McLaren, tu és da Red Bull, ele é da Mercedes, somos todos inimigos, morte a vocês!" – além de um cortejo de disparates e opiniões mentecaptas, promover clivagens nunca é coisa boa quando se tenta recuperar a notoriedade e o prestígio do que quer que seja – neste caso, a mais importante disciplina do desporto motorizado.
E a FIA, no meio disto tudo?
Não ficou nada confortável com o que se passou, a Fédération Internationale de l’Automobile. Não querendo mexer (ainda mais) na verdade desportiva, nem querendo arcar com as responsabilidades de uma decisão fraturante, é sintomático que da reunião do Conselho Mundial do Desporto Motorizado que se realizou a 14 de dezembro (dois dias após a corrida) tenha saído um comunicado anexo dedicado exclusivamente a este assunto: nele, o organismo que decide tudo o que gira à volta do Automóvel anuncia a criação de uma comissão de investigação ao que se passou, para que não mais se volte a passar – para bom entendedor...
Ato contínuo, a equipa Mercedes retirou o seu protesto, endereçou os parabéns ao novo campeão do mundo Max Verstappen, elogiando-o e à sua equipa, e – virando-se para Hamilton – referiu-se ao seu piloto como o maior de todos os tempos e autor de uma notável temporada 2021. Amigos outra vez, para o ano há mais.
Também tu, Bru... Mercedes?
Ainda os ecos da profissão de fé da Stellantis não se tinham dissipado e já a poderosa Mercedes-Benz vinha a terreiro comprometer-se a ser um fabricante completamente eletrificado. E, tal como JFK havia prometido ir à Lua antes do final da década, também a marca alemã aponta 2030 como o limiar da sua nova existência 100% elétrica. Naqueles mercados em que as condições o permitam, claro.
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