24 Horas de Le Mans – será esta a maior corrida do mundo?
Entre Le Mans, o Grande Prémio do Mónaco e as 500 Milhas de Indianápolis, não é fácil nomear uma. São todas corridas de enorme calibre, ricas em historial e verdadeiras clássicas do desporto automóvel. A resposta, se calhar, é como nas cervejas: provavelmente.
Breve enquadramento histórico
Em maio de 1923, o Automóvel Clube do Oeste, associação fundada e sediada em Le Mans, organizava num circuito a sul da cidade uma corrida de resistência ao longo de um dia inteiro (noite incluída). Eram as primeiras 24 Horas de Le Mans e, com poucas exceções, nunca deixaram de ser disputadas. Essas exceções deram-se em 1936, devido às greves gerais da altura da Frente Popular, e entre 1940 e 1948, devido à II Guerra Mundial. Daí a prova deste ano não ser a 99ª edição, mas sim a 90ª, o que ainda assim constitui um número redondo. Embora nada comparável à do próximo ano, que assinalará o primeiro centenário da prova.
A corrida foi (quase) sempre disputada em junho. Únicas exceções: 1923 (logo a primeira edição, em maio); 1968 (os acontecimentos de maio em Paris adiaram-na para setembro); e 2020/2021 (respetivamente setembro e agosto, ambas as vezes por causa da pandemia da covid-19).
O circuito
Chama-se, pura e simplesmente, ‘Circuit des 24 Heures du Mans’ (em francês, para não restarem dúvidas). Nada de "circuito de Le Mans" nem "circuito de La Sarthe" (Sarthe é o rio que dá nome ao departamento do qual Le Mans é a capital). Desde sempre com, em linhas gerais, o mesmo traçado-base, apenas com pequenas alterações (14 ao todo) ao longo de quase 100 anos, o perímetro atual do traçado é de 13,629 km – também aqui houve alterações de quilometragem, mas basicamente tem-se mantido à volta dos 13600 metros. Uma das características muito próprias das 24 Horas de Le Mans é a utilização de parte dos 4,185 km do circuito fechado entretanto construído (circuito Bugatti, 1970), juntamente com vários troços de estrada nacional, o que confere à corrida uma atmosfera e um historial únicos.
Que carros correm?
Protótipos – divididos em duas categorias, Hypercars e LMP2 – e carros de GT, também eles divididos em duas categorias: GTE-Pro e GTE-Am. As diferenças entre a primeira destas quatro categorias (Hypercars) e a quarta (GTE-Am) costumam cifrar-se em mais de 40 segundos por volta, o que significa grandes diferenças de andamento em pista e a necessidade de gerir convenientemente as ultrapassagens – quer do ponto de vista de quem ultrapassa, quer de quem é ultrapassado.
O formato da partida evoluiu desde o famoso alinhamento em espinha ao longo das boxes (que não eram muradas), com os pilotos a correrem para os carros, até à atual partida lançada, com os carros a fazerem uma primeira volta atrás do ‘safety car’ e, com a saída deste para a via das boxes, a partirem ao apagar das luzes vermelhas e da bandeirada dada por um convidado especial da organização.
Momentos históricos
O duelo (dir-se-ia a verdadeira guerra) entre os barões da indústria Henry Ford e Enzo Ferrari transpôs-se em 1966 para Le Mans, quando o magnata norte-americano quis bater ‘Il Commendatore’ na Europa. Conseguiu-o com quatro vitórias consecutivas do mítico modelo GT40.
A era Porsche, iniciada quando o construtor de Stuttgart apresentou em 1970 outro modelo mítico das corridas de ‘endurance’, o Porsche 917. Desde esse ano, a Porsche viria a conquistar um total de 19 vitórias à geral.
A Audi foi a primeira marca a triunfar em Le Mans com um motor diesel: em 2006, Emanuele Pirro, Frank Biela e Marco Werner levaram o R10 TDI à vitória e abriram um ciclo de nove anos em que o combustível no depósito do vencedor era gasóleo (oito títulos para a Audi e um para a Peugeot).
O momento verdadeiramente mais dramático deu-se em 1955: a 11 de junho (a mesma data em que a edição deste ano vê a bandeirada de partida), o Mercedes do francês Pierre Levegh despistou-se à entrada da reta da meta e matou 83 espectadores, além do próprio Levegh.
Le Mans é um verdadeiro laboratório
O "condutor de todos os dias" não saberá, mas deve bastante a esta clássica da resistência. Os faróis de nevoeiro (1926), a linha contínua desenhada no piso (1933), o apuro aerodinâmico das carroçarias, o pneu radial (1951), os travões de disco (1953), o motor turbo (1974), as luzes de LED (2011) e de laser (2014), entre muitas outras inovações que foram experimentadas em Le Mans, foram posteriormente incorporadas nas fábricas e disponibilizadas nos modelos de estrada que o público viria a comprar.
Onde/quando acompanhar a edição 2022
O canal Eurosport transmite em direto toda a corrida, incluindo treinos e qualificações. A partida será dada às 15 horas (de Portugal) no sábado dia 11 e a chegada dar-se-á à mesma hora de domingo dia 12. Quem preferir rádio, a Radio Le Mans transmite (em inglês) todo o fim de semana em http://player.radiolemans.co/. Outra forma de acompanhar a clássica da resistência automóvel é através das redes sociais das 24 Horas de Le Mans.
Le Mans em números
Maior número de espectadores: 400 mil (1969).
Maior número de vitórias: pilotos – Tom Kristensen (Dinamarca, 9 triunfos); marcas – Porsche (19).
Vencedor mais jovem: Alexandre Wurz (Áustria, 1996), 22 anos e 91 dias.
Vencedor mais velho: Luigi Chinetti (EUA, 1949), 47 anos e 343 dias.
Menor diferença entre 1º e 2º: 20 metros (1966, entre dois Ford GT40).
Maior velocidade na reta das Hunaudières, ainda com 4 km de extensão: 407 km/h (1988, Roger Dorchy, WM-Peugeot).
Maior distância percorrida: 397 voltas (5410,713 km, Audi R15+ TDI, em 2010).
Record da pista: 3’14"791 (Kamui Kobayashi, Toyota TS050, em 2017), à média de 251,881 km/h.
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