Um castelo na Riviera Francesa deu um livro dos portugueses Oitoemponto
Pelas mãos da dupla de arquitetos portuense, Oito em Ponto, chega-nos A Château on The French Riviera: Modern Interiors by Oitoemponto. Muito mais do que um livro, este digno coffee table book conta a história da renovação do imponente Château Saint-Maur.
Era uma vez um castelo que acabaria por dar um livro — ou, diríamos antes, um lindíssimo coffee table — A Château on The French Riviera: Modern Interiors by Oitoemponto. Na verdade, o Château Saint-Maur, na Côte d’Azur, acabaria por se revelar muito mais do que um castelo — antes "um hino ao saber viver". Quem o assegura é Artur Miranda, que ao lado do sócio Jacques Bec, lidera o estúdio de Arquitectura & Interiores sediado no Porto, Oitoemponto.
Conhecida pela sua experiência e vontade de fazer diferente, a dupla que é presença assídua na feira AD Intérieurs, em Paris, já assinou importantes projetos, tanto públicos como privados, em todo o mundo. Em conversa com a MUST, explica como é que surgiu a possibilidade de fazer parte da história de um castelo que já conta alguns séculos de vida e muitas gerações na mesma família — primeiro através da sua recuperação, depois através do livro. "Nós já tínhamos, no passado, trabalhado com a prestigiada editora francesa Flammarion. Acontece que, não sabemos bem como como, algumas imagens da recuperação do castelo — entre fotografias e aguarelas — chegaram às mãos da editora, que nos contactou de imediato. Disseram-nos que seria interessante fazer uma monografia sobre a casa, ao que nós respondemos que, muito bem, mas que teríamos de falar com o dono, que aceitou prontamente (...). O livro passou a ser uma ajuda a todos os outros trunfos que o dono do castelo tinha na sua mão".
Passemos ao castelo e à sua notável recuperação — se é que se pode chamar recuperação ao trabalho que a dupla de arquitectos levou a cabo ao longo de quatro anos. Artur Miranda conta que o dono do castelo era já um cliente antigo do estúdio daí que o contacto não o tenha estranhado. O castelo, conta, estava um caos: "À volta da casa havia muitas pendências. Aquela é uma casa onde se vive a preceito. O dono deste castelo é o perfeito anfitrião, o tipo de pessoa que adora receber". Esclarece de imediato que aquele não é um castelo de portas abertas. Não se trata de um espaço que se possa visitar apenas porque sim — não é para quem quer, é para quem pode. Ou para quem é comprador de vinhos. O Château Saint-Maur (que dá, também, nome aos vinhos) tem uma componente muito forte de vinho, de turismo vinícola: conta com 160 hectares de vinha, onde se produz essencialmente vinho rosé, algum branco e algum tinto. "Esta é uma casa privada e visitada sob o pressuposto de servir algum comprador de vinhos, num âmbito muito privado", esclarece o arquiteto. Apesar de tudo, assevera, "todas as zonas são especiais. Estamos num castelo, de facto, mas estamos, antes de mais, num sítio super íntimo e confortável", remata.
A casa é composta por inúmeras salas — de televisão, de verão, de bar e ainda a biblioteca, a sala chinesa com os vinhos, a sala de jantar, a sala de jantar de verão, etc. Por fora, os arquitetos resolveram pintar o castelo no tom vermelho-veneziano, que acrescentou muito allure, como se diria em francês, à casa: "Fica com muita raça pois esta é uma cor que funciona super bem no meio do verde". Artur explica que a ideia principal, no geral, foi a de dar uma sucessão de estilos à casa: "Porque a nossa ideia era a de conferir o ar de casa de família. Como se contasse uma história. Esta é uma casa que está há 200, 300 anos na mão da mesma família. A mesma que foi evoluindo e que, portanto, contempla desde zonas puramente século XVIII, a zonas com influência dos anos 30, 40 e até 60 e 70. A casa foi evoluindo com o tempo, como qualquer família vai evoluindo. As vontades vão mudando, vão-se fazendo obras, vai-se adaptando. Portanto, o que tem piada na casa é precisamente esta não conformidade, não há uma história linear, mas antes uma descoberta que se faz de sala em sala. Há sempre qualquer coisa de novo. O que dá aquele ar: as pessoas, quando entram, acham que ali foi feito um excelente restauro, mas a verdade é que não se trata de um restauro, foi tudo inventado".
Artur Miranda diz que uma das zonas que mais se destaca no castelo é a zona da pool house, "um sítio excepcional, digno de wow effect". Explica que aquela é uma zona onde se pode passar o verão todo, pois inclui "uma sala de jantar de verão, uma cozinha, uma zona interior onde a pessoa pode estar a descansar, com mega sofás e por aí fora, um bar extraordinário coberto (o dono adora estar atrás do bar a preparar cocktails)". Aliás o proprietário, que não costuma passar mais de dois meses no mesmo sítio, fez aqui o confinamento imposto pela covid-19, por sete longos meses. O livro de 224 páginas que traça a renovação, desde os primeiros esboços, em aquarela e fotografias, até à residência familiar privada estar terminada, pretende assim levar os leitores num tour intimista através das imensas salas de recepção, quartos e suites, áreas de entretenimento e câmaras secretas do vasto castelo de 1600 metros quadrados. Nestas páginas, é possível encontrar-se um percurso da casa, mas trata-se de um percurso "saltitante", afiança Artur: "Em vez de se tratar de uma história em que se entra pela porta de entrada e se vai por ali fora, em formato de visita guiada, o livro divide-se em três ou quatro zonas onde aparecem diferentes partes do vasto interior — uma mais lúdica, outra mais social, uma mais íntegra… … Aquela casa é um hino ao saber viver e onde se adora receber", conclui.
O livro de capa dura encontra-se à venda em livrarias seleccionadas, €85.
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