O que é que Robert Pattinson tem?
Um filme que passou despercebido a muitos, O Farol, lança-nos um olhar diferente ao ator inglês que aqui despe definitivamente as camadas fantasiosas da personagem crepuscular de Edward Cullen. Eis aquilo a que podemos chamar um belo renascer das cinzas.
Quer tenhamos ou não visto os filmes d’a saga Crepúsculo (Twilight, no original), é quase inevitável não pensarmos, entre outros nomes, no do ator Robert Pattinson. Nestes cinco filmes -adaptados ao cinema a partir dos livros da autora norte-americana Stephenie Meyer – o ator iglês vestiu a personagem de Edward Cullen. Assim como, e apesar de ter feito outros filmes, associaremos para sempre Arnold Schwarzenegger à saga Exterminador Implacável, ou Harrison Ford a Han Solo, n’A Guerra das Estrelas – e a lista continua. São as sagas e os atores de culto. Robert Pattinson nasceu a 13 de maio, em 1986, em Londres, e cresceu a sul da cidade, em Barnes. Com início de carreira pouco glamoroso – pois em 2004, quando teve o seu primeiro e pequeno papel em Vanity Fair, de Mira Nair, viu a sua cena ser cortada, descobrindo-o apenas na estreia – Pattinson surge pela primeira vez em Harry Potter e o Cálice de Fogo, em 2005, como Cedric Diggory.
Mas o que sabemos, na verdade, sobre a identidade que Pattinson tem vindo a construir como ator? Apesar de "o mundo" estar a falar (e de maneira até controversa, havendo até petições para que a Warner Bros reconsiderasse o seu casting) da seu surpreendente escolha como o "novo" Bruce Wayne em The Batman (2020) Pattinson acaba de oferecer uma faceta raríssima de si mesmo enquanto ator. E a crítica tem-lhe sido favorável. No filme a preto e branco O Farol (The Lighthouse) de Robert Eggers (realizador de The Witch, 2015) e ao lado de um não menos brilhante e enlouquecido William Dafoe, vemo-lo como co-protagonista de uma história de tensão misteriosa, enigmática e até sinistra entre dois homens isolados numa ilha remota com a missão de vigiar um farol. São eles Tom Wake e Ephraim Winslow, Dafoe e Pattinson, respectivamente. Nas simultaneamente auspiciosas e inquietantes expressões e gestos de ambos, apreciamos com alguma incredulidade a sua desfiguração perturbadora, principiando-se à loucura. Pattinson, em particular, torna-se mais enlouquecido e febril à medida que a obra progride. Espiral decadente, essa, que torna este filme num insaciável e indecifrável mistério (ou, como na gíria dos cinéfilos se diria, num verdadeiro, desculpem-nos o estrangeirismo, mindfuck).
Em setembro passado, durante a apresentação deste mesmo filme no Festival de Cinema de Cannes, o ator estava também, a preparar-se para começar a filmar (a maior parte das cenas, na Estónia) um dos mais esperados filmes do ano atual: Tenet, do celebrado realizador Christopher Nolan, cuja estreia mundial acontece a 21 de junho. A verdade é que depois d’A Saga Twilight, o jovem ator de 33 anos deu mostras de querer "desligar-se" da sua personagem tão adorada (tornando-se mesmo no ator mais cobiçado desde que o mundo enlouqueceu com Leonardo DiCaprio em Titanic) distanciar-se dos filmes das "massas" – ou dos blockbusters - preferindo projetos mais indie ou até mesmo independentes como em Cosmopolis (2012) ou Mapas para as Estrelas (2014), ambos de David Cronenberg, A Cidade Perdida de Z (2016) de James Gray, Good Time (2017) dos irmãos Safdie, no cósmico High Life (2018) da francesa Claire Denis ou nos filmes de David Michôd, The Rover - A Caçada (2014) e O Rei (2019). Embora nos pareça avançar num passo decidido quanto à sua carreira no cinema, numa entrevista recente ao diário The Guardian revela que continua a achar que não sabe representar. "Eu só sei representar cenas de três maneiras" confessou, na entrevista publicada no final de dezembro passado. "Estou sempre nervoso, em todos os filmes." Modéstia à parte, a verdade é que, a pouco e pouco, Robert Pattinson vai afastando de si a "sombra crepuscular" que o rodeava desde então.
O filme O Farol estreia a 31 de janeiro de 2020 e encerrou o festival de cinema Lisbon & Sintra Film Festival em novembro do ano passado.
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