O mundo da arte resistiu ao confinamento. Agora vem a parte pior
Enquanto as galerias reabrem um pouco por todo o mundo, os compradores pedem discontos e os negociantes de arte procuram adaptar-se às regras da distância social.
Um quadro de Cecily Brown que chegou aos 5,5 milhões de dólares, uma estreia em Nova Iorque com quadros esgotados da artista emergente Katja Farin e muitas outras obras de arte que encontraram compradores online durante as paralisações.O mercado de arte vale 64 bilhões de dólares, é o epítome da elite viajada e navegou pelas quarentenas melhor do que o previsto. Agora, com a reabertura de galerias de Hong Kong a Berlim, os maiores desafios podem ainda estar por vir.
"Será um ano difícil para todas as categorias de galerias - de médio porte, novas e grandes", diz Thaddaeus Ropac, um negociador de arte reconhecido com espaços em Salzburgo, Paris e Londres, onde as galerias já tiveram permissão para reabrir. Os compradores exigem descontos de até 30% em novas obras e 50% no mercado secundário, segundo os negociadores de arte. A moratória, incluindo empréstimos de resgate do governo ou reduções de aluguer, desaparecerá. E as feiras de arte, uma das maiores fontes de receita para galerias, não voltarão em breve.
A mostra Art Basel, onde mais de 3 bilhões de dólares em obras de arte geralmente estão em jogo, cancelou a sua edição anual na Suíça. Algumas reaberturas não foram tranquilas. Galerias em Seul tiveram que ser novamente fechadas depois do ressurgimento de casos do Covid-19 na Coreia do Sul no mês passado. Pelo menos uma galeria em Berlim foi fechada e multada após não cumprir as regras de distanciamento social. "As pessoas estão nervosas e ansiosas", disse Heather Hubbs, diretora-executiva da New Art Dealers Alliance, uma associação de Nova Iorque. "Ainda existem muitas incógnitas."
Os meses de verão são tradicionalmente lentos. E, embora as vendas online tenham sido uma tábua de salvação durante as medidas de isolamento social, não serão suficientes para sustentar um setor que prospera em encontros pessoais com a arte. Mais de 150 galerias nos Estados Unidos já disseram que prevêm uma queda média de 73% da receita do segundo trimestre em relação a 2019, de acordo com uma pesquisa realizada entre 15 de abril e 4 de maio.
Nem os grandes nomes foram poupados. A Hauser & Wirth, uma das maiores galerias do mundo, teve que adiar a inauguração da sua flagship em Chelsea até ao outono.
Larry Gagosian, o meganegociador, conseguiu organizar um jantar numa de suas unidades em Chelsea para comemorar a exibição de uma escultura monumental de Donald Judd - pilhas de madeira compensada com quase 4metros de altura e 24 de largura - na véspera da quarentena. "Foi como a Última Ceia", disse Gagosian, que é proprietário de 18 galerias no mundo inteiro. O público nunca chegou a ver a peça.
As feiras de arte também se tornaram virtuais, com resultados diversos. O site da Art Basel Hong Kong saiu fora do ar logo depois de ser lançado em meados de março. Mas, quando a Frieze de Nova Iorque ficou online em maio, a Hauser & Wirth encontrou um comprador para um quadro de George Condo que custou 2 milhões de dólares, contou Marc Payot, presidente da galeria.
No outro extremo do espectro, a galeria Lubov, em Nova Iorque, vendeu todos os novos quadros de Katja Farin, de 24 anos, com preços entre os mil e os 4 mil dólares. O sucesso foi impressionante, porque a artista de Los Angeles havia perdido o emprego como assistente artística, uma vez que as galerias e os museus deispensaram muitos dos seus freelancers. "Que oportunidade incrível, poder comprar obras que adora e ao mesmo tempo ajudar alguém a sobreviver", disse Jeremy Kost, artista e colecionador que comprou dois quadros.
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