Surfar ondas gigantes e águas gélidas é HOT!
A Nazaré, com as ondas de 30 metros e com a água fria no inverno, é um lugar de eleição para quem surfa no limite. Ainda assim, é um paraíso comparada com lugares onde os surfistas estão rodeados de neve, de icebergues e de pinguins.
Surfe. Águas turquesas, céu anil, areia dourada, palmeiras e coqueiros, sol quente, corpos bronzeados, mulheres em biquíni, bares de praia, música, fogueiras sob as estrelas, Volkswagens "pães-de-forma" com pranchas nos tejadilhos… Esqueça. A nova "onda" é surfar em águas gélidas, bem longe disso tudo. Aquele misticismo do surfe na Austrália, na Nova Zelândia, no Taiti, no Havai, no Senegal, na África do Sul ou no Gana, tal como perpetuou Bruce Brown no seu surf movie, realizado em 1964, The Endless Summer, já não está hot. Saiba que o que está "escaldante" é surfar em águas com 2 ºC negativos de temperatura no Alasca, na Suécia, no Canadá, na Irlanda, na Noruega, na Rússia, no Chile ou na Islândia. Acredite que Portugal está na rota (Nazaré, Ribeira d’Ilhas, Peniche e Espinho) apesar de as águas não serem tão frias como as dos países citados. Mas, além das temperaturas invernosas, as fortes nortadas no verão, paralelas à nossa costa, fazem as temperaturas da água baixar através do fenómeno do upwelling (ou afloramento) costeiro. Só que, à parte os demais lugares portugueses, as ondas gigantescas da Nazaré juntam-se ao gosto pelo frio do nosso mar, tornando a vila um dos lugares de eleição.
Os chamados hardcore surfers que existem, ainda, em pequeno número, buscam lugares inóspitos com a água arrepiantemente fria, vento "cortante", céu cor-de-chumbo, gelo e neve, longe de tudo e de todos. Isto, porque a popularidade dos lugares com águas cálidas para a prática de surf gerou praias e águas sobrelotadas de gente com o inevitável desenvolvimento, muitas vezes desenfreado, de resorts turísticos atípicos. Para eles, há que fugir do Havai ou de Bali. Estes surfistas procuram, acima de tudo, a aventura, a descoberta de locais desconhecidos e desabrigados que elevem o surf para outros patamares de exigência. O do radical e o do limite.
Pensa que o surf, seja em águas cálidas ou em águas geladas, é um desporto radical só para homens, tal como ele se apresenta nos media em que o ranking mundial é composto por representantes do sexo masculino, de Kelly Slater a Frederico Morais? Olhe que não, olhe que não…. As mulheres continuam a aderir (veja-se o Cascais Women’s Pro, por exemplo), sobretudo no que diz respeito às águas gélidas, como a britânica Sophie Hellyer (sophiehellyer.com) que esteve no Algarve, em novembro de 2016, e partilhou essa experiência no respectivo site. Sophie começou a surfar, aos 13 anos de idade, nas águas gélidas e revoltas do seu Devon natal, no sudoeste da Inglaterra. Ela também confessa o seu desinteresse pelo surf tradicional: "Quando surfamos em lugares com águas cálidas deparamos com centenas de pessoas a nadar ou a surfar nas mesmas. O surf em águas gélidas é uma ‘cena’ completamente diferente!" Não é apenas essa prática que torna os lugares mais remotos e frios tão apelativos. Quer saber porquê? Porque é irresistível, para esses e para essas surfistas, a beleza inóspita e isoladora das suas paisagens, assim como poderem acampar longe da multidão quando não existem hospedarias à beira-mar. Nesse ambiente natural e solitário, quase sempre os únicos ruídos que ecoam são os provocados pelo rebentar das ondas, pelos ventos uivantes, pelo crocitar de aves, pelo troar das nuvens ou, por vezes, pelas vozes. De resto, praticarem o campismo selvagem permite-lhes ficar mais próximos de lugares que são mais difíceis de alcançar e, por isso, afastados da civilização, o que significa estarem longe dos computadores, dos telemóveis e de toda a parafernália que domina tecnologicamente a nossa civilização. A bela Sophie Hellyer comenta, não sem ironia: "Para dizer a verdade, até é um alívio quando a bateria do nosso telemóvel acaba e não temos onde a recarregar."
Ao contrário do que possa julgar, o surf em águas gélidas não é propriamente uma novidade. Por exemplo, o norte-americano Chris Malloy (o mais velho dos Malloy bro’s) e o argentino Edwin Salem surfaram, em 2000, entre os icebergues da Antárctida (não, Kelly Slater não esteve envolvido nesta expedição pelo Pólo Sul, como se comenta…). Não o fizeram por puro desporto, mas sim integrando a tal expedição. Leia o relato entusiasmado de Salem na Internet (Antártida, una de las experiencias más exigentes en la vida de Edwin Salem). O que acontece é que, através da divulgação progressiva de notícias pelos media, o surf em mares gélidos desenvolveu-se há escassíssimos anos e apenas chegou ao maior conhecimento público, há cerca de cinco anos. O que é curioso é que não é preciso ir ao fim do mundo para surfar e congelar… ou não. A Nazaré, com o mar frio no inverno, é também procurada por aqueles que buscam as suas ondas gigantescas. Paradoxalmente, esta vila piscatória tornou-se, com as ilhas Aleutas, no Alasca, ou com Gvik, na Islândia, um dos três locais eleitos para o surf gelado, em 2016. Calma, não somos nós que fazemos os paralelismos…
Diz-se que a Nazaré é o lugar perfeito para os surfistas… loucos. Não se ria porque há razões, sobretudo entre os franceses, para acreditar que surfar em ondas de excepção como fez o francês Benjamin Sancho Sanchis, na Praia do Norte, em 11 de dezembro de 2014, só para quem é destemido ao ponto da loucura… ao "descer" os supostos 33 metros a uma velocidade de mais de 60 km/hora, no Canhão. Aí surge a polémica sobre quem bateu o recorde: se foi Sancho ou se foi Garret GMAC McNamara. O certo é que, oficialmente, o recorde atribuído pela maior onda surfada é de GMAC: os seus 78 pés (23,7744 metros), também na Nazaré, em 11 de novembro de 2011 (o recorde foi oficializado em 2012). O americano McNamara acabou por retirar da candidatura à maior onda a sua espectacular "descida", naquela vila piscatória, em 28 de janeiro de 2013, cujas imagens correram mundo. A "onda" do surf em águas com baixas temperaturas é tal que até se surfa no rio Eisbach, no Englischer Garten (Jardim Inglês), em Munique. A sua água provém do rio Isar e para dar a necessária serenidade ao Jardim (que é maior que o Central Park) o seu fluxo foi travado, acabando por gerar um rápido que é aproveitado por surfistas no inverno, quando tudo gela em seu redor. Há gente para tudo. Seja em Portugal, com as suas ondas gigantescas, ou na Islândia, entre um silêncio do fim do mundo, uma coisa é certa: o surf em águas gélidas é a coqueluche do momento. Experimente, se é dos tais que quer estar sempre na crista da onda.
Como sobreviver no… brrrrr!
Há regras sagradas para todo o surfista que "curte" as águas nas quais até as partes mais sensíveis da anatomia masculina podem correr sérios riscos… Por isso, não arrisque. Se é dos corajosos, leia as linhas seguintes e sobreviva com graus negativos.
- Não seja forreta e invista num bom fato.
Não duvide: quanto mais caro for o seu wetsuit, melhor. Veja a coisa como um investimento. E se o limpar bem depois de cada surfada, vai durar-lhe uma eternidade. Compre um fato com 5 milímetros de espessura e que seja bem estanque, pois mantê-lo-á quente. Evite um que tenha muitos fechos de correr e vede qualquer buraco ou rasgão por mais pequeno que seja. Nas águas quentes são indiferentes, mas nas gélidas, cuidado! Compre um fato com capuz integrado e adquira luvas e botins apropriados. Se o fato for muito apertado, o seu fluxo sanguíneo reduzirá e irá sentir mais frio. O melhor fato de todos? Será aquele que os autóctones usarem no lugar em que vai surfar.
- Coma muitos tubérculos umas horas antes de avançar nas águas.
Se é daqueles que não gosta de "hortaliças" tem um problema. Comer cenouras e batatas-doces, por exemplo, emite calor, é de fácil digestão e faz bem à saúde. Boas doses de hidratos de carbono, de proteínas e de água são fundamentais.
- Assegure-se que está quente antes de mudar de roupa.
A sua mãe fartou-se de lhe dizer que vestir camadas de roupa é que o mantém bem aquecido. Tinha razão. O ar que ficar "preso" entre as várias peças de roupa será o seu aquecedor. Ter um bom casacão leve e com penas é fundamental. Aumente a intensidade do ar quente no seu carro enquanto conduz.
- Faça exercícios de alongamento e de aquecimento na praia.
Protegido contra o frio, avance para alguns exercícios de aquecimento e de alongamento. Mantenha-se sempre em movimento e se sentir muito frio, volte para o carro. Aqueça as mãos debaixo das axilas se não usar luvas. Tudo isso aumentará o seu fluxo sanguíneo, dar-lhe-á calor e gerará energia. Daí a necessidade de ter um fato espesso e bem vedado para preservar a temperatura do corpo. Beba muita água para manter o corpo hidratado e quente (cá entre nós, qual é o problema de urinar no seu fato enquanto surfa?).
- Recorra a hidratante e a vaselina (para surfar, claro…).
Se usa protector solar no tempo quente, então deverá proteger igualmente a pele do rosto num ambiente agreste e gelado. Antes de entrar na água, distribua uma camada bem generosa de creme hidratante no rosto (excepto no contorno dos olhos). Reforce com uma dose também bem generosa de vaselina para "selar" o hidratante. Recorra ao hidratante após o duche pós-surf. O seu corpo agradecerá e a sua namorada também.
- Prefira uma prancha grande para dar mais rentabilidade e segurança.
Aqui, o tamanho também é importante. Recorra a uma prancha bem mais larga e comprida do que aquela que usaria em águas cálidas. Porque se crê que a água fria é mais densa, mais pesada e mais revolta do que a água quente, o que combinado com um fato mais espesso, pesado e menos flexível, poderá limitar-lhe os movimentos a surfar. E como o Inverno traz ondas mais altas e fortes, uma prancha maior é fundamental para que desfrute ao máximo as ondas e sem riscos de ser atirado "borda fora"…
- Mexa-se, mexa-se, mexa-se, por amor de Deus!
Enquanto estiver na água esteja em constante movimento para activar o fluxo sanguíneo e activar energia para o aquecer, sobretudo nas mãos e nos pés. Enquanto estiver sentado na prancha, aqueça as mãos por debaixo das axilas. Pode aquecê-las também esfregando energicamente os ombros. Estimulará, assim, o fluxo sanguíneo. Se continuar com frio, lembre-se que aquela água toda que bebeu está quente no seu organismo e libertá-la será um alívio estranhamente reconfortante (não se esqueça, depois, de lavar bem o fato).
- Não se arme em campeão e saia da água enquanto é tempo.
Surfar em águas gélidas é muito cansativo porque o corpo "gasta" muita energia para manter o corpo aquecido. Por isso, poupe alguma energia para conseguir chegar até terra firme. E nunca vá surfar sozinho. Surfar acompanhado garante mais segurança e deverão vigiar-se uns aos outros. Estejam atentos aos sinais de hipotermia.
- Não se arme em herói quando se despir depois de surfar.
O pior de tudo acontece quando tiver de se despir na praia, caso não tenha onde o fazer de modo protegido. Siga estes passos: leve consigo um garrafão que suporte água muito quente. Enquanto estiver a surfar a água vai amornar e ficará a uma temperatura pronta a ser usada como um "duche" de praia. Vai ser útil para aquecer os pés (mantenha-os em cima de uma tira de borracha para evitar o contacto com a areia fria). Se enrolar a roupa no garrafão (sobretudo a t-shirt e a roupa interior), senti-la-á aquecida quando a voltar a vestir. Organize as toalhas limpas e as peças de roupa antes de entrar na água para que não perca tempo a procurá-las no regresso, enquanto tirita. Dispa-se de uma vez só com a maior rapidez e enfie-se na roupa aquecida e no casacão de penas. Ou faça-o parcialmente, mantendo as partes superiores e inferiores do corpo sempre tapadas.
- No final, tire partido das outras coisas boas da vida.
É o momento mais delicioso. Sentir-se revigorado pelo surf, limpo, vestido e aquecido. Uma camisola interior, uma t-shirt, uma camisa de flanela, umas ceroulas e um camisolão sob um bom casacão de penas. E umas meias de lã e uns botins forrados. Um café quente guardado num termo é o remate perfeito. E regressar a casa no carro aquecido. Ou melhor: rumar ao bar mais próximo e tomar um copo com outros surfistas seus amigos.
Os refúgios dos playboys e dos magnatas
Paris, Cap d’Antibes, Veneza, Rio de Janeiro, Capri, Gstaad, Mustique, Saint-Tropez ou Acapulco eram alguns dos redutos ou refúgios de sonho de estrelas de cinema, de herdeiros, de magnatas, de aristocratas e de playboys, nas décadas de 1950 a 1970. A aviação comercial foi crucial para o desenvolvimento das viagens de luxo dos happy few, antes que esses lugares míticos tivessem ficado abarrotados de turistas e os aviões se tivessem transformado em meros autocarros aéreos.
As 14 praias onde tem de ir antes de morrer
É verdade que estamos no inverno, mas nada como sonhar com algumas das praias mais bonitas do mundo e, quem sabe, planear já as férias do próximo verão.
Tóquio secreto
O Hoshinoya Tokyo é hotel que é uma autência viagem, entre o passado e o presente, o oriente e o ocidente.
Duches de água fria. Benéficos para a saúde ou mito urbano?
É um dos temas tendência na comunidade científica, dado a sua ligação profunda com a saúde, tanto física como mental. E agora que está mais calor, questionamo-nos sobre ele.
O hotel Senhora Rosa abriu há três anos, mas tem uma história longa. Começou como plantação de laranjas no século XVIII, foi uma estalagem, faliu e agora a nova geração conseguiu retomar a posse da propriedade. É, ao mesmo tempo, um refúgio no meio do verde, e uma casa de família.
O Vila Vita Parc continua a ser uma referência no saber receber em grande estilo. Três décadas depois de abrir as portas ao nosso contentamento, este resort apetece todo o ano, para um jantar em excelência, e com estrelas Michelin, para mergulhar no spa ou contemplar mundos das suas altas arribas sobre o mar.
Os prémios Best in Cruise 2024, da responsabilidade da Cruise Critic, são uma ajuda valiosa para quem se quer aventurar pelos mares, mas não sabe bem que navio ou itinerário escolher, selecionando os melhores nas categorias de luxo, expedição, fluvial e cruzeiro convencional.
Quase metade dos hotéis escolhidos por este guia ficam na zona de Lisboa e Vale do Tejo. Mas há também muitas opções no Porto e norte do país, no Alentejo, no Algarve e nas ilhas. Portugal é, de resto, o segundo país do mundo com mais hotéis recomendados.