Estilo / Relógios e Jóias

Regressa o icónico Timex de John-John Kennedy

A Timex assinala o 35.º aniversário do emblemático modelo de relógio náutico com o lançamento de uma reedição, revista e atualizada, que mantém intacta a identidade da peça. E aproveita uma imagem de John Kennedy Jr. para o promover.

Foto: GettyImages
17 de abril de 2025 | Diego Armés

Reedições, reinterpretações, relançamentos, revisitações e revivalismos são termos cada vez mais recorrentes nesta idade contemporânea nas mais variadas áreas - e a relojoaria não é exceção. Nos tempos recentes, não faltam exemplos de reissues de modelos e de gamas - umas vezes com recurso a expedientes mais elaborados (como as parcerias para reformulações de modelos emblemáticos, de que o MoonSwatch será o exemplo mais visível e popular), outras vezes com o simples recurso ao saudosismo revivalista de quem recupera os elementos que identificam o imaginário de um determinado período.

Nesta fúria de reeditar, não espanta que a meio destes loucos anos 20 sintamos saudades e revisitemos os cada vez mais longínquos anos 90. O mais recente exemplo de um regresso a esse passado outrora recente da relojoaria chega-nos da Timex, que aproveitou a ocasião do 30.º aniversário do modelo Intrepid para lançar, sob o lema "certos ícones nunca desaparecem", o Timex 1995 Intrepid Reissue. A reedição resulta do esforço conjunto da Timex com a Dimepiece e a Foundwell para a recuperação e preservação do design do rleógio original, adaptando-o às exigências contemporâneas.

Timex 1995 Intrepid Reissue
Timex 1995 Intrepid Reissue Foto: Timex

Se o lema da campanha é absolutamente legítimo, já a figura icónica a que a marca decidiu recorrer para promover esta reedição pode levantar algumas questões. O anúncio deste renovado Timex Intrepid tem como protagonista John F. Kennedy Jr., também conhecido como "John-John" Kennedy, filho do presidente americano John F. Kennedy (1917-1963), que morreu num trágico acidente de aviação em 1999, com apenas 38 anos, dando continuidade à lendária "maldição dos Kennedy".

Na campanha promocional da reedição, a marca relojoeira americana anuncia que este era "o modelo favorito de um certo ícone dos anos 90, que sabia uma coisa ou duas sobre liderar com estilo". O texto é acompanhado de uma foto casual de John-John, apanhado com o relógio original posto no pulso direito. Todavia, o nome do protagonista nunca é mencionado.

Anúncio Timex Intrepid com John F. Kennedy Jr.
Anúncio Timex Intrepid com John F. Kennedy Jr. Foto: Timex

JOHN F. KENNEDY, JR.

Quando, a 16 de julho de 1999, a notícia de um acidente com uma pequena aeronave pilotada por John F. Kennedy Jr. sobre o oceano Atlântico surgiu nas televisões americanas, não se noticiava apenas uma tragédia: dava-se conta da continuação do mais pesado legado associado ao apelido do piloto. A lendária maldição dos Kennedy fazia, pelo menos, mais uma vítima. A confirmação das autoridades chegou pouco mais tarde. Seguiam três pessoas a bordo do avião monomotor: John-John, que o pilotava, a mulher, Carolyn Bessette-Kennedy, e a irmã desta, Lauren, cunhada de John. Todos morreram.

John F. Kennedy Jr e a sua mulher Carolyn Bessette-Kennedy
John F. Kennedy Jr e a sua mulher Carolyn Bessette-Kennedy Foto: GettyImages

John Fitzgerald Kennedy Jr. nasceu a 25 de novembro de 1960, filho do então futuro presidente dos Estados Unidos da América, John. F. Kennedy (que foi eleito 17 dias antes do nascimento de John-John e veio a tomar posse em janeiro do ano seguinte, 1961), e de Jacqueline "Jackie" Kennedy, distintíssima figura da alta-sociedade americana, ícone de estilo da época e mulher destinada a constantes infortúnios e reveses da sorte ao longo da vida. O assassinato do presidente John F. Kennedy foi, obviamente, o primeiro grande momento de exposição pública da vida de John-John. Correram mundo as imagens do pequeno Kennedy a levar a mão à testa num gesto de continência à passagem do caixão do pai, embrulhado na bandeira dos Estados Unidos da América. A imagem não era apenas comovente, era marcante. Kennedy Jr., possuía carisma, sabia atrair atenções, mesmo numa idade em que ainda não tinha a consciência de o fazer.

A documentação da vida de John Kennedy Jr. nos jornais e nas revistas prosseguiu com naturalidade. Quando a mãe Jackie se casou novamente, em 1968, com o magnata grego Aristoteles Onassis, passando a assinar Jacqueline Kennedy-Onassis, a família foi, uma vez mais, centro de atenção mediática. Quando o padrasto morreu, poucos anos mais tarde, em 1975, John-John voltou a conviver com repórteres e flashes. O seu crescimento foi sempre acompanhado de perto pela imprensa especializada na vida social.

John F. Kennedy, Jr.
John F. Kennedy, Jr. Foto: GettyImages

Em 1995, John Kennedy Jr. fundou, ele próprio, a George, uma revista que juntava os dois mundos que tão bem conhecia, política e lifestyle, sob o lema "Not just politics as usual". Na capa da primeira edição, a supermodelo Cindy Crwaford vestida de George Washington (que deu origem ao nome da revista), primeiro presidente dos Estados Unidos da América, e ainda temas tão ilustrativos como "Presidente Madonna". No ano seguinte, em 1996, Kennedy Jr. casou-se com Caroline Bessette, uma proeminente agente de moda em Nova Iorque. Estes eram os principais ingredientes que faziam de John Kennedy Jr. uma figura altamente mediática e um verdadeiro ícone de estilo dos anos 90.

RELÓGIOS NOS ANOS 90

Como em diversas áreas sociais, artísticas, culturais e políticas, a década de 1990 foi, de um modo genérico (e pouco preciso), um período de mudanças e transições. Uma vez mais, a relojoaria, acompanhando os tempos e o ritmo do mundo, não foi exceção. Foi durante os anos 90 que se assistiu a uma reversão da marcha no que toca a preferências em relógios de pulso.

Até à década de 1960, não havia dúvidas: os relógios de pulso eram mecânicos, podendo ser de corda manual ou automáticos. Porém, a partir dessa época, alguns fabricantes japoneses introduziram no mercado movimentos que recorriam ao cristal de quartzo, substituindo o movimento acionado pelo desenrolar da mola. Entre muitas outras vantagens, nomeadamente um aumento substancial da precisão (um cristal de quatrzo atravessado por um impulso elétrico produz mais de 32 mil oscilações por segundo de uma forma constante; um movimento automático oscila, por norma, 4 a 8 vezes por segundo - os calibres de maior precisão oscilam cerca de 32 vezes), os movimentos eletrónicos de quartzo exigiam uma muito menor manutenção (por terem muito menos peças na composição), eram muito mais fáceis e rápidos de produzir e, por tudo isto, eram imensamente mais baratos. Tudo junto, resultou em que os movimentos de quartzo fossem, aos poucos, tomando conta do mercado relojoeiro.

Timex 1995 Intrepid Reissue
Timex 1995 Intrepid Reissue Foto: Timex

O crescimento dos relógios de quartzo teve consequências na relojoaria tradicional, com muitos fabricantes europeus, e em especial suíços, a sofrerem avultadas perdas nas vendas de relógios. O público já não procurava os movimentos mecânicos - mais caros e menos fiáveis - e virava-se para as novas tendências vindas especialmente do Oriente. Esta mudança fez-se acompanhar pela preferência pelos mostradores digitais, em vez dos analógicos de ponteiros. De repente, marcas como a Casio ou a Seiko invadiam os mercados com peças de aspeto moderno e sofisticado, de elevadíssima precisão e fácil leitura, à prova de água e, acima de tudo, muito mais baratos do que os movimentos mecânicos das manufaturas tradicionais. Entre as marcas que passaram a dominar encontrava-se a Timex, fabricante americana sediada no Connecticut que encontrou nesta nova tendência uma oportunidade para furar o mercado internacional.

Foi na década de 1980 que surgiu no panorama relojoeiro um novo protagonista, que viria a ter um papel fundamental em mais uma mudança de paradigma e numa nova inversão de tendência: a marca suíça Swatch (contração de "Second Watch", remetendo para um relógio ligeiro e descontraído, utilitário e divertido para o dia a dia), criada em 1983, apresentava ao mundo as suas criações. Com movimentos de quartzo, a Swatch distinguia-se por recuperar os mostradores analógicos de ponteiros, rompendo com a tendência reinante dos relógios digitais. O sucesso dos relógios Swatch transformou a marca numa das mais populares da relojoaria durante a década de 90, ao mesmo tempo que reestabeleceu como tendência o uso dos relógios analógicos.

A Timex, atenta às modas e à procura do seu lugar no mundo competitivo da relojoaria, foi sempre conseguindo acompanhar, com assinalável sucesso, as mudanças nas tendências e alterações nas preferências do público. E foi neste contexto que, em 1995, lançou o Timex Intrepid, um relógio náutico, vocacionado para a vela e até para o mergulho (é estanque até aos 100 metros de profundidade), com movimento de quartzo e mostrador analógico. O Intrepid incluía ainda a tecnologia Indiglo, desenvolvida pela Timex, que permitia iluminar o espelho do relógio, permitindo uma visibilidade perfeita mesmo em condições adversas e sem luz.

Timex 1995 Intrepid Reissue
Timex 1995 Intrepid Reissue Foto: Timex

O RELÓGIO DE JOHN-JOHN

Juntando todos estes ingredientes, e observando o design e as características do Timex Intrepid, não espanta que John F. Kennedy Jr. fosse frequentemente visto a usar uma destas peças, e que essa exposição tivesse ajudado a tornar icónico o modelo Intrepid. Não é possível saber se, hoje, John-John apreciaria a sua reedição com o Timex 1995 Intrepid Reissue. E muito menos o que pensaria de ser protagonista da campanha de reissue. Mas vamos acreditar que sim. Afinal de contas, o relógio não mudou assim tanto e "certos ícones não desaparecem". Mesmo que já não estejam vivos.

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