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Grupo LVMH. Está em jogo a mais rica dinastia do mundo – mas quem irá assumir o controlo?

Ao dar à filha o controlo da Dior, Bernard Arnault pode ter lançado a competição para ver qual dos filhos ocupará o seu lugar como presidente da LVMH.

Bernard Arnault com a filha Delphine Arnault nos Prémios LVMH de 2019 em Paris, França.
Bernard Arnault com a filha Delphine Arnault nos Prémios LVMH de 2019 em Paris, França. Foto: Getty Images
17 de fevereiro de 2023

"Não tenho a certeza se ambicioso é o termo certo", disse o multimilionário Bernard Arnault a Celia Walden do Telegraph, em 2015, quando questionado acerca dos seus níveis de motivação da altura. "O que eu adoro é ganhar. O que adoro é ser o número um." E o certo é que o alcançou, como presidente da LVMH, que controla as principais marcas de luxo, desde a Moët à Louis Vuitton. Em dezembro passado, Arnault derrubou Elon Musk da posição de homem mais rico do mundo.

Há poucas semanas, Arnault, de 73 anos, deu todos os indícios de que tinha acabado de dar o tiro de partida para a competição mais glamorosa e, potencialmente, mais delicada do mundo para determinar qual dos seus cinco filhos irá ser o seu sucessor como número um. O magnata nomeou a sua filha Delphine, de 47 anos, como a nova diretora-executiva da Dior, a mais adorada das suas muitas bagatelas de prestígio.

Enquanto os Arnault têm todos demasiado autocontrolo para que alguma vez haja sangue visível no tapete Aubusson, o que Arnault fez, explica Luca Solca, analista na empresa de investimentos Bernstein, foi criar uma "competição darwiniana" entre os seus filhos.

Bernard Arnault com a mulher Hélène e os filhos (da esquerda para a direita) Frederic Arnault, Delphine Arnault, Antoine Arnault e Alexandre Arnault em Paris, junho de 2021.
Bernard Arnault com a mulher Hélène e os filhos (da esquerda para a direita) Frederic Arnault, Delphine Arnault, Antoine Arnault e Alexandre Arnault em Paris, junho de 2021. Foto: Getty Images

Em vez de indicar que está prestes a retirar-se da LVMH, o conglomerado que fundou em 1987, Arnault alterou recentemente as regras da empresa de modo a que o seu presidente-executivo possa trabalhar até aos 80 anos. Esguio, alto (mais de 1,80m) e um aficionado jogador de ténis – para o seu 65º aniversário, os filhos organizaram um partida-surpresa entre ele e Roger Federer e Arnault conseguiu marcar alguns pontos –, ele parece ser saudável e, até ao momento, não demonstra sinais de estar a abrandar. Ainda assim, qualquer estratega ponderado tem a responsabilidade moral de planear a sua eventual sucessão. E esta será uma batalha das grandes.

Em jogo está um labirinto da maioria das marcas de luxo do mundo – Dior, Louis Vuitton, Celine, Givenchy, Tiffany, Loro Piana, Moët et Chandon – e um império recentemente avaliado em 390 mil milhões de dólares [pouco mais de 364 mil milhões de euros].

Arnault tem sido frequentemente apelidado como "o lobo de caxemira" –  em parte devido aos olhos lupinos de um azul-pálido e em sempiterna vigilância, de modos suaves, mas esquivos, e completamente pela sua conduta imperturbável e a sua implacável falta de compaixão. A sua filha, Delphine, é inescrutável, mas o certo é que aquela última jogada de Arnault foi grande. O próximo, a seguir a ela, o seu morenaço e atraente irmão Antoine, de 45 anos (casado com a supermodelo russa Natalia Vodianova), foi nomeado vice-presidente do conselho de administração e CEO da Christian Dior SE (a holding através da qual a família controla a LVMH).

Bernard Arnault e o seu filho Antoine Arnault, 2016
Bernard Arnault e o seu filho Antoine Arnault, 2016 Foto: Getty Images

Esqueçam lá os Roy da tenebrosamente cómica série da HBO Succession. Nesta só há quatro filhos envolvidos e um deles, no mínimo, é uma cabeça oca. Tirem da ideia também a dinastia de media Murdoch, que alegadamente inspirou a série Succession. O patriarca Arnault, nascido no seio de uma família abastada, com um sólido negócio de construção civil, construiu meticulosamente um império e uma dinastia mais glamorosa e muito, muito mais rica do que qualquer coisa inventada por Murdoch, Musk ou o fictício Roy. A sua casa, uma montanha neoclássica do século XVIII com 12 quartos, não muito longe do Arco do Triunfo, no 8º Bairro parisiense, conta com um parque em redor de uma vastidão quase inimaginável, especialmente tendo em conta que estamos a falar de Paris.

A fortuna pessoal de Rupert Murdoch, avaliada em 17,3 mil milhões de dólares [quase 16,2 mil milhões de euros], é quase pateticamente esparsa quando comparada com a reserva de Bernard de 203 mil milhões de dólares [pouco acima de 189,6 mil milhões de euros].

E no entanto há rumores… Logan Roy, o patriarca bully de Succession, adora acirrar a sua perturbada prole uns contra os outros. Arnault, enquanto isso, tem todos os seus cinco filhos de dois casamentos a trabalhar dispersos pelos vários tentáculos do seu império. Delphine Arnault, fruto do seu primeiro casamento com Anne Dewavrin, tem um porte distinto e é elegante, com os seus cabelos louros. Tem os impressionantes olhos claros do pai, bem como a sua estatura elevada: tem pouco menos de 1,80m de altura e o seu primeiro casamento com Alessandro Vallarino Gancia, herdeiro de uma fortuna produtora de vinhos, em 2005, foi um evento de enorme relevância. A noiva usou um vestido concebido por John Galliano, que trabalhou paro o seu pai na Dior, e Karl Lagerfeld, que trabalhou para Arnault na Fendi, tirou fotografias.

Delphine Arnault no desfile de Christian Dior na Semana da Moda de Paris dedicada às coleções de Alta-Costura Primavera/verão 2023, janeiro de 2023.
Delphine Arnault no desfile de Christian Dior na Semana da Moda de Paris dedicada às coleções de Alta-Costura Primavera/verão 2023, janeiro de 2023. Foto: Getty Images

Tal como Shiv Roy em Succession, também ela é inteligente. Atualmente, o seu parceiro é Xavier Niel, um multimilionário francês das tecnológicas com quem tem dois filhos. Delphine é fluente em inglês, tendo estudado nos EUA e na London School of Economics, e quando se formou entrou para a McKinsey antes de ir trabalhar com o pai na Louis Vuitton e na Dior. Talvez num elogio inconsciente ao pai, Delphine tende a usar padrões monocromáticos, modelos em tom sobre tom (normalmente da Dior), e senta-se a seu lado na primeira fila dos eventos com a mesma inescrutabilidade impassível. Não de uma forma carrancuda ou rabugenta, mas também não de uma maneira a que se chamaria sociável.

Antoine é mais radiante – e menos avesso a poses na passadeira vermelha. Se o mote de Delphine é "viver oculta, viver feliz", Antoine, nos seus tempos de solteiro, deleitava-se com o epíteto de playboy. Enquanto trabalhou na Louis Vuitton, orquestrou a campanha Celebridade A++, em 2007, que teve como estrelas, entre outros, Keith Richards, Catherine Deneuve, Pelé, Maradona, Muhammad Ali e Mikhail Gorbachev. Também foi CEO da Berluti (a partir de 2011), impulsionando o aumento das vendas de cerca de 45 milhões de dólares [à época, pouco mais de 33,3 milhões de euros] para 130 milhões de dólares [na altura, um pouco acima dos 96,35 milhões de euros] por ano. Impressionante, mas será isto o suficiente para ultrapassar a mana mais velha?

Alexandre e Bernard Arnault no desfile de Christian Dior na Semana da Moda de Paris dedicada às coleções de Alta-Costura Primavera/verão 2023, janeiro de 2023.
Alexandre e Bernard Arnault no desfile de Christian Dior na Semana da Moda de Paris dedicada às coleções de Alta-Costura Primavera/verão 2023, janeiro de 2023. Foto: Getty Images

Há outros três pretendentes Arnault, do segundo casamento de Bernard com uma pianista clássica canadiana, Hélène Mercier, de 62 anos, com quem se casou em 1991 – todos eles com o mesmo nariz largo e longos rostos ascéticos do pai e dos irmãos mais velhos. Alexandre, de 30 anos, é o diretor de Produto e Comunicações na Tiffany & Co., anteriormente diretor-executivo e presidente da Rimowa, depois de a marca alemã de malas de viagem de luxo ter sido adquirido pela LVMH em 2017. Frédéric, de 28 anos, é atualmente o director-executivo da Tag Heuer. Jean, com 24 anos, é diretor de Marketing e de Desenvolvimento de Produto para a Divisão de Relógios da Louis Vuitton.

Isto é que é manter as coisas en famille! Mas longe de serem meramente bebés do nepotismo, como a Geração Z os poderia descrever, este naipe de gente é todo altamente dotado, qualificado académica, desportiva e musicalmente. Arnault é demasiado perspicaz para confiar o conglomerado que ele tão empenhadamente construiu ao longo de quatro décadas a um punhado de medíocres. E não tenham dúvidas, o que ele fez desde 1987 deixou o significado e valor do que é o luxo alterado para lá de qualquer reconhecimento.

Frédéric Arnault num evento da Tag Heuer em Beverly Hills, outubro de 2021.
Frédéric Arnault num evento da Tag Heuer em Beverly Hills, outubro de 2021. Foto: Getty Images

Ao partir em busca dos mais ilustres nomes de família, tais como os Fendi, naturais de Roma, ou os Loewe, de Madrid, e erigi-los em negócios muito maiores, ele transformou a Moda, a Beleza e os relógios de alta-qualidade numa mega-indústria. O segredo do seu sucesso, diz Solca, foi a invenção de um paradoxo: "Vender exclusividade aos milhões".

Tem havido, inevitavelmente, danos colaterais humanos. À medida que ele foi movendo os seu designers de Moda através do seu tabuleiro de xadrez sempre em expansão, houve colisões e desaparecimentos. Os criadores de Arnault vivem como imperadores enquanto estão nas suas boas graças – ele não pode ser acusado de subestimar a criatividade –, mas as sombras são sítios muito, muito gelados.

Jean Arnault e Zita de Hauteville na festa de aniversário de Doris Brynner em Paris, setembro de 2021.
Jean Arnault e Zita de Hauteville na festa de aniversário de Doris Brynner em Paris, setembro de 2021. Foto: Getty Images

Uma fotografia dos 1990 mostrando Arnault com as suas três maiores estrelas da época diz tudo. A chama de Jonh Galliano apagou-se em 2011, passados 15 anos. Alexander McQueen, que trabalhou para Arnault na Givenchy durante cinco anos e nunca obteve os louvores que pretendia, retornou a Londres onde cometeu suicídio em 2010. Marc Jacobs, nos seus 16 anos como diretor criativo da Louis Vuitton, desaparecia periodicamente para reabilitação. Todos foram substituídos e, na Givenchy e Dior, os seus substitutos foram substituídos. No paradigma da Moda de Arnault ninguém é eternamente indispensável.

Lisa Armstrong / The Telegraph / Atlântico Press

Tradução: Adelaide Cabral

Saiba mais Bernard Arnault, LVMH, Dior, Louis Vuitton, Delphine Arnault, Alexandre Arnault, Jean Arnault, Antoine Arnault, Frédéric Arnault, Moda, Luxo
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