O personalizador dos carros dos famosos
O leitor é um jogador de futebol da primeira liga e acaba de gastar um quarto de milhão num supercarro. Apesar disso, ainda lhe falta qualquer coisa… É então que entra em cena Yianni Charalambous – alguém pediu pele de cobra?
Vamos fingir que o leitor é um jogador de futebol. Um jogador de futebol de topo. Jovem, talentoso e incrivelmente rico, ganhando 150 mil libras esterlinas por semana, nas calmas. Mas… como é enquanto pessoa? Além do futebol, o que o motiva? O que realmente lhe agrada? Bem, a título argumentativo, vamos presumir que gosta das coisas do costume: relógios caros, roupas caras, joias caras. Também gosta de mostrar os seus hábitos de consumo ostensivos a milhões de pessoas através dos seus perfis nas redes sociais, repletos de selfies e polvilhados com várias hashtags motivadoras. No entanto, acima de tudo, gosta de carros. Carros rápidos. Carros sexy. Carros com motores que parecem Deus a pigarrear para limpar a garganta e que deslizam como grandes felinos a perseguir presas. E tem imensos carros – Lamborghinis, Ferraris, Mercedes – e está muito orgulhoso deles. Porque, sendo futebolista, compreende intuitivamente que os seus carros não são meros objetos de vaidade, mas manifestações físicas do seu valor profissional – da sua perícia e das suas capacidades. Por outras palavras, do seu valor. Vrum, vrum, vrum. Um dia, está calmamente sentado a descansar no seu casarão depois de um treino, sentindo-se exausto e dando uma vista de olhos ao seu feed de Instagram quando vê algo que o paralisa. É outro futebolista, talvez um colega de equipa, talvez um rival, posando com um dos seus carros desportivos. É de uma marca e de um modelo parecido com alguns dos seus, mas não foi isso que lhe chamou a atenção. O que o fez ficar de olhos abertos foi o facto de o carro do outro jogador ter sido radicalmente customizado e parecer feito de ouro maciço. Ou talvez verde-lúrido cromado. Ou será pele de cobra? Um carro desportivo em pele de cobra? Os pormenores são irrelevantes. O importante é que, de repente, você percebeu que a coisa que mais quer no mundo, neste momento, é um carro que pareça de ouro maciço. Ou verde-lúrido cromado. Ou revestido com pele de cobra. Já agora, a elegância discreta não faz o seu género. A seguir, envia uma mensagem ao outro jogador e pergunta-lhe como arranjou aquilo e ele diz-lhe para falar com um tipo de ascendência grega e cipriota chamado Yianni Charalambous. Ele diz-lhe que ele é o homem que customiza os carros de toda a gente. Então, liga a Charalambous. Ele já estava mais ou menos à sua espera. "O meu telefone está mudo entre as 9 horas e as 12 horas e 30", diz-lhe Charalambous. "Mas assim que são 12 horas e 30 desata a tocar sem parar. Todos já acabaram de treinar e estão aborrecidos. Às vezes, os jogadores mandam-me mensagens durante a noite: ‘Oh, eu quero isto, eu quero aquilo.’" Os jogadores de futebol, diz, são particularmente propensos a telefonar-lhe com planos para os seus carros na noite antes de um jogo porque é quando estão mais letárgicos. "Estão enfiados num hotel, sem poderem sair e sem verem ninguém. Ficam sentados em frente ao computador a ver coisas. Já tive clientes que gastaram 30 mil ou 40 mil libras num piscar de olhos."
Estou com Charalambous no gabinete por cima da sua garagem, em Enfield, no norte de Londres. Ele tem 42 anos, um físico robusto e uma barba bem cuidada, cabelo penteado para trás, antebraços tatuados e uma afabilidade natural. O nome do seu negócio – o nome da sua marca é "Yiannimize", uma combinação de "Yianni" com "customize". Este termo também é usado como verbo: entre a sua clientela composta por futebolistas e celebridades, "yiannimizar" o carro é transformá-lo numa coisa extraordinária. Ou ridícula. Para ser franco, não me parece que façam essa distinção. Por exemplo, ele já "yiannimizou" uma mini-van Mercedes para John Terry. "Transformei-a na sala de estar dele, com dois cadeirões, uma TV bem grande e uma Xbox ou uma PlayStation instaladas." Já "yiannimizou" um supercarro japonês para Sergio Agüero, do Manchester City, para condizer na perfeição com a cor e o padrão das suas sapatilhas de futebol. Já "yiannimizou" um carro do antigo avançado da seleção nacional francesa e do Liverpool, Djibril Cissé, que queria mesmo o seu Cadillac Escalade revestido com pele de cobra por dentro e por fora. "Não era pele de cobra verdadeira", esclarece rapidamente Charalambous. "Era vinil com o aspeto e a textura da pele de cobra. Até se conseguiam sentir as escamas." Uma vez, ele deu por si metido num imbróglio entre dois futebolistas rivais – William Gallas e El Hadji Diouf –, pois ambos queriam os seus carros iguais "yiannimizados" da mesma maneira, exigindo-lhe que se recusasse a trabalhar no carro do outro. "Eles tinham Mercedes SLR que custam, pelo menos, 300 mil libras e ambos os queriam cromados espelhados", diz Charalambous, antes de começar a falar apaixonadamente sobre o efeito que se obtém quando se envolve um carro em vinil cromado espelhado. "Parece um espelho a circular na estrada. Olhamos para ele e quando o sol lhe bate ficamos sem ver nada por ser tão brilhante", diz, com um sorriso. "Adoro cromado. Todos os meus carros são cromados."
Os seus clientes não se resumem a futebolistas. Ele já trabalhou para Anthony Joshua ("Um tipo muito inteligente"), Gordon Ramsay ("A sua mulher, Tana, contactou-me e fizemos três dos seus carros em cinzento mate, um tom muito elegante e subtil") e também já "yiannimizou" três carros para o ator Rupert Grint, da saga Harry Potter, que é apenas uma das dezenas de celebridades cujas fotografias e assinaturas enfeitam as paredes do gabinete de Charalambous. Ele até "yiannimizou" o autocarro da digressão dos One Direction para ficar parecido com a Mystery Machine, do Scooby-Doo, e trabalhou em carros de Harry Styles. "O Harry é tão famoso que lhe escurecemos os vidros", diz, explicando que Styles estava desesperado por ter privacidade porque era reconhecido sempre que parava num semáforo. Ele até lhe pediu vidro fumado no para-brisas. De muitas formas, Charalambous pertence simplesmente a uma crescente casta profissional que existe para servir uma clientela quase inteiramente composta por celebridades. Assistimos ao mesmo fenómeno com alguns tatuadores ou personal trainers, pessoas cuja capacidade de atrair e manter clientes importantes faz com que acabem por ter uma carreira de sucesso, como aconteceu com os artesãos florentinos do Renascimento. O que existe de especial em Charalambous é que ele também é uma espécie de celebridade. Há quatro anos começou a publicar vídeos no YouTube da sua equipa a trabalhar nos carros dos clientes, filmando as suas reações quando iam buscá-los. Hoje tem quase 1,3 milhões de subscritores no YouTube e mais de 1,1 milhões de seguidores no Instagram. Alguns dos seus vídeos atraem quase 10 milhões de visualizações e, além de tudo isto, ele protagoniza a sua própria série televisiva, Yianni: Supercar Customiser, que é atualmente o programa mais popular do Dave Channel. Isto é uma maneira de dizer que há imensa gente que adora ver Charalambous e a sua equipa aplicar revestimentos vinílicos de cores garridas cromadas em carros desportivos incrivelmente caros. Ele já chegou ao ponto de aspirantes a celebridades – protagonistas de reality shows, membros do elenco de Towie, etc. – lhe telefonarem a pedir para ele lhes customizar o carro de graça, em troca de "visibilidade" nos seus perfis de Instagram e ele responder: "Ah… quantos seguidores tem? Vinte mil? Eu tenho 1,1 milhões." Depois eles pensam melhor no assunto, engolem o orgulho e pagam para "yiannimizar" os seus carros – o que pode custar desde 1.600 libras a mais de 40 mil, dependendo do trabalho – porque aparecer no Instagram de Charalambous acaba por dar mais visibilidade aos seus próprios feeds. "Eles é que ganham visibilidade graças a mim", diz, rindo-se. As redes sociais, em geral, e o Instagram, em particular, têm desempenhado um grande papel no crescimento do seu negócio. "Aquilo foi, literalmente, feito para mim."
Charalambous vive a uma curta distância de automóvel da sua oficina, numa casa murada, com a mulher e os dois filhos. É filho de dois contabilistas gregos-cipriotas e cresceu em Edgware. Diz que teve dificuldades na escola. "Eu não conseguia prestar atenção aos professores durante muito tempo. Aborrecia-me. Eu só queria trabalhar." Aos 16 anos desistiu da escola e embarcou numa série de trabalhos servis: nas caixas registadoras da atualmente defunta Do It All ou a fazer turnos da noite gélidos num armazém da Marks & Spencer. Mais tarde foi promovido para o gabinete de devoluções da M&S. "Eu tinha de lidar com senhoras de idade que queriam devolver soutiens sujos", diz. "Tive contacto cara a cara com o público. Isso preparou-me bem." Pouco depois, conseguiu um emprego no Office World e, aos 19 anos, tornou-se o mais jovem gerente adjunto da região. Seguiram-se vários trabalhos empreendedores – a lavar carros, num cabeleireiro – até se mudar para Londres para trabalhar em recrutamento e imobiliário, área em que ganhou bastante dinheiro.
Por essa altura, com quase 30 anos, conduzia um Lamborghini e conheceu o futebolista francês Bacary Sagna que também tinha um Lamborghini e assinara recentemente contrato com o Arsenal. Sagna mencionou que adoraria ter o seu carro customizado. Charalambous, que ouvira recentemente falar na prática de revestir carros desportivos com películas vinílicas, disse-lhe que tratava disso. Encontrou um especialista capaz de fazer o trabalho e disse a Sagna que iria custar 45 mil libras. O futebolista enviou-lhe imediatamente o montante, como se não fosse nada de especial. "Eu disse-lhe: ‘Nunca mais faças isso!’", diz Charalambous, abanando o dedo. "Não dás 45 mil libras a ninguém, à cabeça. Eu poderia ter fugido." Mas não fugiu. Em vez disso, agindo como intermediário, conseguiu-lhe a customização com que Sagna sonhara. De repente, Charalambous estava em alta. Recebeu, quase de seguida, um telefonema de William Gallas, colega de equipa de Sagna na seleção francesa e no Arsenal. Ele queria que Charalambous fosse ao campo de treino do Arsenal, pegasse no seu carro e o levasse a customizar – "yiannimizar". "Cheguei lá e era uma cena de loucos. Porsches. Lambos." Ele diz que os jogadores do Arsenal estavam a discutir sobre qual seria o próximo carro. O facto de os futebolistas serem propensos a este tipo de pensamento coletivo foi muito importante para o sucesso de Charalambous e o processo foi incrivelmente rápido. "Quando trabalhamos com famosos, eles conhecem-se uns aos outros. Sagna deu-me Gallas. Gallas deu-me John Terry. John Terry deu-me Didier Drogba." E por aí adiante. Ele diz que "yiannimizou" os carros de todos os membros da banda pop JLS. "Depois, na festa de Natal dos JLS, conheci os One Direction. E então fiz os carros de todos os elementos dos One Direction. Era, literalmente, o efeito da bola de neve." Charalambous comprou a sua própria garagem em Tottenham, mas o negócio cresceu para além do espaço e teve de se mudar para Enfield. A garagem atual fica em frente a uma escola secundária, o que pode ser um problema durante o período de aulas porque muitos dos alunos o seguem no Instagram e querem ver de perto os carros e os futebolistas que lá possam aparecer. Podem formar-se grandes multidões à entrada.
Hoje, há um carro – talvez um Porsche – estacionado no átrio, revestido com vinil dourado cromado. Está ali ao sol, reluzindo como um bombom da marca Quality Street. Pertence ao avançado Pierre-Emerick Aubameyang que se juntou recentemente à equipa do Arsenal vindo do Borussia Dortmund, e é um dos vários carros que ele mandou "uniformizar", ou seja, revestir exatamente da mesma cor. A paixão deste jogador por carros precede-o. "Quando o Pierre veio para o Arsenal, eu tive logo a certeza de que me iria contactar", diz Charalambous. Algumas semanas mais tarde, lá estava ele a telefonar. A maioria dos trabalhos implica "embrulhar" – revestir um carro com uma película adesiva vinílica e depois conseguir, artisticamente, que não pareça ter sido revestido com película adesiva vinílica. Assistir ao processo nos vídeos de Charalambous no YouTube ou à sua série de TV é estranhamente terapêutico. No chão da garagem, a sua equipa de técnicos reveste carros bonitos com cores do outro mundo, usando pouco mais do que bisturis, rodos e um secador de cabelo. O processo é delicado, tátil e profundamente satisfatório mesmo para quem não goste de carros, que é o meu caso. A equipa de Charalambous é visivelmente diversificada, incluindo três ou quatro jovens mulheres de diversas etnias. "Temos gregos, turcos, filipinos, polacos, jamaicanos", diz. "Somos a United Colors of Benetton." A dada altura, ele convida-me para experimentar "embrulhar". É-me confiada a parte de trás de uma chapa de matrícula – o que se revela muitíssimo trabalhoso e stressante. Acabo por deixar bolhas de ar visíveis em todo o lado. O facto de estes revestimentos serem temporários não só faz parte do seu encanto, como é fundamental. Podemos mudar o nosso carro sem mudarmos de carro. "Ouça, eu tenho um Lambo", diz Charalambous. "Na verdade, tenho dois Lamborghinis e uso-os todos os dias. Mas, às vezes, farto-me. Eu quero sentir que tenho um carro novo. Além disso, gosto do facto de se destacar. E quando nos fartamos do carro que temos? Podemos tirar a película e voltar à cor original." Ele já revestiu o seu Lamborghini Aventador cinco ou seis vezes. "Já foi cinzento, roxo, preto acetinado, turquesa cromado e vermelho cromado", diz, fazendo um esforço para se lembrar. Eu digo-lhe que é mais ou menos como pintar as unhas, mas para futebolistas. "Ya", responde-me, franzindo o sobrolho. "Mais ou menos."
No entanto, existem razões práticas para revestir um carro. Para começar, Charalambous diz que ajuda a proteger a pintura subjacente. Depois, houve aquela ocasião em que toda a equipa do Leicester City foi recompensada, pela sua vitória improvável, com BMW azuis a condizer. O problema era serem literalmente iguais. Os jogadores não sabiam qual carro era o seu. Por isso, revesti-los apresentou-se como solução. Jamie Vardy, recorda, acabou por revestir o seu com película preta cromada. Está a ver? Fácil! Charalambous diz adorar o seu trabalho e não há como duvidar dele. Ele adora os seus clientes famosos, alguns dos quais ele nem sequer pode mencionar. "Eu já fiz trabalhos para clientes que não querem aparecer nas redes sociais. Gente muito, muito rica e importante. Estou a falar em famílias reais." No entanto, ele também gosta de ver pessoas normais na sua oficina, como os adolescentes locais que pouparam para ter o seu Corsa "yiannimizado". Ele compreende que muitas pessoas considerem a estética do "Lamborghini em ouro maciço" ou do "Cadillac em pele de cobra" de mau gosto, o que é uma pena, na sua opinião. "Descobri que, no Reino Unido, as pessoas não apreciam a riqueza, nem a ostentação. Se eu tivesse este negócio nos EUA, seria 100 vezes maior." Ultimamente, até os jogadores de futebol começaram a ser mais discretos. Ele refere o ataque da imprensa a Raheem Sterling como uma das razões por detrás disso. "Vimos o que se passou com Raheem e aquilo que as pessoas estão a dizer sobre ele. Ele comprou uma casa para a mãe e as pessoas parecem estar indignadas: ‘Compraste uma casa para a tua mãe? Como te atreves?!’", diz, com um tom hipócrita. "Por isso, as pessoas não querem vir tanto cá. Não querem que os outros digam: ‘Ah, és futebolista, gastaste 300 mil num carro e agora vais gastar ainda mais para o revestir?’ As pessoas têm mais medo de fazer certas coisas." Ele diz-me que o cinzento cromado é cada vez mais popular. E, de facto, está um Bentley na oficina a ser revestido com essa cor. Por outro lado, não é como se não estivesse lá também um Range Rover cor de laranja rebuçado ou o Porsche dourado de Pierre-Emerick Aubameyang estacionado à porta, reluzindo ao sol, parecendo uma gloriosa enxaqueca de seis dígitos. Antes de me despedir de Charalambous, passamos junto a uma parede com fotografias de dezenas dos seus clientes famosos. "As pessoas dizem que o dinheiro não compra bom gosto", comenta, gesticulando. "Mas é o dinheiro deles e o gosto deles. Se todos gostassem da mesma coisa, o mundo seria muito aborrecido."
Exclusivo The Times Magazine
Tradução: Erica Cunha e Alves
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