Portugal nos oitavos: missão cumprida
Numa noite em que Bruno Fernandes foi herói, com dois golos a derrotar o Uruguai, a seleção de Fernando Santos juntou-se ao Brasil e a França e apurou-se para a próxima fase. Está consumado.
Estamos em 1966, estão em andamento a Guerra Fria e a Guerra Colonial, António de Oliveira Salazar está confortavelmente instalado em São Bento e o único índice em que Portugal bate recordes é o do seu atraso civilizacional. Para entreter o povo, além dos "F" de fado e de Fátima, haverá sempre o futebol. No Mundial de Inglaterra, os "Magriços" liderados por Coluna e com o gigante Eusébio em topo de forma arrasam Hungria e Bulgária e defrontam o Brasil já apurados para as meias-finais do torneio.
Ontem, 28, da mesma forma, sem sobressaltos, Portugal apurou-se para os oitavos-de-final ao segundo jogo da fase de grupos ao derrotar o Uruguai por 2-0, com golos de Bruno Fernandes. Ao contrário do que aconteceu em edições anteriores, a seleção não entrará na última ronda da fase de grupos com bola nos pés e calculadora na mão, a fazer contas com empates, resultados de terceiros, diferenças de golos e confrontos diretos. Ainda que seja possível perder o primeiro lugar para o Gana, caso se alinhem os planetas a favor da nação africana, o apuramento, seja em 1.º ou 2.º, está consumado.
Parecia fácil, mas o confronto de ontem com o Uruguai trazia bagagem. Em 2018, no agora também ele infame Mundial da Rússia, Portugal caiu aos pés de Edinson Cavani que, com dois golos contra um de Pepe, nos mandou de volta a casa nos quartos-de-final. Esta inglória presença na Rússia era mais do que passado, mas ainda quem ontem desmentisse uma certa sensação de déjà vu ao ver as camisas azul-celeste dos uruguaios, no Estádio Nacional de Lusail, prontas para reacender o drama de há quatro anos em Sochi estaria certamente a mentir. Porque se nações futebolísticas maiores, como Inglaterra ou França, fazem frequentemente a pergunta sobre Portugal, é a nossa vez de questionar: como é possível que um país com apenas 3,4 milhões de habitantes produza futebolistas em quantidade e qualidade suficientes para nos deixar a roer as unhas com o receio da derrota? Colocado em perspetiva, isto seria como se a Área Metropolitana de Lisboa fosse capaz de produzir uma equipa de todos nós, quando, na verdade, só contribuiu com sete nascimentos para o lote de convocados de Fernando Santos.
Mesmo sem a necessidade de recorrer à calculadora, é conveniente usar a lógica e ter os pés assentes na terra. O emparelhamento decorrente do sorteio da FIFA coloca o Grupo H, de Portugal, no caminho do Grupo G, de Brasil, Suíça, Camarões e Sérvia, e em seguida com os sobreviventes das eliminatórias entre os grupos E e F, em que Espanha é a nação mais forte. O que nos traz de volta à Alemanha. No último lugar do Grupo E, com apenas um ponto, os alemães preparam-se para entrar na terceira ronda, em que enfrentam a Costa Rica (01/12, 19h) a ter obrigatoriamente de ganhar e a esperar que o Japão não surpreenda a já apurada e líder do grupo Espanha. Em melhor situação, depois da derrota inicial com a Arábia Saudita e de uma vitória arrancada a ferros sobre o México, a Argentina, no Grupo C, depende apenas de si mesma no jogo contra Polónia (30/11, 19h).
Já Portugal disputa o seu derradeiro "treino de conjunto", e apenas porque o calendário é mesmo para cumprir, com a Coreia do Sul, a 2 de dezembro, pelas 15h.
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