Campeonato de chapadas: o novo desporto americano
Eis uma verdadeira modalidade para homens de barba rija, até porque a pilosidade facial é capaz de ajudar a amortecer. A Power Slap, primeira liga oficial de “slap-fighting” ou luta de chapadas, foi lançada em janeiro de 2023 e tem mais de 4 milhões de seguidores no TikTok.
Quem teve o azar de receber estaladas dos irmãos ou irmãs, diz, muitas vezes, que o pior é a antecipação. Não saber quando e de onde chegará o primeiro golpe e, sobretudo, com que força. Nos torneios de Power Slap o pior é mesmo a possibilidade de ficar com danos cerebrais – o ouvido a apitar é mais que garantido e convém acender uma vela ao santo dos loucos se continuar a funcionar. A modalidade consiste, exactamente, no que diz no nome: é uma espécie de braço de ferro, mas com chapadas. Dois homens bem constituídos juntam-se, perante um árbitro e uma plateia, sem qualquer tipo de proteção facial – excepto um protetor bucal –, para ver qual deles consegue ganhar ao outro em chapadas. Ou, talvez não ganhar, mas "apagá-lo", já que a maioria dos torneios acaba em knock out. Ou seja, vão dando chapadas uma ao outro à vez e a competição termina quando um deles fica inconsciente, ou quando o árbitro decide que um deles não está capaz de continuar. Anda uma mãe a criar um filho para isto? Parece que sim. Aliás, um filho ou uma filha porque também há concorrentes femininas: Ariane Lipski e J.J. Aldrich são dois casos.
O primeiro combate televisionado decorreu no ano passado, entre Chris Thomas e Chris Kennedy, e é um bom exemplo do estrago que a modalidade pode fazer – seria de supor que levar uma chapada fosse menos danoso do que levar um soco, mas parece não ser necessariamente o caso. Calhou a Thomas o direito a dar a primeira chapada – decisão que é tomada atirando uma moeda ao ar – e uma foi o que bastou para que Kennedy aterrasse redondo no chão, apresentando a chamada reação de esgrima: quando os braços de uma pessoa se estendem após um golpe, o que pode ser um sinal de lesão cerebral. Kennedy foi socorrido de imediato e, quando acordou, disseram-lhe que tinha sofrido um knock out. "Knock out a fazer o quê? Estava a lutar?", perguntou um confuso e visivelmente abalado Chris Kennedy. Em 26 dos 55 encontros que decorreram até ao momento, um dos concorrentes acabou inconsciente.
Foi em janeiro de 2023 que Dana White, presidente do Ultimate Fighting Championship, lançou o Power Slap, a primeira liga oficial norte-americana de luta de chapadas. A ideia inicial era fazer um reality show, mas teve uma audiência baixa e o canal TBS desistiu do formato no fim da primeira temporada. Por um momento, parecia que a fé na humanidade podia ser restaurada, mas não. O que os telespectadores desprezaram tornou-se pedra angular para os internautas: a Power Slap tem agora 4,2 milhões de seguidores no TikTok e alguns vídeos têm mais de um milhão de visualizações. O sucesso levou Dana White a lançar a segunda temporada de Power Slap: Road to the Title no Rumble, uma plataforma de partilha de vídeos, e a grande final – a Chapada Suprema, talvez – vai decorrer no próximo dia 9 de fevereiro.
E enquanto os críticos da modalidade apontam o risco de lesões neurológicas como algo a ter em conta e que devia afastar os concorrentes, parece que a maioria está mais interessada nos seus 15 minutos de fama do que na saúde das sua pequenas células cinzentas.
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