Prazeres / Lugares

Ocean: a caminho da terceira estrela Michelin?

Com um novo menu baseado nas viagens do chef Hans Neuner pela Ásia, na rota dos descobrimentos portugueses, o restaurante algarvio Ocean traz para a mesa uma mestiçagem de sabores absolutamente genial. Para provar antes que lhe subam uma estrela…

Numa flor de lótus colorida, esta feita à mão, em metal, aqui mesmo, e que serve para acolher um Caranguejo Real com molho holandês de Ponzu e Ovas de Truta.
Numa flor de lótus colorida, esta feita à mão, em metal, aqui mesmo, e que serve para acolher um Caranguejo Real com molho holandês de Ponzu e Ovas de Truta. Foto: DR
27 de junho de 2024 | Bruno Lobo

Dizem que os olhos também comem, mas no Ocean prepare-se para um banquete visual que começa mal se põe pé no restaurante e somos recebidos pela vista magnífica da sala aberta para o oceano. Continua quando nos sentamos à mesa, e reparamos nos guardanapos mais bonitos, com a figura de um sumotori num dos lados, e uma linda atriz de Kabuki em trajes tradicionais do outro. Da melhor Street Art, a fazer-nos duvidar se vamos, em algum momento da refeição, chegar a usá-los. Os guardanapos são também a primeira indicação de que algo está diferente…

Nos últimos anos, a carta do Ocean tem navegado ao sabor das viagens do chef, o austríaco Hans Neuner, pela rota dos descobrimentos portugueses e pela forma como, depois, cruza essas inspirações com os produtos mais frescos e locais. A última incursão foi por terras de Vera Cruz (o Brasil, para os mais distraídos nas aulas de história), mas agora voou para algo mais interessante, até aos sabores e texturas da culinária asiática. De Banguecoque ao Japão, passando por Macau, Seul e outros lugares, o menu tem tudo de surpreendente, de delicioso e, lá está, de bonito. Isso é bem evidente na manteiga infusionada com molho de soja envelhecido, servida em forma de peças de mahjong e em velhas caixas do jogo, que o próprio chef comprou na viagem. Numa flor de lótus colorida, esta feita à mão, em metal, aqui mesmo, e que serve para acolher um Caranguejo Real com molho holandês de Ponzu e Ovas de Truta. Nos gelados de Wasabi em forma de leques japoneses coloridos ou nos Dancing Shrimps, com caviar Imperial, Camarão da Costa, Coco, e Combava, um cítrico asiático. Tudo muito especial.

“A verdadeira descoberta não começa em lugares novos, mas em ver com novos olhos” - Hans Neuner, chef austríaco.
“A verdadeira descoberta não começa em lugares novos, mas em ver com novos olhos” - Hans Neuner, chef austríaco. Foto: DR

"Foi uma experiência incrível visitar estes lugares" conta Hans Neuner. "É um verdadeiro desafio tentar recriar a experiência, mas também garantir que captamos a história, a mistura da cultura portuguesa e asiática, a forma como influenciaram a comida e a história de cada uma delas". Porque se "tratava efetivamente de comércio, troca de produtos, mas também de ideias, pelo que temos de mostrar que a ligação entre estas pessoas mudou para sempre a alimentação em todo o mundo."

Os guardanapos deram que falar com a figura de um sumotori num dos lados, e uma linda atriz de Kabuki em trajes tradicionais do outro.
Os guardanapos deram que falar com a figura de um sumotori num dos lados, e uma linda atriz de Kabuki em trajes tradicionais do outro. Foto: @Bruno Lobo

A viagem até começou por Banguecoque, que Hans se habituou a visitar desde pequeno. Nesta incursão, levou a sua equipa aos mercados e a provar a comida de rua com o melhor guia possível: Deepanker Khosla, hoje chef do Haoma, restaurante com estrela Michelin, mas que começou carreira precisamente nessas ruas, numa carrinha de comida que ele próprio conduzia. Seguiu-se Macau, onde a presença portuguesa ainda se nota ao ponto de, em alguns locais, terem tido a impressão de que entravam numa tasca lisboeta. Foi por lá que provaram uma carne de porco ibérico num sumo de laranja envelhecido por 20 anos, que elegeram como o melhor prato da viagem. Uma prova inequívoca da miscigenação culinária que pretendiam trazer para este menu. A seguir Seul, e os churrascos onde se come à volta de uma mesa com um grelhador no meio e onde provaram centenas de kimchi diferentes e, no final, o Japão, para onde Portugal levou as espingardas, os rebuçados, o pão de ló e a tempura − técnica que perdura até aos dias de hoje. A equipa deixou-se influenciar para lá do estritamente gastronómico e foi ver lutas de sumo, peças de Kabuki ou simplesmente passear por cidades onde as tradições ainda se mantêm em harmonia com a extrema modernidade.

Isso é bem evidente na manteiga infusionada com molho de soja envelhecido, servida em forma de peças de mahjong e em velhas caixas do jogo, que o próprio chef comprou na viagem.
Isso é bem evidente na manteiga infusionada com molho de soja envelhecido, servida em forma de peças de mahjong e em velhas caixas do jogo, que o próprio chef comprou na viagem. Foto: @Bruno Lobo

O resultado de tudo isto foi esta ‘Expedição pela Ásia’, um menu de 14 momentos e que inclui ainda pratos como Ruas de Macau (com anchovas, gengibre e amendoim), Peixinhos da Horta (com peixe-rei, feijão verde, tempura e cogumelos morchella), Tokyo Drift (com robalo, gyoza de lavagante, kombu e bróculos) ou Uma Noite em Banguecoque (com linguado, couve-rábano e pimenta Kampot).

O menu vai manter-se até ao final do ano e será, também, o último desta era das nossas descobertas. O que virá em seguida não sabemos, mas é sem dúvida um final com chave de ouro que nos faz pensar se a segunda estrela – conquistada em 2011 – já não fica curta ao restaurante bandeira do Vila Vita Parc… No final ficou apenas um arrependimento: não termos trazido "discretamente" o guardanapo de recuerdo.

 Dancing Shrimps, com caviar Imperial, Camarão da Costa, Coco, e Combava, um cítrico asiático.
Dancing Shrimps, com caviar Imperial, Camarão da Costa, Coco, e Combava, um cítrico asiático. Foto: DR

Menu e Maridagem

O Menu ‘Expedição pela Ásia’ tem 14 momentos e um preço de 275 euros por pessoa. Para quem assim o desejar a recomendação de vinhos custa mais 175 ou 360 euros, para quem optar pela recomendação com vinhos muito premium. Cada carteira sua sentença, mas a opção de pairing eleva a experiência com uma variedade de sugestões nacionais e internacionais muitíssimo adequadas a cada prato. Incluindo um sake Heavensake Junmai 12. Entre os vinhos nacionais podemos ter um Porto D’alva 2007, o Fugitivo da Casa da Passarela, um Chão dos Ermitas Castelão, o Anima L7, um branco de ânfora do Morgado do Quintão entre outras. Isto na primeira opção, imaginamos a segunda… Lá de fora chegam sobretudo propostas francesas, austríacas e alemães. Está também disponível outra opção de maridagem, esta com bebidas não alcoólicas por 125 euros.

Onde? Ocean, Vila Vita Parc Resort, Rua Anneliese Pohl, Porches, 8400-450, Portugal.

Saiba mais Prazeres, Lugares, Gastronomia, Ocean, Michelin, Chef Hans Neuner, Viagem, Menu, Ásia
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