Ilhas livres de covid serão os principais destinos turísticos
A pandemia modificou a economia global, criando novos vencedores e perdedores.
Os residentes da pequena ilha italiana de Ísquia esperam que os mais de 30km de água do mar de que os separa do continente ajudem a salvar sua economia de mais uma temporada de turismo estival desastrosa.
Os habitantes aguardam ansiosamente por um barco cheio de vacinas, prometidas por um decreto assinado no final da semana passada, que criará imunidade de grupo entre os 70 mil habitantes. Assim que toda a população for imunizada, será possível declarar a ilha como território livre de covid-19, ajudando a garantir um fluxo de visitantes ricos vindos do norte da Europa e dos Estados Unidos.
"Um [turista] inglês ligou-me ontem a perguntar se poderia realizar um casamento no nosso resort já este verão, mas pareceu-me muito difícil dizer que sim porque os convidados viriam de diferentes partes do mundo", diz Giovan Giuseppe Mattera, 58, proprietário do Lido Ricciulillo, um resort e restaurante de praia que fica na principal cidade da ilha. "Agora que sei que as vacinas estão a chegar, acho que lhe vou ligar de volta."
As ilhas que conseguirem mais facilmente isolar-se da propagação da covid-19 deverão absorver os maiores ganhos do turismo europeu neste verão, mais um exemplo de como a pandemia modificou a economia global, criando novos vencedores e perdedores. A Grécia, cuja economia dependente do turismo está muito à frente neste jogo, já vacinou a maior parte dos residentes das suas ilhas mais pequenas.
Em Itália, a vacinação em massa nas várias dezenas de ilhas foi adiada até agora por protestos dos governadores regionais, que argumentam que ninguém deve receber tratamento prioritário. Os habitantes das ilhas rebatem que a medida é um passo necessário para que o país se mantenha competitivo.
"Aqui em Itália já perdemos muito tempo - a Grécia começou a falar em tornar as suas ilhas livres de covid há um mês", diz Luca D’Ambra, presidente da associação de hoteleiros de Ísquia e Prócida.
As receitas do turismo europeu devem recuperar neste verão, à medida que se inicia um sistema de passaporte de vacinação. O documento servirá de prova para quem já se encontra vacinado contra a covid-19 ou testou negativo para o vírus. Os turistas americanos imunizados também terão permissão para visitar a União Europeia após uma mudança regulatória anunciada esta semana.
A ilha grega de Escíato espera ter todos os 6.600 residentes vacinados até o início de maio, a tempo de atrair visitantes logo no início da temporada turística. Os trabalhadores sazonais serão os próximos da fila assim que os locais forem imunizados, de acordo com o presidente da Câmara Thodoris Tzoumas. "Estamos em comunicação direta com as companhias aéreas e verificamos um interesse sem precedentes dos operadores turísticos", disse Tzoumas.
Existem, no entanto, muitas possibilidades destes planos não se concretizarem, principalmente porque as ilhas não serão capazes de se isolar totalmente de visitantes não vacinados. Um surto numa ilha com poucas camas hospitalares é muito mais arriscado do que no continente, onde existe fácil acesso às grandes cidades.
Ísquia, que pode receber mais de 300 mil turistas na época alta, tem apenas 75 camas hospitalares. Os pacientes com covid tiveram que ser transferidos para o continente durante o pior período do surto do vírus no ano passado. Skiathos tem apenas um centro de saúde e conta com helicópteros do exército para transferir os pacientes para um hospital no continente em caso de emergência.
Michael Blandy, presidente do Grupo Blandy, que tem participações em 15 hotéis na ilha da Madeira, em Portugal, e fora dela, avisou que o sistema de passaportes só vai começar a funcionar corretamente no segundo semestre do ano, quando a maioria dos europeus estiver totalmente vacinada. Até lá, os operadores turísticos já terão perdido grande parte da temporada. Até agora apenas 22% das pessoas na UE receberam a primeira dose, mesmo que a velocidade de vacinação tenha aumentado nas últimas semanas.
Em Ísquia, que experimentou um boom no turismo nos anos anteriores à pandemia, o objectivo é que 70% dos residentes sejam vacinados até o final de maio. As ilhas vizinhas de Capri e Prócida também passarão por um programa de vacinação em massa nas próximas semanas.
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