Heaven on earth no Belmond Reid’s Palace
Tal como um dos magníficos planos abertos de um filme de Wes Anderson, a fachada do Belmond Reid’s Palace ergue-se no céu alaranjado da ilha da Madeira como um recorte perfeito. Um pequeno paraíso em frente ao mar, onde se respira luxo e tranquilidade.
Não é difícil adivinhar porque é que o Belmond Reid’s Palace, um dos hotéis mais icónicos e históricos da Madeira, fascinou Winston Churchill, tendo sido um dos refúgios escolhidos pelo estadista para pintar e para escrever as suas memórias de guerra. Ao entrarmos pela suite que ostenta o seu nome, onde pernoitou incontáveis noites com a mulher, a baronesa Clementine Spencer-Churchill, o encanto propaga-se no ar. Mas para compreender o culto em torno deste hotel, que se localiza no número 139 da Estrada Monumental, no Funchal, será preciso, primeiro, recordar a história de William Reid. Um dos doze filhos de um fazendeiro de Kimarnock, na Escócia, Mr. Reid nasceu nesse local, algures no decorrer de 1822. No século XIX e muito antes de a Madeira se transformar num destino turístico, os médicos do norte da Europa tinham por hábito enviar os doentes (entre outros, aqueles com doenças respiratórias, como a tuberculose) para aquela ilha por ter um clima seco e quente e estar repleta de jardins botânicos.
Não foi, por isso, estranho que o médico da família Reid recomendasse que o jovem William fosse viver para um clima mais quente, aos 14 anos de idade, pois tinha uma saúde muito frágil. O pai deu-lhe cinco libras e enviou-o para a Madeira, onde rapidamente encontrou trabalho numa padaria. Aos 25 anos entrou no mercado vinícola e tornou-se um exportador e importador de vinhos de referência, num momento em que a Madeira começara a chamar a atenção dos empresários europeus mais astutos, mas também de viajantes endinheirados que ficavam por períodos de três meses, de um ano ou de três anos. William Reid, que entretanto casara com Margeret Dewey, viu no caso uma oportunidade de negócio e arrendava, junto com a mulher, quintas destinadas a alojar estas famílias. Desse instante a inaugurar o primeiro hotel foi um ápice, surgindo assim o Royal Edinburgh Hotel (que obteve a bênção de Sua Alteza, o duque de Edimburgo, filho da rainha Victoria).
Seguiram-se mais projetos hoteleiros, levados a cabo pelo casal, que teve doze filhos (alguns deles acabariam por falecer durante a infância). Em 1887 e sobre um rochedo conhecido como Salto do Cavalo, começaram a ser erguidas as pedras que hoje constituem a belíssima estrutura do Belmond Reid’s, que foi um projeto de arquitetura de George Somers Clarke. Mas William Reid não assistiu à concretização do seu sonho, pois faleceu em 1888, antes de a obra estar finalizada. Os filhos William e Alfred acabariam por lhe concretizar o desejo no dia 1 de novembro de 1891, data em que este hotel centenário abriu oficialmente as portas. O encanto do Belmond Reid’s principiava na entrada principal, que era virada para o mar, pois os visitantes e hóspedes chegavam habitualmente em cruzeiros, desembarcando no pequeno cais do hotel. Não deixa de ser impressionante imaginar essa chegada de ilustres viajantes que subiam as escadas, em direção ao interior do hotel, passando pelo exótico jardim que ainda é uma assinatura do Belmond Reid’s. Seguidos, claro, pelos concierges que lhes carregavam as tantas vezes pesadíssimas malas de viagem preparadas para que estes pudessem permanecer longas temporadas. Estávamos na era eduardiana e nos anos dourados da Belle Époque. Hoje, o hotel continua a ter quartos duplos, suites e suites presidenciais. Independentemente de qual deles eleger, a surpresa é unânime. Todos são minuciosamente decorados com apontamentos vintage, desde o papel de parede aos azulejos das casas de banho, pormenores que expressam o bom gosto da família fundadora.
Além de Churchill, que encontrou na Madeira o seu refúgio espiritual e de bem-estar, o Livro de Ouro do Belmond Reid’s inclui outros nomes, incluindo membros da realeza britânica e da demais europeia, presidentes, políticos e artistas. No andar principal do hotel, onde ainda se mantém a tradição de servir o chá da tarde, no espaço Afternoon Tea, conseguimos imaginar, apreciando a vista sobre o mar, a imperatriz Zita da Áustria, o rei Eduardo VIII ou a princesa Stephanie do Mónaco. Pela majestosa fauna e flora presentes na ilha, também conseguimos entender a vinda de exploradores da Antártida, como Ernest Shackleton e Robert Falcon Scott. Assim como a inspiração que personalidades como os atores Roger Moore e Gregory Peck, o poeta checo Rainer Maria Rilke ou o escritor e Prémio Nobel da Literatura George Bernard Shaw (que também dá o nome a uma suite e que se diz ter aprendido a dançar tango numa das aulas de dança ali lecionadas) encontraram no Belmond Reid’s Palace. A presença de membros da aristocracia britânica, por exemplo, apelidou o espaço da sala de jantar de House of Lords, devido aos sumptuosos jantares que ali decorriam no início do século passado. Nos restaurantes atuais do hotel, o William Restaurant e o Villa Cipriani, ainda se mantém intacto o culto de um dress code elegante, em que os homens vestem smoking preto.
É precisamente no ambiente de charme e de classe do William Restaurant, galardoado com uma estrela Michelin e com vista para o Funchal, que se pode degustar um dos vários menus criados pelo chef executivo Luís Pestana. Sem nunca esquecer os sabores da ilha e respeitando a sazonalidade, este chef traz contemporaneidade às suas criações gastronómicas. São elas, a título de exemplo e para abrir o apetite, pratos como duo de lavagante e gambas, tomate confitado e funcho crocante, robalo com caviar e maracujá e pimentão fumado, filete de novilho maturado Black Angus à moda de Rossini ou sobremesas como banana, caramelo e castanha. Um símbolo da classe intocável deste restaurante é também a forma como cada refeição termina: ninguém sai da mesa sem provar, pelo menos, um dos queijos da simpática seleção que chega à mesa, acompanhados de compotas. Um ritual da gastronomia francesa com um twist madeirense, já que ao mesmo tempo aterra sobre a mesa um copo de vinho da Madeira.
Por outro lado, no restaurante Villa Cipriani, honra-se a cozinha italiana em pratos que aliam clássicos, como a lasanha, a pizza, o calzone ou o risoto à tradição da cozinha portuguesa. Haverá, em ambos os restaurantes, menus especiais para os jantares de Natal e o fim de ano (desde €130 por pessoa). Para assinalar o 128.º aniversário do hotel, o Cocktail Bar criou uma carta com 14 novos cocktails. Um incontornável? O Fine Poncha, um cocktail preparado com o ex-líbris madeirense feito à base de cana-de-açúcar, a poncha, com adição de gin, tangerina e um elemento surpresa. Um dos locais ideais para relaxar são as três piscinas, junto ao restaurante Pool Terrace, espaço onde também são servidas refeições e bebidas. Seguindo por um pequeno caminho, que começa precisamente aí, chega-se com facilidade ao spa, um verdadeiro oásis de bem-estar com sauna e banho turco, e onde podem ser recebidas massagens e tratamentos, muitos deles express (como a limpeza de rosto Carboxi-express da Natura Bissé, que dura 25 minutos). Ali perto existem os espaços Fitness Center e o Children’s Club.
Além de estar decorado de forma sublime, dos corredores aos elevadores, a salas mais específicas, como as salas de jogos, o Belmond Reid’s tem uma das suas maiores relíquias no exterior: o jardim subtropical. Repleto de espécies raras e com um ecossistema próprio, o jardim constava na planta original que William Reid almejava para o seu hotel de sonho. Hoje é lá que podemos encontrar uma das mais belas e raras flores: a flor de jade, endémica das florestas tropicais das Filipinas. Embora já não se chegue com a mesma pompa ao cais do Belmond Reid’s e que a entrada principal seja oposta ao mar, um século depois a assombrosa vista do terraço exterior sobre o Atlântico e as ilhas Desertas permanece idílica. Se semicerrarmos os olhos, como uma miragem, conseguimos até imaginar os Churchill a desfrutar demoradamente do chá da tarde nesse preciso lugar. Isolados do mundo, no epicentro do paraíso.
To do list!
Além do conforto das acomodações do Belmond Reid’s, o hotel tem à disposição uma série de experiências sensoriais e degustativas que incluem, por exemplo, a experiência de um passeio de barco às ilhas Desertas, um passeio gastronómico pelo Funchal com guia (provar o bolo de mel e beber uma poncha tradicional são pontos obrigatórios) ou um pequeno-almoço a ver o nascer do sol no Pico do Areeiro. Basta escolher e partir à aventura.
Mais que um hotel
Além de ter pertencido à família Reids, este hotel passou 60 anos nas mãos da família Blandy, reconhecida produtora de vinho da Madeira. Segundo avançava o jornal The New York Times, no final do ano passado, a cadeia de hotéis Belmond Reid’s foi adquirida pelo grupo Louis Vuitton. Ao todo existem mais de 20 hotéis Belmond espalhados pelo mundo, do Botswana ao México, da Rússia ao Peru. No ano passado, o Belmond Reid’s da Madeira inaugurou o The Art of Flavours, um festival gastronómico que decorreu no Funchal e que reuniu chefs de renome para levar aos visitantes o melhor da gastronomia madeirense e do nosso território continental. Em 2021, o hotel celebra 130 anos e espera-se uma série de celebrações que recordarão a história deste hotel de luxo através de muitas surpresas.
Os refúgios dos playboys e dos magnatas
Paris, Cap d’Antibes, Veneza, Rio de Janeiro, Capri, Gstaad, Mustique, Saint-Tropez ou Acapulco eram alguns dos redutos ou refúgios de sonho de estrelas de cinema, de herdeiros, de magnatas, de aristocratas e de playboys, nas décadas de 1950 a 1970. A aviação comercial foi crucial para o desenvolvimento das viagens de luxo dos happy few, antes que esses lugares míticos tivessem ficado abarrotados de turistas e os aviões se tivessem transformado em meros autocarros aéreos.
Arte e mistério n’O Artista
Num sumptuoso edifício que não foge ao registo arquitectónico da baixa pombalina, O Artista é um hotel que presta homenagem à arte, e evoca a atmosfera exuberante dos anos 30, 40 e 50.
Tóquio secreto
O Hoshinoya Tokyo é hotel que é uma autência viagem, entre o passado e o presente, o oriente e o ocidente.
Há mais uma razão para este ser destino favorito das celebridades
Esqueça a costa amalfitana e a riviera francesa. Acaba de inaugurar um refúgio de luxo na Comporta. A pouco mais de uma hora e meia de Lisboa, o Spatia Comporta Resort alia o bem-estar à natureza. Pelo meio, há mergulhos no mar.
It’s The End of the World – As we Know It
Ter consciência do que se passa no Planeta é bom. Chama-se awareness. Deixar que tal interfira com a nossa saúde mental, nem por isso. É sofrer de ansiedade ambiental. De uma maneira ou de outra, todos os dias somos assolados por mais uma notícia que ilustra “a última catástrofe” ou “a mais recente calamidade”. Resta saber como conviver com isso.
Jantar ao por do sol e ao sabor madeirense
No Belmond Reid’s Palace, um dos ex-líbris da ilha, é agora possível provar uma nova carta idealizada pelo chef Luís Pestana.
A propriedade, que fica no centro de Paris, tem 3 andares e está disponível por 9,4 milhões de euros.
Com um ambiente que evoca o charme dos bistrôs parisienses, o novo restaurante em Lisboa celebra o melhor da cozinha francesa e destaca os sabores da estação.
A marca francesa abriu um novo espaço com a cozinha chefiada por Cyril Lignac.
O ingrediente mais raro e esperado todos os anos é a personagem principal de oito pratos, da entrada à sobremesa, no restaurante italiano em Lisboa. Provámos alguns pratos do menu disponível de 20 a 30 de novembro.