Guelra em Belém. Quando o mar entra pela terra adentro
É a mais recente aposta dos irmãos Frade, donos d’O Frade, e chega para proporcionar uma experiência especial em torno do peixe, uma das iguarias nacionais com mais potencial.
Passou por restaurantes como o Prado ou o Frade, este último irmão do Guelra, na Calçada da Ajuda, até ser desafiado pelos irmãos Pedro e Sérgio (e de Alessandra Haiat, diretora de operações) para estar atrás da cozinha deste novo restaurante em Belém. Apesar de a sua formação ser pastelaria – e comprovámos isso pelas sobremesas – o chef Manuel Barreto é a pessoa certa para trabalhar delicadamente as iguarias que chegam às vitrines de frescos do Guelra (perdão, Manuel, porque não gostam que o chamem por chef) uma missão partilhada com Diogo Machado. O restaurante aposta no peixe, mas não só, a premissa é que seja tudo o mais fresco possível, e sazonal. "Entrei numa fase em que este projeto ainda estava muito embrionário, havia uma linha guia que era que queríamos trabalhar peixe, queríamos trabalhar peixe de uma forma diferente, ou seja, não queríamos ser uma marisqueira, nem uma marisqueira moderna (…), queríamos ter um restaurante que abordasse o peixe e olhasse para o peixe de uma forma um bocadinho diferente. Isto era o que existia do restaurante, não existia ainda desenho sequer, o espaço já existia, mas estava em demolição" conta, à Must, sobre o conceito Ocean to Table. Neste dia, por exemplo, a banca do peixe exibe boca negra, alfonsim ou corvina. "Acabei por entrar numa altura diferente para um chef, uma altura ainda de concepção de mesmo física do espaço, do balcão. Aqui eu não precisei de me adaptar a nada, comecei por criar uma coisa que funcionasse de forma mais harmoniosa", explicou Manuel. "Para mim foi engraçado, um desafio diferente (…) a ideia do Sérgio para este restaurante era um bocadinho diferente da minha e, por isso, eu fiz algumas viagens e alguns testes também com o chef do Frade, e isso permitiu-nos chegar a um consenso".
O consenso espelha-se numa carta original, apetecível e gulosa, com vários momentos para comermos com as mãos, na barra, um dos espaços disponíveis, além de um primeiro andar – onde ficam as mesas do restaurante – e de uma simpática esplanada exterior que senta 36 pessoas. É pelas mãos e ao balcão de sete lugares que começamos, ao atacar sem medos uma toscada de camarão (tortilhas crocantes, romesco e ponzu, €7) e o bacalhau em forma de brandade, sames e linguas de bacalhau (€7) ao qual Manuel chamou de Bacalhau3. Duas criações esteticamente brilhantes, e muitíssimo interessantes ao nível do paladar. Nestas entradas há ainda o couvert, e também ostras ao natural e à algarvia (€3,50 ou €4), um clássico das marisqueiras. Tudo isto acompanha na perfeição com o Guelra Sour, uma combinação fresca de vodka, limão e maçã (€10).
Já no piso de cima - decorado a preceito nos tons de branco e azul e com um teto onde se avistam lulas ou alforrecas, pintado à mão -, o menu de partilha é extenso e generoso. Com pratos como cavala alimada - cavala, coentros, funcho e picadinho à Algarvia, €12 -, tártaro de atum - wasabi, alho negro, maça e aipo, €18 – ou ainda a moreia frita com maionese de sriracha. Mas, de todos, o que nos conquistou foi o Maguro Sando, um lombo de atum rabilho panado em panko, pão torrado, salada coleslaw, pickle de chalota e maionese de sriracha, absolutamente divinal. Numa outra fase, a das sobremesas, o nosso estômago não se decide pela melhor, pois há uma muito gulosa tarte de queijo do Guelra (€6), um creme de arroz doce alternativo que repetiríamos (€6) e a pérola do mar (gelado de ameixa, ameixa assada, coli de ameixa, crumble e espuma de chocolate branco,€8), uma criação especial. É um daqueles casos em que valia a pena ir só para chegar a esta fase final da refeição.
Uma curiosidade que pisca o olho aos que gostam de experiências exclusivas é a origem dos vinhos. São os vinhos de talha da família Frade, feitos por Alexandre Frade, o patriarca, com recurso a viticultura sustentável. "Durante a vindima, a apanha é selecionada e as uvas encaminhadas para a nossa adega, onde são esmagadas e colocadas para fermentar em grandes talhas (potes) de barro, num processo 100% natural", lemos no site do Guelra. "Quando a longa fermentação (2 a 3 meses) termina, o nosso vinho estagia durante 6 meses em outras talhas de barro, sendo depois engarrafado, estagiando mais 3 anos em garrafa até vir para a nossa garrafeira." Desta forma, no Guelra temos um vinho especial com o mesmo nome, branco, um blend de Antão Vaz, Arinto, Larião, Manteúdo, Perrum e Síria (€25) e, ainda nos brancos, o Talha 1856, com Antão Vaz e Arinto (€34). Nos tintos o restaurante disponibiliza o 1x1, Aragonez e Trincadeira (€35). Há ainda uma selecção de vinhos de Borgonha e de Provença, com assinatura da Bethleem.
Onde? Rua de Belém, 35 – Lisboa Quando? Terça-feira a Sábado das 12h00 às 00h00 (cozinha encerra às 22h30); domingo das 12h às 17h (cozinha encerra 16h30). Encerra à segunda-feira. Reservas +351 939 002 081.
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