Prazeres / Lugares

A Minha Avó. Poderá um restaurante de comida vegana ter sabor português?

Será porventura o mais português dos restaurantes veganos existentes no país. Chama-se A Minha Avó e inclui no seu menu alguns clássicos da gastronomia nacional, como o Bitoque com “Ovo”, Arroz sem Pato, Francesinha ou “Bacalhau” com Natas – tudo sem qualquer ingrediente de origem animal, claro está.

Foto: DR
25 de junho de 2024 | Miguel Judas

Trata-se de um restaurante vegano no mínimo diferente, como depressa se percebe ao folhear a ementa, na qual se propõem pratos bastante mais familiares do que o eventualmente esperado: Bitoque com "Ovo", Francesinha, "Carne de Porco" à Portuguesa, Braz de Legumes, Rolo de "Carne", Arroz sem Pato ou "Bacalhau" com Natas, entre muitos outros.

O Bitoque com
O Bitoque com "Ovo". Foto: DR

Foi aliás devido as estes dois últimos pratos que Gustavo Grilo e Pedro Mourarias decidiram avançar para esta "loucura". Amigos há cerca de uma década, sempre tiveram na comida um interesse comum, mas nunca nenhum dos dois imaginou que a decisão de deixarem de comer qualquer proteína animal os levaria, um dia, a serem sócios e proprietários de um restaurante vegano.

"Já depois de me ter tornado vegetariano, houve um Natal em que a minha mãe cozinhou um arroz sem pato e um bacalhau com natas sem bacalhau, que os meus avós adoraram. Nessa altura já tínhamos falado na possibilidade de abrirmos um negócio de comida vegetariana e essa foi a prova que precisávamos para saber que iria funcionar. Se os meus avós gostaram, toda a gente ia gostar", recorda Pedro, que é licenciado em nanotecnologia e ainda sócio de uma empresa de programação de jogos.

Gustavo Grilo e Pedro Mourarias
Gustavo Grilo e Pedro Mourarias Foto: DR

"Trata-se acima de tudo de comida de conforto, tal e qual a que se come em casa dos avós", sublinha Gustavo, que é licenciado em filosofia e tem um mestrado em Gestão, durante o qual elaborou uma tese sobre como abrir um restaurante, que serviu como projeto de negócio para o A Minha Avó.

E de facto, garante, "a maior parte dos clientes não é vegan e temos cada vez mais gente muita gente que depois volta com a família ou os amigos, para lhes mostrar". O importante, defende, era "passar uma mensagem de inclusão" e, ao mesmo tempo, demonstrar que, afinal, o veganismo não é uma dieta assim tão estranha. "Para isso não nos poderíamos focar apenas na comunidade vegan", considera.

Rolo de
Rolo de "Carne". Foto: DR

A comida chega entretanto à mesa: Peixinhos da Horta e Croquetes de "Carne" (feitos de soja e tofu) com maionese picante de entrada; Bitoque com "Ovo", Francesinha "Bacalhau" com Natas e Rolo de "Carne" como pratos principais; E ainda um Bolo de Bolacha e um Doce da Casa como sobremesa.

Francesinha.
Francesinha. Foto: DR

A chef do restaurante, Carina Monteiro, junta-se também à refeição, para nos explicar melhor tudo o que iríamos provar. E se o "bacalhau" até é fácil de compreender, sendo o "fiel amigo" substituído por alho francês, algas e cogumelos pleurotos, ou o rolo de "carne", que afinal é feito de lentilhas, já o ovo a cavalo da francesinha e do bitoque (o bife é de "seitan caseiro") mais soa a alquimia. "A gema é feita através uma mistura de alginato e lactato, à qual é adicionada abóbora e sal negro, enquanto a clara é feita de farinha de arroz e leite de soja", explica Carina, também ela vegana desde 2017.

A chef do restaurante, Carina Monteiro.
A chef do restaurante, Carina Monteiro. Foto: DR

Quando Gustavo e Pedro a convidaram para vir liderar a cozinha do A Minha Avó nem hesitou, aceitando de imediato o desafio, embora, como a própria recorda, isso a tenha obrigado a passar "muitas horas em frente ao Youtube, a ver como se confecionavam todos estes pratos tradicionais portugueses". Soube que estava no caminho certo quando conseguiu enganar um familiar com um arroz de pato… sem pato. Agora já nada a detém, tendo até planos para incluir na ementa um "Bacalhau" à Lagareiro, um Cozido à Portuguesa e até uns "Choquinhos" à Algarvia.

Onde? Av. António Augusto de Aguiar, 74B, Lisboa. Quando? Aberto de terça a domingo, das 12h às 15h e das 19h às 23h. Reserva? 936 700 023

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