Menorca, a ilha que guarda os segredos de milionários e realeza
As temperaturas amenas e o ambiente de tranquilidade há muito que fazem da ilha um lugar procurado por reis, empresários e artistas. Hoje, 8% da ilha é propriedade de 20 fortunas – de Espanha e não só.
Ao anunciar a sua tournée de despedida, o cantautor catalão Joan Manuel Serrat recordou o papel inspirador que as Baleares, em particular a ilha de Menorca, foram assumindo ao longo da sua carreira. Entre outros momentos, foi ali que gravou, com Joaquín Sabina, um disco histórico, La Orquesta del Titanic: "Em Maó, à beira-mar, tenho uma casa com uma janela de onde vejo o mundo e como vão e vêm os barcos e os dias", disse aos jornalistas. Mas em Maó, Serrat tem muito mais do que uma agradável casa de praia, já que o músico é uma das 20 pessoas (essencialmente milionários) que detêm 8% do terreno da ilha (cerca de 5 500 hectares). Este grupo é liderado pelos empresários Víctor Madera, Manel Adell, Martín Varsavsky, o francês Roger Zannier, a família austríaca Swarovski e ainda os Daurella, os Rubiralta e os Carulla, nomes que são acompanhado de perto por Giorgio Armani e ainda por vários membros da realeza espanhola.
Ao que tudo indica, foi o Rei Juan Carlos que colocou Menorca na lista das rotas desejadas pelos ricos e famosos. Com o seu conhecido gosto pelo mar (adquirido no Estoril, quando era criança), o monarca chegava no seu iate "Fortuna", às vezes acompanhado por chefes de Estado estrangeiros, outras vezes por companhias mais aprazíveis, e dirigia-se ao Café Balear para saborear uma das caldeiradas de lagosta mais famosas do Mediterrâneo. Seguia-se então um longo verão no Palácio de Marivent, em Maiorca, há muito eleito como lugar de veraneio dos Bourbons. Persuadido pela dita caldeirada e pelas águas cálidas de Menorca, também o criador de Moda Giorgio Armani passa boa parte do seu verão na ilha, depois de ali aportar no seu iate "Maine".
O apelo pela ilha chegou ao mundo empresarial já que os CEO's de empresas como Mango, Coca-Cola España, Swarovski, Natura Bissé, Prenatal, ou Pronovias também compraram casa de férias (algumas verdadeiras mansões senhoriais) neste lugar ainda sem autoestradas, que lhes proporciona tranquilidade e anonimato. Nesta demanda imobiliária desempenha papel fulcral Mónica Pons, condessa de Torre Saura, que tem ligações por toda a Europa nomeadamente em França e Luxemburgo. Esta condessa não é a única aristocrata da ilha. O título mais antigo pertence a José María de Oliva y Ortíz, barão de Lluria, que possui um palácio próximo da Catedral, onde tudo funciona como se estivéssemos numa Downton Abbey mediterrânea. De resto, uma certa influência britânica paira por ali. No porto de Maó há uma velha casa com janelas de guilhotina que a tradição diz ter pertencido ao duque de Wellington. Hoje, a família Delás Vigo, sua proprietária, conserva a cama e as espadas do general britânico que derrotou os sonhos imperiais de Napoleão. Mas o que se sabe com absoluto grau de certeza é que, no princípio deste século XXI, foi aqui que se refugiou o empresário Iñigo de Orbaneja, quando deixou Marbella processado por Jesus Gil.
Nesta ilha, cobiçada por piratas ao longo dos séculos, as histórias envolvendo gente rica e poderosa multiplicam-se e a maior parte talvez nem se chegue a conhecer. Uma delas aconteceu em 2009, quando os reis Filipe VI e Letizia, então príncipes das Astúria, souberam que tinham herdado uma fortuna legada por um milionário local que disseram não conhecer. Com efeito, Juan Ignacio Balada Llabrés Balada, nascido e criado em Menorca deixara o seu legado aos príncipes e aos oito netos de Juan Carlos e Sofía. Se estes não aceitassem, a herança reverteria, vá-se lá saber porquê, para o Estado de Israel.
Como é natural, a Casa Real mandou inventariar todos os imóveis, contas e sociedades que se incluíam na herança e deixou clara a sua posição numa comunicação pública em que se lia: "Os príncipes das Asturias manifestaram, desde que tomaram conhecimento da sua condição de herdeiros, que aceitavam a herança do senhor Balada, dado que a renúncia implicava que os ditos bens revertessem para um Estado estrangeiro".
Na sequência desta tomada de posição, os então príncipes das Astúrias destinaram essa verba a "obras sociais, como a fundação para pessoas descapacitadas da ilha de Menorca, que apoia os jovens através de bolsas de inserção no mundo laboral e formação profissional". Para além disso, foi constituída a Fundação Hespéria, que apoia a juventude em termos de emprego e formação", na qual a rainha Letizia está muito envolvida.
Em janeiro deste ano, os reis estiveram em Menorca na inauguração da farmácia Llabrés, jóia arquitetónica do Modernismo nas Baleares, recuperado graças a este fundo, e tomaram conhecimento dos detalhes do processo de restauração e de classificação do edifício, incluindo o seu recheio de enorme valor patrimonial. Enquanto isso, os Marichalar e os Urdangarin ainda não se pronunciaram sobre o destino que pretendem dar à sua parte nesta inesperada herança.
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