Por dentro das novas discotecas virtuais do Zoom
A novidade foi pensada para quem está aborrecido em casa, mas fará sentido após a pandemia do novo coronavírus?
São apenas cinco da tarde de um sábado em Los Angeles, mas o Zone – uma discoteca virtual de 16 salas da app de videoconferência Zoom – já está cheio. "Vocês estão atrasados!", adverte uma segurança com um símbolo celta brilhante na testa, olhando através de uma janela pixelizada para um grupo de novos convidados ligados a partir das próprias casas, certificando-se de que estão adequadamente equipados, tanto com bebidas quanto na aparência. Direciona-os depois para diferentes salas de chat com "pistas de dança", onde utilizadores em looks coloridos brilham ao som de um DJ ao vivo – tudo enquanto dois bonecos felpudos são conduzidos por uma mão invisível dançando nos braços um do outro.
Noutra sala, um homem de peruca cor de rosa lidera uma conversa animada sobre agricultura sustentável. No final da noite, o anfitrião da festa convida todos para se juntarem na sala do jacuzzi: é necessário traje de banho. "Alguém nos enviou o Zoom e estamos apenas a divertir-nos", observa um convidado, vestido com um chapéu de Pai Natal, que afirma ser filho de um criador de porcos que se tornou investidor de criptomoedas. "Esta é a vanguarda, e estou confiante de que florescerá numa outra coisa."
Bem-vindo à nova era das discotecas em quarentena. Nalgum lugar da Internet, há sempre uma festa virtual a acontecer.
Tal como sucedeu na Ásia, no início do surto, as transmissões ao vivo surgem como um sistema de suporte de emergência para a indústria de entretenimento em crise na Europa e nos EUA. Músicos de todos os géneros fazem espetáculos a partir dos seus quartos em plataformas como o Instagram Live, juntamente com links de doação para o PayPal, Venmo ou contas do Patreon. Marcas como a Beatport e a Amazon Music fizeram parcerias com o Twitch para lançar sessões com DJs de destaque como Diplo e A-Trak, com o primeiro a angariar 180 mil dólares (cerca de 165 mil euros) para a AFEM (Association for Electronic Music) e fundos para o combate ao Covid-19 para a Organização Mundial de Saúde OMS a 27 e 28 de março.
Modelos e álcool
Numa festa do Zoom chamada Club Quarantee, todas as armadilhas de um clube com ‘serviço de garrafa’ permanecem – exceto os baldes de champanhe. Os convidados compram ingressos por 10 dólares (cerca de 9 euros) ou podem pagar 80 dólares (cerca de 73 euros) por uma sala privada para festejar ao lado de DJs famosos do Instagram e dançarinas de burlesco. Existe um código de vestuário ostensivo. Num fim de semana recente, a festa estava cheia de modelos europeias e homens barbudos com fedoras que dançavam a Macarena.
"Um clube com serviço de garrafa é um símbolo de exclusividade e entretenimento de alta qualidade. É claro que não podemos vender garrafas, mas tentamos oferecer essa vibe", diz o fundador do Club Quarantee, um promotor chamado Cristian, que já trabalhou em bares de celebridades em Nova Iorque, como a 1Oak. Cristian estima que perdeu cerca de 10 mil dólares (cerca de 9 mil euros) desde que a cidade está em isolamento.
A trabalhar com uma rede de cerca de vinte promotores, a sua primeira festa virtual atraiu cerca de 300 pessoas, o que cobriu metade dos seus custos, que incluíram a contratação de artistas, um videógrafo, staff para verificar bilhetes e fazer segurança. Na segunda edição da festa, o dinheiro que ganhou cobriu os gastos. "O principal objectivo é criar um espaço em que os promotores consigam manter relações importantes com os clientes e mantê-los entretidos durante estes tempos," diz Cristian. "As pessoas estão com uma enorme necessidade de ter interacções sociais e nós podemos oferecer essa parte importante da experiência de discoteca: a ligação emocional."
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