O supermercado dos museus e dos colecionadores de arte
Todos os anos há uma feira de arte em Maastricht, nos Países Baixos, que é a Meca de museus e colecionadores. Na prática, é como um museu normal, só que as obras têm uma etiqueta com o preço. A edição holandesa já chegou ao fim, mas em maio decorre a nova-iorquina.
Toda a gente tem os seus sítios preferidos para fazer compras. Lojas predilectas, onde ir à procura de roupa, sapatos e acessórios é mais um prazer que uma obrigação – mesmo para quem não gosta de ir às compras. Aliás, para esses, quanto mais não seja, há as lojas online. Mas, agora, imaginemos que não somos uma pessoa, mas um museu, e queremos muito aumentar a nossa coleção. Onde é que vamos? A resposta é só uma: Maastricht. É nesta pequena cidade holandesa – famosa pelo tratado que permitiu a livre circulação de pessoas e bens, criando a União Europeia como a conhecemos hoje – que a European Fine Arts Foundation (TEFAF, na sigla original) organiza, desde 1988, uma feira de arte. E é aqui que museus e colecionadores vão abastecer-se das próximas relíquias. Veio mesmo a calhar isto da livre circulação porque, quem vai a esta feira, não regressa de mãos a abanar. Decorre todos os anos, em março – acaba de fechar, portanto, este ano já não vai a tempo. Mas ponha na agenda porque vale mesmo a pena. E se não quiser comprar nada, também ninguém o obriga. Na prática é como um museu, só que os quadros têm etiquetas com preços. E, para se certificar que não rebenta com o orçamento, há até uma seleção de obras que não ultrapassam os 50 mil euros. Mais fácil que isto, é difícil.
Há quadros, mobiliário, esculturas, jóias, tudo o que possa imaginar e de diversos períodos da história. Chagall, Miró, Fabergé, e em 2021 foi vendido um quadro de Botticceli por 92 milhões de dólares (cerca de 84,5 milhões de euros). De acordo com o jornal britânico The Economist, este ano, a feira teve 50 mil visitantes, incluindo 300 diretores de museus e 650 curadores de arte. Parece haver qualquer coisa de ilícito nisto, não é? Um pouco como ir às compras ao fornecedor do nosso fornecedor. Parece que está a pôr-se a jeito para arranjar chatices. E há lá coisa melhor do que gastar dinheiro com aquela sensação inconfundível de que se está a fazer uma malandrice.
A TEFAF é particularmente conhecida pela sua seleção de pinturas dos Grandes Mestres, mas têm aparecido cada vez mais pinturas contemporâneas porque é essa a tendência atual dos colecionadores e na arte, como em tudo na vida, vigora a lei da oferta e da procura. Atualmente, há uma grande procura por pinturas coloridas em telas enormes, que contrastem com a tendência minimalista das grandes paredes brancas. Também as obras de artistas femininas desaparecem muito rapidamente – este ano havia um quadro de Maria Helena Vieira na Silva. Parece que é um bom momento para se ser pintora. É aproveitar, que as tendências viram com o vento.
Se ficou animado com esta feira e gostaria de não ter de esperar pelo próximo mês de março, saiba que entre 10 e 14 de maio decorre a edição nova-iorquina, uma iniciativa também anual e que começou há 10 anos. Por outro lado, se o seu interesse é maior que a sua conta bancária, pode sempre passar umas horas nos sites de ambas as feiras, onde estão disponíveis imagens de todas as obras.
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