Negócios do Luxo

Hermès torna-se campeã do luxo e destrona LVMH por breves momentos

A marca francesa, dona das carteiras Birkin e Kelly, aproveitou um mau momento da rival LVMH, penalizada na negociação em bolsa pela desaceleração da procura na China e nos Estados Unidos.

Foto: Philippe Wojazer/Reuters
Ontem às 16:37 | Marta Velho

A Hermès International superou, pela primeira vez, a LVMH em valor de mercado, atingindo os 243,65 mil milhões de euros e ultrapassando brevemente os 243,44 mil milhões da gigante do luxo liderada por Bernard Arnault. A reviravolta histórica acontece 15 anos depois de Arnault, o bilionário CEO da LVMH, ter tentado uma aquisição hostil da Hermès, que foi fundada em 1837 como fornecedora de artigos equestres de luxo.

A ultrapassagem - que foi breve, uma vez que, com o avançar da negociação da manhã, a LVMH recuperou para 247 mil milhões de valor de mercado - surge num momento de fragilidade para a casa mãe da Louis Vuitton, cujas ações chegaram a cair até 8,4% após resultados desapontantes no primeiro trimestre de 2025, penalizados pela desaceleração da procura na China e nos Estados Unidos, bem como pelas crescentes incertezas em torno de tarifas comerciais. "A magnitude da deterioração na principal divisão da LVMH, moda e artigos em pele, foi surpreendente", afirmou, citada pela Bloomberg, Louise Singlehurst, analista do Goldman Sachs, que reviu em baixa o preço-alvo da ação de 725 para 630 euros.

Em contraste, a Hermès tem resistido melhor ao abrandamento no setor do luxo, mantendo a sua estratégia de exclusividade e escassez controlada. A marca conseguiu manter uma procura contínua por artigos como as icónicas carteiras Birkin e Kelly, que continuam a esgotar nas lojas e atingem preços astronómicos no mercado de revenda. "Esta valorização valida a nossa decisão de manter a independência", disse Axel Dumas, CEO da Hermès e herdeiro da sexta geração da família.

Em 2010, Bernard Arnault revelou ter adquirido silenciosamente uma participação significativa na Hermès, o que levou a família fundadora a unir-se para o forçar a desfazer-se das ações nos anos seguintes. Arnault foi então apelidado de "o lobo em caxemira" pelos meios franceses.

Apesar de a LVMH continuar a liderar em volume de negócios — 84,7 mil milhões de euros em 2024, com um lucro operacional de 19,6 mil milhões —, a Hermès destaca-se na rentabilidade e valor por produto, com vendas de 15,2 mil milhões e um lucro operacional de 6,2 mil milhões no mesmo período.

Para os analistas, o chamado "desconto de conglomerado" pode estar a pesar sobre a LVMH, cujas marcas menos lucrativas, como a cadeia de cosméticos Sephora, contribuem menos para a rentabilidade global do grupo. Segundo Zuzanna Pusz, analista da UBS, "as vendas foram muito mais fracas do que o esperado, impulsionadas por uma forte desaceleração na China". O sentimento foi partilhado por vários analistas, com múltiplos cortes nas estimativas de lucros e avaliações de preço-alvo para a LVMH.

A Hermès e a L'Oréal, outra gigante do setor, apresentarão os seus resultados trimestrais esta quinta-feira, dia 17 de abril, enquanto a Kering divulgará os seus números no dia 23. A performance da Hermès será agora acompanhada de perto como barómetro da resiliência do segmento de luxo mais exclusivo num contexto de incerteza global.

Nos mercados, esta manhã, pelas 10h00 (hora de Lisboa), a Hèrmes cedia 0,43%, enquanto a LVMH tombava 6,88%.

Saiba mais Negócios do Luxo, Ações, Bernard Arnault, Hermès, Lucros, Estados Unidos
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