Ténis: guia para o colecionador ensandecido
O novo livro da Taschen, "World’s Greatest Sneaker Collectors", promete horas de diversão, tanto para os aficionados do colecionismo de ténis, como para os apreciadores das pequenas e aleatórias loucuras que acometem o ser humano.
O que é que aconteceu aos dedais de prata, aos bichinhos de cristal e às bonecas de porcelana de antanho? Afinal, quando pensávamos em objetos de coleção, era isso que vinha à cabeça. Nos anos 80 e 90, começou a aparecer também quem colecionasse discos de vinil, relógios Swatch e, claro, os famosos cromos da bola (uma tendência mais antiga). Se pensarmos na cultura pop das últimas décadas, o que é que faz sentido colecionar agora? Telemóveis Nokia? Consolas Game Boy? Action figures de personagens de séries de televisão? Talvez. Mas se, ao desejo de colecionar, adicionarmos o fator raridade e o potencial para recuperar (ou duplicar) o investimento, então, a resposta é só uma: ténis. Isso mesmo. Não olhe para os pés. Não são desses! Quer dizer, até podem ser, mas não podem ser usados. A menos que o leitor seja o Michael Jordan. Nesse caso, use os seus ténis à vontade e depois ponha-os à venda no eBay – é um favor que faz aos colecionadores. E à sua conta bancária.
Porque isto de colecionar ténis tem muito que se lhe diga, a Taschen acaba de lançar o livro World’s Greatest Sneaker Collectors, que pretende ser um guia de viagem neste estranho mundo dos colecionadores de ténis, ao mesmo tempo que oferece dicas profissionais sobre como fotografar, armazenar e evitar artigos contrafeitos. Quando chegar ao fim das 752 páginas, é bem possível que comece a olhar para os seus ténis de maneira diferente.
O livro conta histórias de colecionadores e de como cada um encontrou o seu Santo Graal da sapatilha – os que já encontraram porque, para a maioria, a busca continua. Aliás, é isso mesmo que separa o mero fã, do verdadeiro colecionador. Para este último há sempre mais um par por aí, sem o qual a coleção nunca estará completa. O livro chama-lhe ter uma "mentalidade completista". E assim um par de cada vez, há coleções que chegam às centenas e até aos milhares!
Em muitos casos, esta é uma obsessão que começou no recreio da escola, com programas de televisão dos anos 90, videoclips de hip-hop ou jogos de basquetebol. O livro fala de pessoas dispostas a fazer sacrifícios incríveis pelas suas coleções. "Passam dias sem comer, se for preciso, ficam horas esquecidas a decifrar descrições crípticas no e-Bay, viajam pelo mundo em busca de míticas lojas de ténis, passam noites em branco a ver leilões do Yahoo Japão e, pelo caminho, transformam-se destroços nervosos alimentados a cafeína."
Dito assim, parece uma doença. E é possível que seja mesmo. Se, ainda assim, está a ponderar tornar-se um colecionador – ou este texto está a fazê-lo perceber que já é um –, este livro pode ajudá-lo a encontrar o seu caminho. Como em tudo na vida, é importante descobrir o que é que o entusiasma e partir daí. Há pessoas que colecionam apenas um modelo, em todas as suas possíveis variações e edições especiais. Outros deliram com os pesadões ténis para fazer skate dos anos 90. Há quem fique doido com ténis de corrida dos anos 70. E depois há os que abarbatam tudo, desde que seja super raro: como lançamentos cancelados, amostras nunca vistas e protótipos feitos à mão.
Quase todos os colecionadores se queixam do mesmo: armazenamento. Um problema capaz de criar tensões na família e, até mesmo, empurrar relações amorosas para um fim precoce. Julia Schoierer, uma coleccionadora de Berlim, fala sobre o seu apartamento estilo Tetris em tamanho real: "Já não me lembro da última vez que convidei pessoas para jantar cá em casa porque deixei de ter espaço para a mesa. E, quando chego à cama, não peço a Deus para ter saúde, peço para não morrer soterrada debaixo de uma pilha de caixas de sapatos." Há malucos – e ténis – para tudo.
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