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Como as empresas vão lidar com a saúde mental no pós-covid

A missão não será fácil. Os danos provocados pela covid-19 poderão ser sentidos no local de trabalho muito depois de a doença ter diminuído.

Foto: Unsplash
10 de maio de 2021 | Bloomberg

Das casual fridays aos copos com colegas depois do trabalho, há hábitos semanais que estão a regressar ao mesmo tempo que os americanos voltam ao escritório. Embora o uso de máscara e o distanciamento social tenham alterado o cenário laboral, as empresas estão empenhadas em fazer com que as coisas voltem ao normal – ou pelo menos ao mais normal possível.

A missão não será fácil. Os danos provocados pela covid-19 poderão ser sentidos no local de trabalho muito depois de a doença ter diminuído graças ao peso mental e emocional que a pandemia colocou nos funcionários que passaram o último ano a viver com medo, em isolamento ou tristes.

"Estamos a ver números bastante alarmantes", diz Vaile Wright, diretora sénior de inovação em saúde da American Psychological Association (APA), que lidera a investigação Stress na América. Os dados da APA mostram várias mudanças comportamentais não saudáveis — incluindo sono interrompido, aumento do consumo de álcool e baixa atividade física. Além disso, cerca de 61% dos adultos relatam ganho ou perda de peso indesejado.

Para construir uma "base sólida" que permita às pessoas suportarem a pressão diária - como a que existe no escritório - a APA e outros especialistas recomendam uma alimentação saudável, exercício, boas noites de sono e relações sociais abundantes. Essa base normalmente depende de rotinas: as horas de dormir e acordar devem ser as mesmas e deve existir regularidade no exercício e no horário das refeições.

"Estamos a perceber, tanto a partir dos dados, como do que é recolhido informalmente, que as pessoas simplesmente não são capazes de fazer estas coisas", diz Wright. E não é apenas no escritório que este mal-estar se manifesta. De acordo com o professor Lawrence Katz, economista da Universidade de Harvard, o mesmo acontece nas salas de aula. "[Os alunos] querem fazer o básico – ou seja, tirar um curso genérico, realizar os exames e não ter de fazer nada extra", descreve Katz. As aulas em seminário, que normalmente implicam a apresentação de projetos mais expansivos, viram as inscrições cair para metade, diz o professor. Os alunos "parecem estar menos dispostos a fazer coisas desafiadoras."

Para os funcionários, essa dinâmica pode traduzir-se numa diminuição da capacidade de trabalho em relação aos tempos pré-pandemia, tornando a abordagem a estas questões um imperativo económico para as empresas.

Cathleen Swody, psicóloga organizacional da consultora Thrive Leadership, diz que os líderes das empresas precisam de estar cientes de que muitos funcionários estão, pela primeira vez na vida, a enfrentar uma onda de excessos, ansiedade, depressão ou até mesmo o uso de substâncias. "Vai variar de pessoa para pessoa, dependendo de suas circunstâncias pessoais e experiências de pandemia", adiante a especialista. "Alguns estarão ansiosos para voltar ao escritório, e outros terão muita resistência porque simplesmente não estão preparados para isso."

Wright, Swody e Dowling concordam que, à medida que os trabalhadores voltam, os patrões devem facilitar o acesso a recursos de bem-estar. As empresas devem financiar aulas de ginástica online e programas de saúde mental, incluindo gestão de stress, acesso a terapeutas e programas de assistência aos funcionários. As estratégias para lidar com a pandemia podem ainda incluir conversas em vídeo ao ar livre e "caminhadas e conversas" com profissionais de saúde mental.

No entanto, muitas destas ideias podem não ser aplicadas se os patrões não normalizarem explicitamente o seu uso durante o dia de trabalho. Se tal acontecer, dizem os especialistas, as consequências podem ser críticas para os funcionários cujas manhãs e noites são ocupadas com obrigações, como cuidar dos idosos ou crianças.

Mary-Alice Vuicic é diretora de Recursos Humanos da multinacional Thomson Reuters e conta que a empresa expandiu os seus recursos de saúde mental e bem-estar. "Queremos tornar o acesso mais fácil para as pessoas em todo o mundo", diz.

Outra opção imediata para os empregadores que quiserem facilitar o regresso dos funcionários ao trabalho é garantir que estes tiram todas as férias que acumularam. Uma vez que estiveram presos em casa, sem lugares onde ir e nada para fazer, as pessoas que tiveram a sorte de manter o emprego em 2020, acumularam muitos dias de férias.

 

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