"Olá, estou ausente da redação…" As mensagens automáticas do e-mail profissional começam quase todas da mesma maneira. Mas e se o famoso out of the office fosse a norma? Uma pesquisa da Universidade de Sydney, Austrália, que reuniu 47.264 trabalhadores, descobriu que estes seriam mais felizes e mais produtivos se tivessem escritórios particulares. Dar flexibilidade e permitir que os funcionários trabalhem em casa deveria então ser a estratégia de management mais inteligente de todas – porque, convenhamos, oferecer um escritório particular é economicamente inviável. E são muitos os bónus, já que este é um movimento de fácil implementação, reduz os custos e, com o aumento rápido e permanente da produtividade, aumentariam as receitas.
Posto isto, deve estar a perguntar a si próprio porque sai de casa todos os dias para ir trabalhar, certo? A questão é que são muito poucas as estratégias de gestão que correspondem a estes critérios, embora muitas funcionem perfeitamente numa apresentação antiquada de PowerPoint, elas deixam a desejar quando postas em prática: controlo exagerado dos funcionários e horas extrapoladas do correspondente à folha de pagamento.
A cultura empresarial fala muito em aumentar a produtividade, mas são poucas a empresas que permitem que os seus funcionários trabalhem remotamente. Em plena pandemia de coronavírus – com cada vez mais casos confirmados em Portugal – reunimos cinco boas razões para realizar as suas funções de casa, caso tal seja possível:
Começamos pelo óbvio. Permitir que os funcionários trabalhem em casa pode ser a melhor maneira de obter custos mais baixos com as instalações de um escritório open space sem comprometer a produtividade. De casa, cada um tem os seus móveis e paga as contas de água e luz.
Segundo o Bureau of Labor Statistics dos EUA, cerca de 2,8 milhões de dias úteis são perdidos a cada ano devido ao absentismo. Para algumas empresas, essa ausência pode representar uma perda de 1 milhão de dólares, cerca de 890000 de euros todos os dias.
Geralmente as pessoas são mais propensas a trabalhar de casa quando estão doentes, porque economizam o stress de andar de um alado para o outro e de interagir com outros funcionários. Numa crise epidémica do coronavírus este facto fica mais em evidência, quando alguém se mantém confinado não transmite doenças ou germes aos colegas de trabalho, o que pode ser uma grande batalha em escritórios open space, onde um único espirro pode lançar milhões de gotículas no ar.
O custo da rotatividade de funcionários é grande. Calcula-se que, a depender do recrutamento, o valor da contratação e do treino de um substituto após a saída de um trabalhador pode custar até dois anos completos de salário desse funcionário. Num estudo publicado pela Harvard Business Review, os funcionários do call center do site de viagens chinês Ctrip tiveram a opção de se voluntariar para trabalhar em casa durante nove meses. A empresa dividiu-se pela metade, e o estudo concluiu que os funcionários que trabalharam de casa relataram uma satisfação no trabalho muito maior e "a taxa de rotatividade caiu para metade", afirma o professor da Universidade de Stanford Nicholas Bloom.
Além disso, o trabalho remoto pode facilitar à equipa dos Recursos Humanos o recrutamento de novos funcionários. Se pensar que os jovens candidatos às vagas são Millennials ou da geração Y (nascidos entre 1981 – 1996), a tarefa será mais fácil – já que, de acordo com um estudo de 2018 da Universidade de Akron, em Ohio, nos Estados Unidos da América, "41% deles afirmam que preferem a comunicação via eletrónica, em vez de pessoalmente ou por telefone."
Outra pesquisa divulgada pela Gallup em fevereiro deste ano constatou consistentemente que " horários flexíveis e oportunidades de trabalhar em casa desempenham um papel importante na decisão de um funcionário de aceitar ou deixar um emprego", escreveu a agência de pesquisas num relatório sobre essas e outras descobertas no local de trabalho.
Dadas as evidências, mais funcionários norte-americanos estão a trabalhar remotamente e estão a fazê-lo por períodos mais longos. No ano passado, segundo uma pesquisa com mais de 15000 adultos, 43% deles passaram pelo menos algum tempo a trabalhar longe do escritório, o que representa um aumento de 4% desde 2012. "Os funcionários estão a pressionar as empresas a quebrar as estruturas e políticas estabelecidas há muito tempo que tradicionalmente influenciam os seus dias de trabalho", lê-se no estudo da Gallup, uma empresa de pesquisa.
As despesas para além do ordenado são um desafio para as pequenas empresas, consumindo até 30% da receita bruta de e mais (muito mais) se se tratar de uma startup ou pequena empresa. Trabalhar em casa elimina muitas horas e custos por semana gastos com deslocamento e alimentação.
No mesmo artigo da Harvard Business Review mencionado em cima, concluiu-se que "as pessoas que trabalharam em casa completaram 13,5% mais chamadas [do call center] do que a equipa do escritório – o que significa que a empresa recebeu quase um dia de trabalho extra por semana [com estas pessoas]", ressalta Nicholas Bloom.
Já no estudo da Gallup, descobriu-se que os funcionários que trabalham em casa três a quatro dias por semana têm 33% mais hipóteses de se "sentirem envolvidos" e são 15% menos propensos a sentirem-se "não envolvidos" do que os funcionários que reportam ao escritório a cada dia. "Apesar do tempo adicional longe de gerentes e dos colegas de trabalho, é provável que todos os funcionários concordem firmemente que alguém no trabalho se preocupa com eles como pessoa, incentiva o seu desenvolvimento e conversou com eles sobre o seu progresso", lê-se no relatório.
A maioria das indústrias, no entanto, ainda não adotou a ideia. Os mais propensos a aceitarem o trabalho remoto são as indústrias financeira, de seguros e imobiliária. Nessas áreas, e entre 2012 e 2016, os funcionários que trabalham remotamente de vez em quando aumentou pelo menos 8% e totaliza já 47% de todos os colaboradores. Recorde que, em 2013, a Yahoo recebeu muita atenção na imprensa quando procurou trazer de volta aos escritórios os seus trabalhadores. Em outubro do ano passado, a Aetna, gigante dos seguros conhecida por adotar trabalho remoto, fez o mesmo.