Os sensores do drone vão avaliar a luz do sol refletida pelo gelo. Essa medição, conhecida como albedo de superfície, é a chave para entender que quantidade de radiação solar é absorvida pela Terra e que quantidade é refletida de volta para a atmosfera. É um dos quebra-cabeças científicos que podem ajudar a prever a rapidez com que o gelo marinho derreterá.
Mas operar um drone sobre os confins do extremo norte do planeta não é uma tarefa simples. Pirazzini e uma colega, Henna-Reetta Hannula, passaram meses a treinar a operação no Instituto Meteorológico da Finlândia, onde ambas fazem parte da equipa como cientistas. Os técnicos projetaram e construíram um sofisticado sistema de navegação adaptado a condições climáticas extremas.
Os cientistas e os seus drones uniram-se à maior expedição ao Ártico da história a bordo do Polarstern, um navio quebra-gelo que transporta dezenas de investigadores numa missão de um ano. A dupla também leva um drone menor que poderá voar dentro da sua pequena cabine, a única hipótese que terão para treinar nas semanas de navegação antes de finalmente pisarem no gelo.
Imediatamente, Pirazzini encontrou os mesmos problemas que afetaram os exploradores do Ártico durante dois séculos: condições de navegação traiçoeiras e tecnologia que falha em ambientes muito frios.
Drones e helicópteros têm problemas nas proximidades do Polo Norte porque os satélites de posicionamento global refletem pequenas incertezas nas latitudes extremas do norte. Isso cria uma confusão crescente para a navegação quanto mais perto um piloto chega do Polo Norte, e os drones de Pirazzini estariam a operar mais perto do que qualquer outro.
A problemática da navegação fez perder um drone no início da expedição. O drone descolou da nave, seguiu numa direção completamente descontrolada e caiu. Pirazzini estava com medo de que o seu drone de medição de albedo fosse a próxima vítima, e os seus receios foram confirmados assim que pisou no gelo. O sistema de navegação no drone principal não estava a funcionar, o que significa que ela e Hannula precisariam de calcular manualmente as distâncias, direção, altitude e velocidade do vento.
"As condições de congelamento eram o nosso principal inimigo, não só para o gelo nas hélices" dos rotores do drone, "mas nos nossos dedos", disse Pirazzini por telefone via satélite durante a viagem de regresso do Polarstern no início deste mês. "É preciso movimentos pequenos e muito delicados para operar o drone", afirmou. "Quando a mão está a congelar, perdemos a sensibilidade, os dedos não conseguem mais controlar os recursos".
Mas as duas cientistas conseguiram realizar 18 voos em três semanas. As medições de albedo capturadas por Pirazzini, de 49 anos, e por Hannula, 33, serão agora analisadas como parte de um esforço multinacional para entender como a subida das temperaturas está a afetar o Ártico - uma corrida científica contra as próprias alterações climáticas.