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Portugal Masters: Golfe, relógios e pancadas no Algarve

A MUST esteve no Portugal Masters para assistir ao vivo ao maior torneio de golfe em Portugal, e falar com um dos grandes jogadores ainda em atividade.

07 de novembro de 2019 | Bruno Lobo
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A edição de 2019 do Portugal Masters foi ganha por Steven Brown, elevando para sete o número de vitórias britânicas em 13 edições do torneio português. À partida Brown estava longe de ser considerado um dos favoritos à vitória final, e nunca tinha sequer ganho uma prova com esta importância, mas no golfe estes inesperados tendem a acontecer com mais frequência do que noutros desportos – essa é uma das belezas do jogo – pelo que no final era visível a sua satisfação pela prestação. Até porque teve de esperar pela última tacada do sul-africano Brandon Stone, líder do torneio, à entrada para a última volta, para poder celebrar a sua vitória. Melhor dizendo, esperou até à penúltima tacada, quando Stone falhou o birdie no buraco 18, elevando assim o seu número total de pancadas no torneio para 268, contra as 267 do inglês. Dezassete abaixo do par, ao longo dos três dias de prova.

Pares e birdies. O que é isto?

Para quem está menos familiarizado com o desporto, cada buraco tem um par, ou seja, um número esperado de tacadas para o completar. Geralmente são quatro tacadas, mas depende muito da distância entre o tee (onde se dá a tacada inicial) e o green (onde está o buraco). Em 18 buracos é normal haver vários buracos com par de três ou cinco tacadas também. Quem termina uma tacada abaixo do par faz um birdie, duas abaixo um eagle, e três abaixo um albatross, embora estes aconteçam muito raramente. 

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O Masters de Portugal tem um prize money de um milhão e meio de euros, é a única prova portuguesa do European Tour. Entrou na sua 13ª edição, e ainda não foi desta que alguém bateu o recorde da prova, estabelecido logo na ronda inaugural em 2007, pelo (também) inglês Steve Webster com uma pontuação de 25 baixo do par. Isto apesar de hoje assistirmos a uma profunda transformação no golfe, com a chegada de uma nova geração de jogadores capazes de bater regularmente a bola a distâncias muito maiores. Não porque tenham o braço mais forte naturalmente, mas porque começaram já a treinar utilizando uma série de recursos, desde radares de precisão (capazes de medir o percurso de cada tacada ao mais ínfimo pormenor), a tacos construídos em materiais compostos e inovadores, o que lhes confere alguma vantagem sobre a "velha guarda", que teve de readaptar o seu jogo para tirar partido destas invenções. "A tacada é muito diferente", explica-nos Trevor Immelman, um dos raros jogadores no torneio luso a ter vencido um "major", os quatro torneios de golfe mais importantes do mundo.

No seu caso, o Masters de Augusta, nos Estados Unidos, em 2008. Estivemos à conversa com Immelman a convite da Rolex, da qual é embaixador há 17 anos, sendo que a marca suíça é uma das principais parceiras da modalidade, patrocinando os principais torneios e circuitos de golfe, incluindo o Masters do Augusta National Golf Club, o U.S. Open e o The Open, no Reino Unido, assim como as entidades que gerem e definem as regras da modalidade, o R&A, na Escócia, a USGA e a LPGA (liga feminina) nos Estados Unidos. É também parceira de grandes jogadores, como Phil Mickelson, Annika Sörenstam ou Tiger Woods e de lendas como o trio Gary Player, Jack Nicklaus e Arnold Palmer, considerados os maiores jogadores de todo o sempre.

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Foi, aliás, Arnold Palmer quem desenhou o Don Pedro Victoria Golf Course, onde agora se joga o Portugal Masters (que a Rolex também patrocina) e onde Immelman está prestes a estrear-se em competição. Quando venceu Augusta cumpriu "um sonho de criança" e embora hoje continue a jogar a nível profissional, já não joga ao mais alto nível – não ao ponto de disputar um major, pelo menos, embora se esteja a converter numa espécie estrela de televisão, como comentador do jogo para a cadeia americana CBS. Não joga de relógio no pulso – quase nenhum jogador profissional o faz – porque um relógio incomoda, não porque os mecanismos não aguentem a pancada, como alguns sugerem. Já no dia-a-dia não dispensa um dos seus Rolex: "tenho o privilégio de ter já algumas peças icónicas, os meus filhos vão ter muita sorte com esta herança".  

Veio a Portugal com uma confiança moderada quanto às suas possibilidades: "joguei bem no Open de França, a semana passada, onde fiquei à porta do top ten, por isso vamos ver...", mas acrescenta (em brincadeira) que um jogador de golfe tem de ter "uma memória muito fraca, porque 90 % das nossas vidas são passadas a perder. Ou isso ou muita determinação e capacidade para aceitar a derrota", acrescenta, comparando o seu desporto a outros onde o mesmo não acontece: "nos desportos de equipa, as melhores equipas congregam os melhores jogadores, e assim ganham a maioria dos jogos, e mesmo os outros desportos individuais não têm o sistema de handicap como nós (que coloca jogadores de diferentes níveis em pé de igualdade, para aumentar a competitividade) ". É por isso, explica, que a maioria dos jogadores no circuito profissional são bastante fechados: "Foi a forma que a maioria deles arranjou para lidar com a situação." Felizmente não é o seu caso. Continua: "Apesar disso, não se pode dizer que o golfe seja um jogo mental, porque dizê-lo minimiza todo o trabalho e esforço necessários para se ser bom. No meu caso, por exemplo, dedico-me diariamente a este desporto desde os cinco anos de idade". 

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Em Portugal Trevor Immelman não consegui repetir o feito do Open de França, e terminou o torneio no 63º lugar, com apenas uma tacada abaixo do par ao longo dos três dias de competição. Não foi o resultado que desejava, mas esperemos que não procure "esquecer" o torneio português, porque por cá deixou uma excelente impressão.

 

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