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Opinião. Lionel Messi, o maior da História

Com a derrota da França na final do Mundial do Catar, Lionel Messi colocou um ponto final na maior especulação da última década. Pelé, Maradona e Cristiano Ronaldo são agora meros subalternos do homem que se coroou o melhor da História do futebol, um semideus acima dos meros mortais. Ele é o melhor, o GOAT, o inigualável, o melhor futebolista de todos os tempos.

Foto: Getty Images
19 de dezembro de 2022 | Áureo Soares
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O futebol, porque do domínio das paixões, tem necessariamente qualquer coisa de infantil, de adolescente, capaz de levar fãs e jogadores, mesmo os mais cerebrais, aos atos mais irracionais, mais cheios de sentimento ou de pesar. 

Lionel Andrés Messi Cuccittini (Rosário, Argentina, 24 de junho de 1987), o pequeno argentino a quem um dia chamaram La Pulga, franzino e irrequieto, é o epíteto disso mesmo, de uma infantilidade quase esquizofrénica: em campo, ele é um rapazinho bem-comportado, o aluno que tira vintes a todas as disciplinas, irrita a competição e nos deixa boquiabertos com a simplicidade com que atinge a glória. Quando perguntou a um "gigante" holandês, durante a flash interview após a partida dos quartos de final, "Qué miras, bobo?", Lionel Messi levou-nos de volta aos bancos da primária – "para onde é que estás a olhar?", "quem diz é quem é". É assim que se sente o adepto do futebol puro, infantil, jovial, quando o vê em campo. Messi é sobranceiro, levitando entre rivais, soltando suspiros quando a bola falha o alvo e murros na mesa quando o colega não atinge a sua superior inteligência e desperdiça um passe ou falha uma desmarcação. 

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Ao tornar-se campeão mundial pela Argentina, Messi tornou-se sem margem para dúvidas o melhor jogador da história do futebol. Já sabíamos que era maior do que todos os outros, mas, ao levantar a taça, encerrou definitivamente a disputa. Ele é Maradona, com mais longevidade, é Pelé, com adversários mais competentes, é Cristiano, com menos músculos e horas no ginásio. Ao contrário de Ronaldo, que nos mostra o quão complicado é jogar futebol, Messi faz-nos crer que também nós poderíamos fazer o que ele faz. Ao contrário de Pelé, as suas piruetas e habilidades servem apenas o propósito do golo. São a arte ao serviço. E enquanto o "bandido" El Pibe levava a bola na sua cantiga, Messi compõe uma sinfonia. Eis a beleza das coisas, o talento de Lionel é natural e displicente, existe e não damos por ele, é soberbo mas não desperdiçado. 

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Na final do Mundial do Qatar, sus muchachos derrotaram, num jogo de lágrimas e de suor, uma França que conta com outro dos meros mortais, Kylian Mbappé, autor de um hat-trick que não foi suficiente para bater os argentinos. Foi apenas a segunda vez na história que um futebolista assinou três golos numa final. Desta vez, perdendo. Quando do outro lado está Messi, o extraordinário não chega. Durante anos, observámos as contendas semanais entre o 10 do Barcelona e Cristiano, o 7 do Real Madrid, numa disputa que elevou Ronaldo à estratosfera, golo a golo, bis a bis, hat-trick a hat-trick sem alguma vez atingir a classe, os números e o mito de Messi. Uma competição de recordes: quem tem mais golos nas ligas domésticas, na Liga dos Campeões, pela Seleção, mais golos de livre direto, de grande penalidade, mais eleições de MVP (Most Valuable Player). A saudável competição entre o português e o argentino, dada por terminada, deixa-nos um legado inigualável. Assistimos à história a ser feita em direto nos canais de desporto ou em estádios espalhados Europa e Mundo fora e vimos o contraste entre o bad boy Cristiano, esbracejando, cerrando os punhos, sempre em busca do prejuízo, a tornar-se imortal ele mesmo ao perseguir o argentino. E vimos o argentino sempre calmo, cristalino, reencarnação em campo de um Maradona capaz do impossível. "O mais humano dos deuses," escreveu o uruguaio Eduardo Galeano sobre Diego. Que dizer, então, de Messi, cujo talento não foi desperdiçado entre pecados? Que o mito de Messi é precisamente o de não ser sequer capaz de ser humano. 

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Duas décadas no topo 

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Jogam-se os 74 minutos da partida de inauguração do Estádio do Dragão, no Porto, entre a equipa da casa e o FC Barcelona. Estamos em 2003, a um ano da realização do Euro 2004, organizado por Portugal. Na sequência de um lançamento de linha lateral, o árbitro interrompe o jogo para uma substituição na equipa catalã. Com o banal número 14 nas costas, entra pela primeira vez na equipa de seniores um miúdo, com apenas 16 anos e 7 dias de idade. Passaria quase despercebido, num jogo com pouca história, mas foi ali, no Porto, que Lionel Messi fez a sua estreia pela equipa que o lançaria à ribalta. 

Lionel Messi nasceu em Rosário, Argentina. Como em todos outros mitos do futebol, deu cedo nas vistas, e teve na avó Celia a figura que o impulsionou a dar os primeiros passos no mundo do futebol. De corpo franzino, foi diagnosticado como tendo deficiência de hormona de crescimento. Iniciou-se no Newel’s Old Boys e, quase a passar para os rivais do River Plate, acabou por ser observado pelo caçador de talentos do FC Barcelona Carles Rexach. O FC Barcelona pagaria os tratamentos hormonais com cujos custos a família de Messi se debatia e o rapaz aterraria na capital da Catalunha. 15 a 20cm ganhos, estreava-se aos 17 anos na Liga e, aos 21, era já uma das estrelas da equipa-maravilha do treinador Pep Guardiola. 

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Depois, escreveu uma das páginas mais bonitas do futebol e do desporto. Com os médios fantasistas Xavi e Iniesta, formou um dos mais poderosos triângulos criativos do futebol moderno e, aos poucos, relegou para segundo plano todos os companheiros de ataque que o treinador colocava a seu lado, fossem eles Samuel Eto’o, um dos melhores africanos de sempre, o egotista sueco Zlatan Ibrahimovic ou o finalizador francês Thierry Henry. A partir de 2015, com Suarez e Neymar formou o trio de ataque MSN, que competia com o BBC (Bale, Benzema, Cristiano) do Real Madrid, quase sempre com vantagem catalã. Com o FC Barcelona, ganhou tudo o que havia a ganhar. A mudança, em agosto de 2021, para o Paris Saint-Germain levá-lo-ia ao encontro de Kylian Mbappé, o prodígio francês que derrotou nesta final do mundial do Catar. 

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Foto: @antonelaroccuzzo

No palmarés tem dez ligas espanholas, quatro ligas dos campeões e sete bolas de ouro – é possível que lhe junte uma oitava. Mas os troféus, inúmeros, e os recordes quase incontáveis, ficam sempre em segundo plano. O que fica de Messi são as suas exibições de luxo, os passes nunca vistos, os golos "impossíveis", que seriam sempre impossíveis com ou sem troféus no palmarés. Mas eles existem e com o Mundial de 2022, as contas estão acertadas, não há contenda. Lionel Messi, o argentino de 1,70m e pés de veludo, inscreveu para sempre o nome no primeiro lugar do pódio. 

Este é o hiperbólico Messi, o Picasso, o Mozart, o Shakespeare do desporto-rei. O GOAT – greatest of all time.
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