O cinema como meio de revolução: a premissa é, no fundo, essa. A revolução pode ser artística, social, científica, religiosa, entre outras, mas, no caso de Portugal, há uma particularmente importante: a Revolução dos Cravos. Há 50 anos, a 25 de abril, a revolução que destronou o estado ditatorial culminou numa série de outras revoluções e expôs a cultura que tinha vindo a ser feita em segredo.
A Arte é uma reflexão dos seus tempos e a 7ª Arte não é exceção. Segundo o MoMa, o cinema português fazia "cinema híbrido" quando este ainda não era habitual, através de ferramentas de documentário para criar ficção (e vice-versa). Assim, relacionava a vida quotidiana com as condições políticas que limitavam o dia-a-dia. Ainda durante o Estado Novo, já Manoel Oliveira explorava o Cinema Novo feito no estrangeiro. Depois do 25 de abril, este movimento passou a centrar-se nas comunidades operárias e as suas novas condições de vida, atraindo até cineastas estrangeiros, como é o caso de Robert Kramer e Thomas Harlan. O MoMa acrescenta que "esta série traz à luz uma tradição estética em que fazer filmes - e vê-los - se torna um gesto político e existencial e cria um espaço de resistência às forças homogéneas e opressivas que nos constrangem nas nossas vidas". Além do espírito da revolução, nos seguintes 50 anos e até à atualidade, realizadores como João César Monteiro, António Reis e Margarida Cordeiro através dos seus filmes e documentários influenciaram cineastas como Manuela Serra e António Campos que, por sua vez, influenciaram realizadores como João Pedro Rodrigues, Pedro Costa e Miguel Gomes e assim continuarão. Através da riqueza da sua história, este ciclo mostra aos novos talentos que têm muito por onde se inspirar e manter esta arte viva, quiçá um dia serão também exibidos no MoMa.
Partindo do pré e pós-revolução, esta série conta a história do cinema português através de obras cinemáticas ilustrativas, por vezes com sessões introduzidas por críticos, cineastas e jornalistas. O curador desta série é o curador assistente do Departamento de Cinema do MoMa, o português Francisco Valente. Também membro da Federação Internacional dos Arquivos de Filmes (FIAF), o museu colabora com a Cinemateca Portuguesa, os filmes exibidos contarão com novas cópias digitalizadas, como é o caso do filme Xavier realizado por Manuel Mozos, em 1991, e cópias nos seus suportes originais, do arquivo da Cinemateca. O diretor da Cinemateca Portuguesa foi convidado pelo museu para a abertura do ciclo.
Num programa constituído por 40 filmes, em que muitos não tiveram a visibilidade merecida na época, quanto mais internacional, esta mostra abre as portas a novos espectadores a fim de revisitarem obras históricas do cinema português.