Para quem se preocupava com o movimento delirante dos polegares nos smartphones e já imaginava que os bisnetos das crianças de hoje nasceriam com dedos digitais, a tecnologia volta a surpreender. Não é por acaso que a sabedoria popular – e até a filosofia da Grécia Antiga – nos diz que não vale a pena pensar muito no dia de amanhã. Mas a verdade é que já é possível fazer scroll com a língua em vez de com os polegares. A Augmental, uma startup norte-americana cujo foco é melhorar a experiência dos seres humanos com os aparelhos digitais, apresentou o MouthPad^ – porquê o acento circunflexo? É um mistério –, uma inovação que permite controlar o computador, telemóvel – e todo o género de devices conectados por Bluetooth – através do movimento da língua.
Se está a pensar que esta é só a nova tolice do momento, algumas das possíveis aplicações do MouthPad^ podem surpreendê-lo. Este aparelho oferece uma alternativa valiosa a pessoas que têm lesões nas mãos, pessoas amputadas, ou pessoas tetraplégicas. No comunicado de lançamento deste produto, a Augmental sublinha isso mesmo: "Embora as tecnologias de rastreamento ocular, assistência por voz e até dos joysticks controlados com lábios ofereçam acesso mãos-livres ao mundo digital, os utilizadores ficam, frequentemente, frustrados, cansados ou com danos nos dentes. Há uma clara necessidade de mais inovação tecnológica no que diz respeito à forma como controlamos os dispositivos digitais atuais e futuros sem as nossas mãos."
De acordo com a empresa, para além de pessoas com problemas de mobilidade, o MouthPad^ pode ajudar profissionais com trabalhos intensos e de grande complexidade manual, como é o caso de cirurgiões, astronautas, cientistas laboratoriais e, claro, jogadores de computador.
Como funciona, afinal? O MouthPad^ converte a posição e a pressão da língua do utilizador em ações de cursor, processando os sinais por meio de um algoritmo. Os comandos são então enviados via Bluetooth para o dispositivo conectado e traduzidos em movimentos e cliques de cursor, permitindo ao utilizador fazer de tudo, desde enviar um e-mail ou acender as luzes, até editar uma fotografia ou jogar um videogame.
Em comunicado, a empresa explica ainda que cada dispositivo é customizado para cada utilizador através de um processo de digitalização intraoral que gera um modelo 3D da boca. Com base neste modelo, um dispositivo é desenhado e impresso com resina dentária. O aparelho tem uma placa de circuito flexível com sensores, uma unidade de processamento e um rádio Bluetooth – tudo selado num invólucro estanque para proteger os componentes eletrónicos da saliva. O MouthPad^ é, na prática, uma espécia de placa transparente que encaixa nos dentes e é colocada debaixo da língua e é esta – que se mantém livre dentro da boca – que, com os seus movimentos, dá ordens ao processador. E é possível falar enquanto se usa este dispositivo, embora haja uma curva de aprendizagem.
Para quem estiver interessado, a lista de espera está aberta a inscrições e os dispositivos serão despachados em função da proximidade de São Francisco e da necessidade dos compradores. A empresa prevê começar a entregar o MouthPad^ a compradores fora da Califórnia a partir da primavera. Embora não seja possível saber o preço deste dispositivo no site da Augmental, revistas do sector indicam que a versão beta custará certa de mil dólares.