Esta manhã, enquanto me preparava para começar a escrever este texto, abro o Facebook e vejo o "status" de uma pessoa conhecida que escrevia o seguinte: "Muito trabalho, muitas tentativas e erro, hoje posso dizer que já tenho o meu negócio". E mantinha: "Se tens um sonho não desistas, demora tempo a maioria das vezes, mas quem persiste chega lá!!". Os pontos de exclamação eram exatamente estes, o que, em linguagem pontual, traduzem a alegria e a exultação de quem está realmente satisfeito com aquilo que defende — e, certamente, com aquilo que faz numa óptica profissional. Em conversa com três empresários que gerem os seus próprios negócios, e balanço feito, a conclusão é que sim, vale a pena cada um dos riscos, as dores de cabeça e mesmo os cabelos brancos — até porque, convenhamos, quem garantiu que trabalhar sob a alçada de outrem nos dispensaria destas mesmas consequências? No final, o que se entende é que, como em tudo nesta vida, não há bela sem senão. Nem tudo é um mar de rosas quando se trabalha por conta própria, mas, nas palavras de quem o faz, o esforço merece toda a pena do mundo.
Acreditar a 110% naquilo que se vai construir (ou morrer na praia a tentar fazê-lo)
"Aquilo que considero o mais importante de tudo é o acreditar. Porque o acreditar põe o corpo e a mente alinhados no sentido de fazer acontecer. Não havendo dúvidas, coloca-se muito mais, e melhor, energia. Quando se põe alguma dúvida as coisas começam logo a descarrilar, pois é a pessoa a primeira a não acreditar — ou a duvidar — daquilo que está a tentar construir ou a querer vender. É fundamental a ideia ser boa — uma pessoa tem de saber validar as ideias que tem para saber se fazem sentido, se há mercado, se há público… Que tipo de estratégia é necessária para se conseguir alcançar esse mercado e esse público. Esta base de marketing é essencial. Há muitos projectos que, pelo facto das pessoas envolvidas não acreditarem a 100% ou mesmo a 110% as coisas não são feitas com esse amor logo acabam por morrer".
Tiago Lucena, co-fundador da Shoe Clinic e co-autor dos livros A Senhora do Monte
24 horas por dia, sempre ligado
"Só se consegue ter a tal dedicação (mais do que necessária) quando se gosta mesmo da ideia. Gostando e acreditando. Essa é a energia que vai fazer a pessoa estar 24 horas por dia disponível, anos a fio se necessário, porque a pessoa nunca se vai cansar. Não é em vão que ouvimos a expressão: ‘Faz o que gostas e nunca terás de trabalhar um único dia da tua vida’".
Tiago Lucena, co-fundador da Shoe Clinic e co-autor dos livros A Senhora do Monte
As férias são quando um homem quiser
"Não contabilizar os dias de férias e poder gerir o nosso horário, mesmo que isso signifique responder a e-mails na casa de banho ou a zooms enquanto se leva um filho à escola".
Mariana Duarte Silva, fundadora do Village Underground Lisboa
"Ser-se o próprio patrão, mandar em si mesmo. Sou eu que decido quando tiro as minhas férias. O mesmo para os descontos que me dou, para as horas extraordinárias…".
Tiago Lucena, co-fundador da Shoe Clinic e co-autor dos livros A Senhora do Monte
Porém…
"Acabaram-se, para sempre, as férias em que conseguimos desligar completamente do trabalho".
Alexandre Vinent, owner e gerente da Slou Lisbon
"Ter de trabalhar mesmo durante as supostas férias".
Mariana Duarte Silva, fundadora do Village Underground Lisboa
Reuniões inúteis nunca mais
"Não ter de ir a reuniões que são uma perda de tempo. Aprendi que as reuniões que supostamente demorariam uma hora têm de demorar 30 minutos e que as de 30 minutos têm de demorar no máximo 15 minutos — li isto num livro e fez-me todo o sentido. Aplico esta máxima em todas [as reuniões]".
Mariana Duarte Silva, fundadora do Village Underground Lisboa
Quem manda aqui sou eu
"Não ter de aturar comportamentos abusivos ou com os quais não me identifico — deixei mesmo de trabalhar com pessoas tóxicas, mal educadas ou simplesmente, pouco inteligentes".
Mariana Duarte Silva, fundadora do Village Underground Lisboa
"Ser-se o próprio patrão, mandar em mim mesmo. Ao ser-se o próprio patrão também não se pode pagar, por vezes, o salário que se desejaria. O negócio tem de se gerir e, muitas vezes, passa-se anos sem se tirar dinheiro. Tudo para que o negócio se desenvolva e cresça. Há uma aposta financeira que nem sempre é fácil".
Tiago Lucena, co-fundador da Shoe Clinic e co-autor dos livros A Senhora do Monte
O trabalho como extensão da personalidade
"As pessoas não percebem o quão fácil é ir-se atrás dos sonhos. Não é tão difícil como se pensa. A maioria prende-se às ilusões de segurança de um trabalho em escritório, de uma carreira, e isso pode sempre acabar de um momento para o outro. Enquanto quando se tem a sua própria ideia, nunca se está a trabalhar (mesmo estando-se sempre a trabalhar)".
Tiago Lucena, co-fundador da Shoe Clinic e co-autor dos livros A Senhora do Monte
"Gosto da ideia de que a minha empresa é parte da minha personalidade e, por isso, é gerida com base nos meus valores e a mesma é melhorada a cada dia que eu própria evoluo e aprendo. Posso moldá-la de acordo com aquilo em que acredito. Tenho essa liberdade. E, por isso, tenho também a enorme responsabilidade de criar um ambiente de trabalho digno, que contribua positivamente para as pessoas e que seja, acima de tudo, divertido".
Mariana Duarte Silva, fundadora do Village Underground Lisboa
"A possibilidade de se criar um produto e/ou um serviço à nossa imagem é único… Com o seu sucesso vem a devida gratificação, o tal ’accomplishment’".
Alexandre Vinent, owner e gerente da Slou Lisbon
Disciplina e responsabilidade
"O trabalho em casa e/ou por conta própria exigem muita disciplina. É mais fácil, muitas vezes, ter a figura do patrão do escritório que ordena que se pratique determinados horários. Ter um patrão obriga a que se seja mais responsável do que quando se é patrão de si próprio. Porém, quando se encontra essa disciplina também se fica muito mais forte psicologicamente".
Tiago Lucena, co-fundador da Shoe Clinic e co-autor dos livros A Senhora do Monte
"Responsabilidade, responsabilidade, responsabilidade. Nunca se poder dizer ‘a culpa não é minha’ (pois é sempre). E ainda o peso da sustentabilidade financeira da empresa (mais complicado no caso do VU por ser um negócio na área cultural, underground e independente)".
Mariana Duarte Silva, fundadora do Village Underground Lisboa
O país agradece
"Poder dar/prestar uma mais valia para a comunidade em que estamos (cidade/país)".
Alexandre Vinent, owner e gerente da Slou Lisbon