Por vezes, num mar de candidaturas a um emprego, é difícil chamar a atenção dos recrutadores e, consequentemente, passar para o passo seguinte: a entrevista. Contudo, consegui-lo pode tornar-se ainda mais complicado quando deixamos passar erros ou gralhas no nosso currículo. Não somos nós quem o diz. Estas são as conclusões de investigadores belgas, publicadas no PLOS One.
No estudo Costly mistakes: Why and when spelling errors in resumes jeopardise interview chances (numa tradução livre, Erros de custo: Porquê e quando os erros ortográficos em currículos comprometem as possibilidades de seguir para uma entrevista), é apontado que, por comparação a CVs totalmente corretos, os que incluem pelo menos cinco imprecisões diminuem a probabilidade de os trabalhadores serem convocados para uma entrevista em 18,5%. Mesmo que deixe passar "apenas" duas gralhas, as hipóteses de ser chamado são reduzidas em 7,3%.
Porém, estes resultados não são iguais para mulheres e homens ou mesmo para pessoas com graus de formação ou experiências diferentes. De acordo com os investigadores, o género feminino é mais penalizado, porque “os recrutadores podem interpretar esses erros ortográficos como uma violação das normas de comportamento", lê-se no estudo.
Já no que diz respeito ao nível de escolaridade, chega-se à conclusão de que candidatos com mais formação - por exemplo advogados, engenheiros informáticos ou gestores - têm uma maior probabilidade de serem entrevistados, mesmo que o seu currículo tenha o mesmo número de erros que o de alguém com menos estudos. Isto pode ser explicado pela perceção de que "a inteligência está relacionada com a formação académica".
Também existem diferenças entre quem adiciona ao currículo as suas experiências de voluntariado face a quem não o integra. Foram encontradas evidências de que os candidatos com esta atividade extra-curricular no CV poderão seguir para a fase seguinte do processo, mesmo que tenham cinco erros. Por trás disto, estará a ideia de que "o voluntariado é um sinal de características interpessoais de confiança", que superam a questão da ortografia.
Estas conclusões foram tiradas com base na revisão de 1.335 currículos, por 445 recrutadores da região flamenga da Bélgica.
Resultados semelhantes haviam sido colocados em cima da mesa em análises anteriores, mas os investigadores alegam que o seu estudo "é mais realístico", uma vez que, contrariamente aos outros, foram agora analisados currículos com poucos erros e não apenas com um número substancial de incorreções.