Sentir fome é humano. Tal como é ter apetite. Ou mesmo vários tipos de apetite. De acordo com o dicionário, o termo apetite refere-se ao "desejo de satisfazer um gozo ou uma necessidade"; à "vontade de comer, ou apetência"; e, por último, ao "desejo sexual, concupiscência, volúpia". Dúvidas houvesse, fica desde já esclarecido que a palavra apetite tão depressa chega à mesa como à cama. Ter apetite é um hábito humano: já Eva o havia sentido e tratava-se apenas de uma maçã e, sublinhe-se, é um hábito bastante saudável, apesar de tudo o que foi dito relativamente à sua falta de controlo em, efetivamente, comer aquela maçã. Na realidade, comida e sexo são necessidades básicas e essenciais para a sobrevivência do homem enquanto espécie. É por isso que a Natureza nos recompensa com o prazer que advém dessas duas primordialidades. Estimulando-nos e, dessa forma, certificando-se de que sobrevivemos e de que mantemos a espécie alive and kicking ainda que, hoje, não nos estejamos a alimentar apenas por uma questão de sobrevivência, nem tão-pouco a ter relações sexuais somente com a reprodução em vista. Biologia à parte, a relação entre o sexo e a comida vai muito mais além. Senão vejamos… Sempre ouvimos dizer que o caminho para se conquistar um homem era através do estômago - logo, da comida. Por outro lado e ainda que não ouçamos tanto dizer, todas as mulheres sabem que bom sexo é, idem, idem, aspas aspas, meio caminho andado para deixar um homem completamente rendido. E, claro, o mesmo se aplica às mulheres, já que, feminismos à parte, nos dias que correm uma mulher reclama o seu direito ao bom sexo de forma tão gritante quanto um homem o faz (e sempre fez). Mas isto era mesmo só um aparte. Depois, quem não adora ver um homem a cozinhar? De avental, sem avental, com roupa, sem roupa? Quantas noites de sexo ardente não começaram na cozinha, com apenas dois copos de um bom vinho e de dois corpos ávidos de tanto desejo sexual? Convenhamos, visto este cenário, como tantas vezes nos mostram os filmes, é muita sensualidade junta. A sexóloga e psicóloga Vânia Beliz tem boas notícias a dar aos portugueses: "O comportamento alimentar pode ser um forte impulsionador de intimidade e nós, enquanto portugueses, somos favorecidos quanto a isso já que temos muito a cultura da mesa. Socializamos muito à volta do tema ‘comida’. Os namoros, por exemplo, vivem muito à base dos jantares fora de casa. Simples gestos, como quando nos estamos a arranjar para um jantar romântico, ou quando dividimos uma sobremesa com a cara-metade, entre outros, são atos que contribuem, em larga escala, para uma vida íntima ativa." E remata: "Os sírios, por exemplo, quando comem não conversam." Na realidade, é difícil sentirmo-nos românticos com o estômago a "marcar horas". Por outro lado, quando caímos por alguém - como quem diz, quando nos apaixonamos perdidamente - , a fome pode desaparecer por completo, sendo a chama da paixão o único alimento permitido pelo estômago. Os nossos corpos produzem um estimulante químico denominado feniletilamina (PEA), bem como norepinefrina. Estes químicos fazem com que os nossos corpos se sintam alertas, vivos, empolgados, excitados, levando a que aconteça a falta de apetite. Outra forma de olhar para esta irrefutável ligação entre o sexo e a comida é relembrar que quando estamos a comer usamos todos os nossos sentidos. O gosto, obviamente, mas também a visão, o olfato, o tato e, em certos casos, a audição (o trinchar, o mastigar, o borbulhar espumoso, o suspiro de prazer pela degustação, o diálogo sensual à mesa, etc.). Essas sensações são as mesmas usadas durante o sexo. A forte conexão que existe entre os dois atos - o de comer e o ato sexual - e que se espalha a tantos níveis, seja físico ou seja emocional, é, frequentemente, evidenciada em problemas de dependência, desejos e outros mais complexos. Muitas vezes acontece comer-se apenas para compensar as frustrações ou os bloqueios sexuais, ou até entrar-se em relacionamentos insalubres devido a uma má imagem corporal ligada aos (maus) hábitos alimentares.
Comer para crer
Em Taras e Manias, o cantor popular português Marco Paulo instituía a máxima de que uma mulher perfeita teria de ser "uma lady na mesa, uma louca na cama". Ou seja, que não havia nada de tão sensual como uma mulher elegantíssima à mesa, mas que se revelasse na Hora H, e por Hora H, leia-se, hora da cama, do ato sexual. Tracey Cox, uma famosa escritora australiana na área da sexologia e dos relacionamentos, confirmaria: sim, sex matters e de que maneira. E se o tema deste artigo é a relação entre o sexo e a comida, a mesa e a cama - aliás, a boa mesa e a boa cama (isto não é uma alusão à secção do jornal Expresso) - , então vejamos alguns dos alimentos capazes de aumentar o desejo sexual. De acordo com alguns pesquisadores, basta que se cheire certos alimentos para que o efeito surja. O chocolate, por exemplo, tem sido considerado um potencial afrodisíaco - no ano de 1600 foi apontado como sendo tão poderoso que os líderes religiosos proibiram os monges e as freiras de o consumirem. Este contém a substância química responsável por criar uma sensação de euforia. E causa a libertação de dopamina que é a mesma substância química libertada durante todo o tipo de "momentos altos", incluindo o orgasmo, jogos de azar e uso de drogas. Uma ressalva: o chocolate negro contém ainda mais. Outros alimentos que também aumentam a PEA química são a maçã, o abacate, o tomate, a amêndoa e o queijo cheddar. Por outro lado, alguns alimentos podem ser considerados sensuais apenas por provocarem pensamentos eróticos. Os espargos, por exemplo, assemelham-se a certos atributos masculinos. O mesmo para as bananas que têm uma forma bastante fálica, motivo pelo qual algumas pessoas as consideram afrodisíacas. Acredita-se que as bananas sejam importantes para a produção de hormónios sexuais por conterem altos níveis de potássio e de vitamina B. Não nos esqueçamos das especiarias. O gengibre e o ginseng aumentam a circulação - em particular o ginseng, conhecido por aumentar a libido ao excitar o sistema nervoso central. A canela e a noz-moscada também são tidas como poderosas estimuladoras de sentimentos sexuais. E, já que estamos a abordar as especiarias, este pode ser um bom momento para mencionar que alguns aditivos podem melhorar o sabor do sémen: cardamomo, hortelã-pimenta, limão e abacaxi, por exemplo, enquanto o alho e a cebola são responsáveis por causar um gosto desagradável. Se está a planear uma noite romântica pode apostar numa boa garrafa de vinho com a esperança de que vai deixar a sua amante (e você) mais relaxada. Beber vinho com moderação pode servir esse propósito. Porém, beber demais pode ser problemático. Além dos resultados comummente discutidos, como equivocar-se do comportamento de alguém ou não se ser capaz de sentir muito (ou nada), o consumo excessivo de álcool pode diminuir o DHEA das mulheres que está relacionado com o desejo sexual. Nos homens diminui a testosterona que é a "espinha dorsal" do impulso sexual masculino e pode fazer a vasopressina cair, o que significa que pode tornar difícil ao homem conseguir uma ereção. Depois, há também o recurso à ideia de que a comida surge com o único propósito de servir uma brincadeira - chantilly, mel, geleia e todos os alimentos habituais a considerar. Preocupado com as calorias? Nem pensar. Afinal, o sexo conta como sendo um minitreino. Segundo um estudo de 2013, realizado pela revista científica Plos One, as mulheres queimam cerca de 69 calorias durante uma sessão de sexo de 25 minutos. Qual ginásio, qual quê. Não menos importante para a saúde sexual é manter o sistema circulatório em bom funcionamento. Uma melhor circulação pode levar a uma melhor resposta sexual em homens e em mulheres. A saúde cardíaca também é vital para a resistência, claro. Por outras palavras, se é bom para o coração é bom para a vida sexual. A American Heart Association recomenda, assim, uma dieta que inclua uma ampla variedade de frutos e de legumes, de grãos integrais, de muita fibra e de óleos saudáveis, como o azeite e o óleo de girassol, bem como de frutos do mar e de nozes, entre outros.
Por sua vez, os alimentos que podem ajudar as pessoas a melhorar a sua libido são correntemente denominados de afrodisíacos e cuja origem do termo vem de Afrodite, a antiga deusa grega do amor, da beleza e do sexo. As ostras estão entre os afrodisíacos mais famosos da história - atire a primeira pedra quem, alguma vez, comeu um molusco desta natureza sem ter este fator em mente - até porque, como já foi referido anteriormente, este alimento pode ser sugestivo do orgão sexual da mulher. Apresenta, portanto, um duplo efeito benéfico. Os seus "poderes mágicos" podem surgir devido ao elevado teor de zinco que este alimento apresenta. O zinco, por sua vez, é um mineral que o organismo necessita diariamente para muitas das suas funções vitais, como o metabolismo celular, a resistência e os níveis reguladores de testosterona - a mais importante hormona sexual masculina. As ostras apresentam, assim, mais zinco do que qualquer outro alimento por porção. Mas há outros manjares ricos neste mineral, como sejam o caranguejo, a lagosta, a carne vermelha ou os pinhões, para nomear alguns. O cardápio é, deste modo, extenso. São copiosos os alimentos que podem não só ser fonte de prazer à mesa, como infalíveis veículos de prazer na cama. Contudo, é escusado pensar que os milagres existem. Como em tudo, os bastidores da vida de um casal que quer melhorar a sua intimidade ou de pessoas que apenas queiram aumentar o desejo sexual é fulcral. Vânia Beliz explica que, na grande maioria das vezes, as queixas dos seus pacientes prendem-se com o cansaço, bem como com uma enorme falta de energia que, por sua vez, conduzem à ausência de desejo sexual (as famosas "dores de cabeça"). E, neste contexto, aquela sexóloga garante que os alimentos afrodisíacos, por si só, não chegam para que o problema seja resolvido: "Todo o comportamento alimentar tem de ser saudável, pois só isso aumenta as probabilidades de uma vida sexual sã. Este cuidado com a alimentação - e não só com os alimentos afrodisíacos - é primordial no sentido em que esta pode prevenir doenças que estão na origem das principais disfunções." E mantém: "Problemas como a diabetes e o colesterol são doenças que contribuem, fortemente, para a disfunção erétil. Um homem com mais de um metro de perímetro de barriga tem sempre uma maior probabilidade de vir a sofrer deste transtorno sexual." Adianta que, além de energia, uma boa alimentação vai evitar que se recorra a medicamentos para tudo e mais alguma coisa, os mesmos tantas vezes responsáveis pelos empecilhos desta natureza. Mesmo relativamente aos medicamentos prescritos para aquela disfunção específica, Vânia Beliz assegura: "Existe um enorme fator ‘comércio’ por detrás da verdade. Acima de tudo, são placebos que não resolvem o problema a fundo, mas nos quais as pessoas preferem acreditar." Em suma, uma boa alimentação está, para esta sexóloga, na base de uma boa e genuína performance na cama. Não descura os alimentos afrodisíacos, mas prefere adicioná-los a um menu já por si saudável. De todos os alimentos mencionados, destaca a pimenta, o ginseng, entre outras raízes muito utilizadas nas medicinas mais naturalistas: "Estas medicinas mais alternativas defendem determinadas propriedades de algumas plantas como a solução a adotar quando o intuito é a melhoria da saúde sexual reprodutiva." É experimentar para crer. Em caso de não funcionamento, há sempre qualquer coisa no frigorífico para contrabalançar os apetites. É esta a lei da compensação do universo do regozijo.