"Aaron Ramsey, retire with immediate effect" ["Aaron Ramsey, reforma-te imediatamente"], escrevia um utilizador escocês do Twitter chamado Kieran Ashton ao início da noite de segunda-feira. Minutos antes tinha saído a notícia da morte de Olivia Newton-John, estrela fugaz, porém marcante, da transição dos anos 70 para os 80 do século passado. Ninguém esquecerá a parceria entre a atriz e John Travolta no incontornável Grease (1978).
A relação entre o pedido de reforma antecipada de um futebolista galês a jogar em França e a morte de uma atriz veterana inglesa, com nacionalidade australiana, num rancho da Califórnia, pode parecer difícil de explicar. Ou difícil de aceitar, caso optemos pelo rigor e pela separação dos significados de casualidade e causalidade. Por uma questão de conveniência narrativa, deixaremos esta questão em aberto.
Eram 14h33 locais, menos uma hora em Portugal continental (menos duas nos Açores, portanto), o Toulouse FC jogava contra o Nice em Toulouse, França, quando as redes da baliza da equipa da casa balouçaram – e o mundo das celebridades estremeceu. Aaron Ramsey, jogador do Nice, acabava de marcar um golo, o que terá causado arrepios em boa parte das figuras conhecidas do planeta. Reza a lenda que, de cada vez que o centrocampista galês marca um golo, há alguém famoso que morre. E não foram precisas mais de 24 horas para que a Maldição de Ramsey se confirmasse: do outro lado do Atlântico, e num lugar voltado para o Pacífico, morria, aos 73 anos, Olivia Newton-John.
A estrela de Grease foi, segundo a contabilidade a que vários fãs de Aaron Ramsey (e de espantosas casualidades e correlações) se dedicaram, a 25.ª celebridade internacional a deixar-nos pouco tempo depois de o futebolista marcar um golo.
Os intervalos de tempo capazes de contemplar a coincidência entre um golo do galês e o desaparecimento de uma figura pública são tão flexíveis quanto as necessidades da Internet, dos autores de memes e das próprias dinâmicas das redes sociais. Afinal, não é também de imaginação e criatividade que se compõem os mitos? A morte das celebridades tanto pode ocorrer no próprio dia do golo, como aconteceu com o ator Paul Walker (30 de novembro de 2013, no dia em que Ramsey marcou ao Cardiff), como seis dias mais tarde (Stephen Hawking deixou-nos a 14 de março de 2018, tendo o futebolista marcado ao AC Milan no dia 8 anterior), ou até mais.
A própria definição de celebridade vai depender também da geografia: quem vive fora do Reino Unido vai achar a lista de vítimas coincidentes demasiado extensa, uma vez que há celebridades locais misturadas com estrelas internacionais.
No entanto, não deixa de ser espantoso que os golos de um futebolista (que nem sequer é um goleador – nem tinha de o ser, é um centrocampista, não é um avançado), que marcou cerca de 80 golos ao longo de 14 anos de carreira profissional, coincidam com a altura da morte de figuras tão célebres como Osama Bin Laden, Steve Jobs, Muammar Gaddafi, Whitney Houston, Robin Williams, David Bowie, Alan Rickman, Nancy Reagan, Roger Moore ou Burt Reynolds, entre muitos outros.
Em entrevista à Sport Magazine, Aaron Ramsey considerou o mito da maldição com o seu nome "ridículo, o rumor mais ridículo que alguma vez ouvi". Contudo, não negou a evidência: "Sim, já houve montes de ocasiões em que eu marquei e alguém morreu."
No caso improvável de Lucien Favre, treinador do Nice, nos estar a ler, fica uma sugestão técnica sincera: porque não recuar Ramsey no terreno? Com a experiência que tem, pode ser muito útil à equipa em funções mais defensivas, longe da área adversária.