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Futebol sem bola: como treinaram os jogadores durante o isolamento

Como é que os jogadores mantiveram a forma durante a quarentena? Agora que o futebol vai recomeçar, estamos prestes a descobrir…

Foto: Instagram @cristiano
02 de junho de 2020 | Bruno Lobo
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Sabe o que têm em comum Liverpool, Juventus, Sporting, Man United, a seleção norte-americana de futebol feminino, e a brasileira no masculino, Benfica, PSG e tantos outros clubes e seleções por esse mundo fora?

Por estranho que pareça a resposta são coletes GPS, da StatSports, que monitorizam a atividade física dos jogadores. Existem outros equipamentos do género, mas estes parecem ser os campeões de popularidade e todos estes clubes os utilizam nos treinos e em dias de jogos. O contributo foi ainda mais vital nestes tempos de distanciamento, permitindo aos preparadores físicos monitorizar, em tempo real e à distância, a atividade física de cada atleta com um nível de detalhe impressionante.

Saber, por exemplo, quando um jogador está a colocar demasiado peso numa das pernas em detrimento da outra, ou qual a velocidade com que um guarda redes se atira para tentar apanhar a bola. Estas, e muitas outras informações, são depois analisadas por um software próprio e conjugadas para tentar melhorar a condição física do jogador, o desempenho técnico e até prevenir lesões.

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Philippe Piat, o presidente da associação internacional dos sindicatos de jogadores veio recentemente afirmar que "não será surpreendente se surgirem muitas lesões" após esta paragem forçada. Ora, quando a maioria dos clubes nacionais já regressou aos treinos, será todo este trabalho realizado durante o confinamento a ditar se os jogadores estão, ou não, preparados para recomeçar a época.

Existe uma versão menos profissional da aplicação, que mesmo não sendo tão detalhada nem completa, oferece a possibilidade de comparar os seus resultados individuais (distâncias percorridas, picos de velocidade, etc.) com muitos ídolos do campo, como Raheem Sterling do City, ou Erik Lamela do Tottenham, que os partilham publicamente, sendo certo que, no Tottenham, o boss "precisa" quase sempre de estar um pouco mais em cima dos jogadores, ao ponto de ter quebrado as regras de distanciamento social dando um treino a três deles num parque público, em Londres. Mourinho lá acabou por admitir o erro - reconhecendo a importância das medidas de isolamento - mas nunca chegou a pedir desculpa, como muitos jornais ingleses salientaram. A questão é que a suspensão dos campeonatos e as medidas de quarentena representaram um desafio sem paralelo também para as equipas técnicas, preparadores físicos e nutricionistas, por forma a manter os jogadores fisicamente aptos à distância.

Em Inglaterra, muitos clubes da Premier League publicaram alguns desses treinos na página oficial da liga.

Clubes como Chelsea, United ou Liverpool revelaram alguns dos exercícios que enviaram aos seus jogadores para fazerem em casa, adaptados a diferentes realidades, porque nem todos os jogadores têm a sorte de ter uma casa como Lionel Messi, em Castelldefels. Onde o astro argentino usufrui de um campo de futebol privativo, court de ténis e piscina, tudo ao ar livre e descansado por saber que existe uma proibição de sobrevoo sobre a sua casa. O nosso Ronaldo - que passou boa parte da quarentena na ilha da Madeira - também não descurou o exercício, como podem imaginar, e um e outro publicaram alguns vídeos desses momentos de trabalho…em família.

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Mas outros tiverem de converter as salas de estar em ginásios, como referiu à AFP o preparador físico do Lyon, Paolo Rongoni, justificando que os "exercícios teriam de se adaptar a essa realidade, com corridas de baixa intensidade e alguma musculação". Parece ser isso que nos mostra o ex-benfiquista Raul Jimenez, atualmente no Wolves de Nuno Espírito Santo, que se exercita na sala com a esposa e o melhor amigo, o cão.

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No geral, os clubes procuraram simular a mesma carga de treino que já faziam antes, com dois picos semanais, muita bicicleta e passadeira, com o objetivo de atingir velocidades e frequências cardíacas que simulem os momentos de competição. Sempre que não era possível utilizar os dados GPS, porque os jogadores estavam dentro de portas e não havia sinal, era-lhes então pedido que enviassem as taxas de percepção de esforço (RPE), e esses dados eram depois utilizados para adequar os treinos.

Andrés Martín, preparador físico do Barcelona e doutorado em Ciências da Atividade Física e do Desporto, revelou no site do clube que os jogadores apresentavam taxas RPE mais altas do que habitualmente, factor que ele atribuía ao facto de treinaram indoors, e o calor não dissipar da mesma forma como no exterior, mas também à carga emocional de estarem confinados e não terem um objetivo tão palpável para esse esforço.

Outra grande preocupação foi obviamente a dieta dos jogadores, que neste período gastaram menos calorias. Os clubes criaram planos de alimentação para minimizar o aumento de massa gorda e alguns, especialmente em Espanha e Itália, criaram serviços de entrega ao domicílio, levando a comida a casa dos atletas. A medida tinha dois objetivos: assegurar uma alimentação correta e procurar conter os riscos de contágio.

E assim chegámos a este momento, em que os jogadores já só aguardam luz verde para colocarem a bola a rolar sobre a relva e mostrarem aquilo que sabem fazer melhor. Nalguns casos podemos até vir a ser surpreendidos com novas técnicas, se não o que pensar deste treino a imitar movimentos animais do brasileiro Dani Alves?

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